Sinopse HarperCollins: O terror pode estar presente em qualquer lugar. Ele pode se esconder em uma foto que guarda uma lembrança querida, em uma única pessoa em um shopping lotado, nas nuvens e seus diversos e estranhos formatos e até mesmo em algo tão pequeno e insignificante quanto uma agulha. Nesta coletânea de histórias inéditas, Joe Hill, autor best-seller do The New York Times, nos faz perceber que a presença do horror não está apenas ligada a clichês como lugares escuros, casas velhas e monstros além da imaginação, mas que, mesmo em um belo dia de sol em meio a uma multidão, você nunca está verdadeiramente a salvo (Resenha: Tempo Estranho – Joe Hill)
Opinião: Definitivamente o terror pode estar em qualquer lugar. E neste caso não estou falando do senso comum que traduz terror para algo assustador que geralmente envolve o sobrenatural ou entidades macabras. Falo de terror no sentido de algo que causa pânico, que está além de nosso alcance compreender ou modificar, que mexe com nosso sistema nervoso provocando uma paralisia de ações. É o terror de se ver impotente diante de algo que vai mudar terrivelmente os rumos da nossa vida.
O terror pode nascer a partir do momento em que um cidadão aparentemente de bem sente-se acuado naquilo que considera como direito seu. Pegue um homem com senso de superioridade, macho e destemido e coloque-o sob o jugo da lei. Diga a ele que pessoas não podem andar armadas ou que maridos não podem ameaçar esposas ou filhos. Depois, deixo-o enfrentar uma situação de tensão e, tcharam, saiba que ele está armado. Pronto! Temos um terror. Essa é a premissa de “Carregado”, na minha opinião a melhor história da coletânea Tempo Estranho, de Joe Hill. Escrito pouco antes da sanha armamentista voltar ao debate público, “Carregado” disseca visceralmente o que armas e pessoas despreparadas, juntas, podem causar na sociedade. A história tem uma construção terrivelmente verídica, palpável e impossível de não associarmos a conhecidos nossos que certamente teriam as mesmas reações do protagonista. O final traz um toque de ironia que causa incômodo. É magistral em todos os sentidos e serve de reflexão. Alô Brasil… A trama aqui cai como uma luva ilustrativa daquilo que corremos o risco de vivenciar.
“Instantâneo” traz uma fantasia metafórica, com toques bem dramáticos, do processo de envelhecimento, da perda de memória, talvez do Alzheimer. Aqui, o terror esbarra levemente no sobrenatural para falar de algo triste que nos coloca impotentes. A fotografia que captura lembranças e vai apagando a memória é, perdoem o trocadilho, um retrato de como o passar do tempo é implacável com o homem. Em “Chuva”, as possibilidades que o caos ambiental pode trazer ao planeta são levadas a consequências extremas a partir de cristais afiados que caem dos céus e lançam destruição e morte por onde passam. A briga de nações, os segredos científicos e uma galeria de personagens que mescla fanáticos religiosos, intolerância sexual, russos e opiniões pra lá de polêmicas dão um tom terrivelmente real para uma trama tão fictícia. Por fim, “Nas Alturas”, a mais fraca das histórias, apresenta um sujeito preso em uma nuvem sólida capaz de realizar seus desejos.
O talento de Joe Hill demonstrado em romances longos como Nosferatu, meu preferido, se mantém vigoroso nas narrativas curtas que compõe Tempo Estranho. Curioso notar que esse tempo tanto pode ser interpretado como climaticamente, como no sentido de uma época. Falo isso porque, na minha visão, as quatro histórias são uma pintura cruel e real de momentos estranhos que nós estamos vivendo no mundo. Por mais bizarras que sejam as situações descritas, há cenas e passagens que exploram o lado perverso de uma humanidade que vem perdendo o senso de harmonia entre os iguais. Aliás, vivemos em um mundo onde o conceito de iguais vem sendo combatido com unhas, discursos e dentes. “O que aconteceu ontem já aconteceu antes… com Sodoma e Gomorra. Nós deixamos a sua laia se misturar conosco”, diz um “exemplar” pai de família para a garota lésbica em “Chuva”.
Embora em alguns casos as histórias pequem um pouco pelo excesso de detalhes, Tempo Estranho é um livro poderoso. Os vislumbres dessas cenas corriqueiras, meio fantásticas, mas com pequenos pés na realidade, provocam incômodo e reflexão. A narrativa de Hill é envolvente e ele sabe conduzir o leitor pelos caminhos mais naturais até o momento de dar o golpe de misericórdia. A paisagem ensolarada se vê, do nada, em frangalhos de tempestade e é aí que percebemos que, de verdade, o terror está escondido em absolutamente qualquer situação. Basta termos seres humanos envolvidos.
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O Autor: Joe Hill, autor best-seller do The New York Times, vive em New Hampshire com a esposa e os filhos. É autor de A estrada da noite, Fantasmas do século XX, O pacto, Nosferatu e Mestre das Chamas, além da série de quadrinhos ganhadora do Eisner, Locke e Key.