Sinopse Intrínseca: Lendas do rock nunca fenecem. E tudo porque entregaram a vida às Luminosas, seres atemporais que se alimentam dos aspectos mais pungentes da devoção humana. Kurt Cobain? Lenda criada por Violeta. Sid Vicious? Gina. Jim Morrison? Marianne. No universo de Este é o mar, se tornar uma verdadeira lenda do rock envolve seres mitológicos femininos e um mundo intenso e sombrio, marcado pelo esquecimento e pelas lembranças que atravessam gerações. Helena é uma das responsáveis por manter a engrenagem do fanatismo a todo vapor, incitando os jovens fãs humanos a darem tudo de si e a consumirem seu ídolo. No entanto, não quer ser apenas uma abelha operária. Para se tornar uma Luminosa, precisa criar uma nova Lenda. Agora, tendo a morte como aliada, sua missão é eternizar James Evans, o vocalista da banda Fallen — uma árdua tarefa em meio à era da fugacidade dos desejos. (Resenha: Este é o Mar – Mariana Enriquez)
Opinião: O fanatismo, por vezes enlouquecedor, de jovens em torno de músicos, bandas, cantoras e artistas é algo que costuma intrigar ou assustar quem não é muito de se entregar às paixões de fã. Certo que todos nós já passamos ou pela fase de idolatrar uma personalidade a ponto de cometer atos extremos, mesmo que por extremo consideremos gastar toda uma grana economizada, ou pela fase de ironizar e criticar quem passa horas, ou dias, numa fila para pegar o melhor lugar durante um show. Essa força motora da indústria cultural é um dos pontos de partida da argentina Mariana Enriquez em um livro incrivelmente diferente do estrondoso As Coisas que Perdemos no Fogo.
Este é o Mar é um daqueles livros para serem lidos em uma tarde. Não só pelo tamanho – são pouco mais de cento e cinquenta páginas, como também pela trama narrada de forma rápida e sem muitos detalhamentos. Para quem teve a atenção fisgada pela obra anterior, cujo foco era trazer o sombrio a partir de fatos corriqueiros do cotidiano, mergulhar nesta é um choque de estilos. Este é o Mar é um livro de ficção fantástica, bastante obscuro, mas fraco. Falta nele, a meu ver, uma pegada que mexa de alguma forma com o leitor.
A partir da loucura de fãs dispostos a tudo por seus ídolos, no caso deste livro, bandas de rock, Mariana Enriquez construiu uma mitologia de seres cuja função é trabalhar para alimentar esse fanatismo a ponto de fazer de um cantor, uma Estrela ou uma Lenda. Nem preciso dizer que por lenda, entende-se que o fulano precisa morrer no auge da carreira. Utilizando de nomes consagrados como Elvis, Cobain, Morrison, entre outros, Este é o Mar apresenta versões para as mortes de ídolos de nosso mundo, todas bem gerenciadas pelas Luminosas, as tais entidades fantásticas que se alimentam desse fanatismo. A partir daí a protagonista Helena vai precisar trilhar os passos de suas irmãs para fazer de um jovem em ascensão, uma lenda. Talvez a última, já que o rock não arrasta mais paixões.
Com uma narração objetiva, Este é o Mar conta, então, as peripécias e desafios da jovem Helena para fazer do seu músico James, um nome imortal. Tudo muito rápido e sem espaço para desenvolver melhor algumas ideias que, talvez, trouxessem mais riqueza para a história. A própria mitologia em torno das Luminosas parece interessante, mas foi pouco explorada, ficando mais a sensação de que eu estava diante de um conto do que de um romance. Por outro lado, acho que sutis críticas em torno dessa indústria do fanatismo poderiam contribuir muito para a trama ganhar volume, o que não aconteceu.
Este é o Mar resume-se, portanto, a um passatempo para uma tarde de lazer total. Descompromissado e sem uma boa pegada, é um típico livro que não deixa nenhum resquício nos leitores após finalizada a leitura. Tornei-me fã e prefiro mil vezes a Mariana Enriquez do horror em cima da realidade do que essa de faceta fantástica.
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Da Autora leia também:
As Coisas que Perdemos no Fogo
A Autora: Mariana Enriquez nasceu em 1973 em Buenos Aires. É jornalista, subeditora do jornal Página/12 e professora. Autora aclamada pela crítica, seu livro As Coisas que Perdemos no Fogo foi traduzido para 22 idiomas e recebeu o prêmio Ciutat de Barcelona.
Concordo com sua resenha. Achei esse livro mais fraco quando comparado ao “As coisas que perdemos no fogo”. Parabéns pelo site.
Ei Camila… brigadão pela visita e comentário! =)
Gostei da resenha pela sinceridade, tive as mesmas impressões que você!
Apesar de não ter lido As coisas que perdemos no fogo, achei que este seria tão bom quanto, mas apenas me decepcionou.