Sinopse Morro Branco: Quando uma crise ambiental e econômica leva ao caos social, nem mesmo os bairros murados estão seguros. Em uma noite de fogo e morte, Lauren Olamina, a jovem filha de um pastor, perde sua família, seu lar e se aventura pelas terras americanas desprotegidas. Mas o que começa como uma fuga pela sobrevivência acaba levando a algo muito maior: uma visão estonteante do destino humano … e ao nascimento de uma nova fé. (Resenha: A Parábola do Semeador – Octavia Butler)
“Deus é Mudança. ”
Opinião: As visões apocalíptico-futuristas da literatura costumam se debruçar em histórias envolvendo armamentos químicos, contatos extraterrestres ou caos tecnológicos causados por uma evolução mais fictícia que provável, por mais que tenha pés de inspiração fincados na realidade. Nos idos de 1993, Octavia E. Butler percorreu caminho inverso para mostrar um apocalipse provocado pelo desajuste do clima do planeta. Algo que, obviamente, trouxe crise para a economia. E a economia acerta em cheio na vida das pessoas. Eis, então, a distopia mais próxima da nossa realidade futura que vocês terão oportunidade de ler.
A Parábola do Semeador é uma obra crua, perturbadora e sem maquiagens para um mundo, e para uma humanidade, à beira do precipício. E não há governo capaz de solucionar o problema quando ele é gerado pelo descontrole do clima no planeta. A partir de uma crise ambiental em que a água se transforma em produto raro e disputado, os Estados Unidos mergulham no caos. Bairros se veem isolados por muros em busca de proteção do que existe externamente: bandidos, grupos de pilhagens, pessoas enlouquecidas por uma droga que desperta vontade de atear fogo em tudo e em todos. Onde estão o presidente, a polícia, a justiça? Tão perdidos e incapazes de fazer algo quanto as impotentes pessoas que se protegem e disputam cada grão de comida disponível.
É nesse cenário, tão pé no chão em alguns pontos, se pensarmos que já há locais com escassez de água no mundo de hoje, que Octavia E. Butler coloca sua jovem protagonista, Lauren para sobreviver. No desmoronamento de tudo que a cerca, inclusive com a perda de pessoas queridas, tem início uma jornada pela sobrevivência em busca de um porto seguro em algum canto, não se sabe bem qual, de um Estados Unidos destroçado. Assim, A Parábola do Semeador se desenvolve em cima da jornada de vida de uma jovem mulher em busca de um lugar para viver. E quando tudo ao nosso lado não se sustenta mais de pé, é para a fé que nós costumamos nos virar. E Lauren começa a elaborar um novo jeito de encarar esse novo mundo. Uma nova religião vai sendo gestada nas páginas do livro enquanto acompanhamos sua jornada e a de seu grupo.
Escrito em forma de diário de vida, e de viagem, de Lauren, A Parábola do Semeador traz uma narrativa pesada e sem floreios. Todas as tragédias que se abatem sobre as pessoas são apresentadas sem adjetivações que amenizem ou disfarcem. Nesse ponto, o livro é visceral e perturbador. Não há possiblidade de encontrar flores quando o caminho foi construído com espinhos. Não existe mais compaixão quando uma gota de água é riqueza. O comportamento das personagens do livro deixa claro que quando levadas ao extremo da luta pela sobrevivência, as pessoas tendem a perder a essência que as faz olhar para o próximo com um mínimo de… humanidade? Matar ou morrer é corriqueiro. Faz parte…
Em paralelo a essa jornada, vamos aprendendo os pontos que constituem a religião, ou a fé, que vai nascendo das observações de Lauren. Aqui o livro traz reflexões interessantes, uma mescla de tudo que no fundo caracteriza quase todas as crenças que conhecemos. Mas estarão as pessoas abertas a crer em algo quando nada mais, inclusive aquilo que era motivo de fé, se sustenta mais?
A Parábola do Semeador, cujo título faz referência a um dos mais famosos ensinamentos de Jesus Cristo, tem um começo lento e uma sequência de passagens que custam a prender a atenção dos leitores. É preciso encarar uma boa centena de páginas para que nosso interesse seja totalmente capturado pela trama. Apesar disso, é impossível sair indiferente a essa leitura. Certamente passaremos a olhar para tudo que nos rodeia com outros olhos. Em um mundo de espinhos, medo, desesperança, desilusão, terras inférteis, amor ou ódio ao próximo, que tipo de semente você quer ser?
Avaliação: 4 Estrelas
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Da Autora leia também:
A Autora: Octavia Butler filha de um engraxate e uma empregada doméstica, a Grande Dama da Ficção Científica nasceu na Califórnia, em 1947. Aos 12 anos, assistiu ao filme “A Garota Diabólica de Marte”, que era tão ruim, mas tão ruim, que mudou completamente sua vida. Octavia decidiu que contaria histórias melhores do que aquela e assim começou sua jornada como escritora. A autora precisou lutar contra a pobreza, a dislexia e o racismo para receber um diploma universitário e foi a primeira mulher negra norte-americana a conquistar o sucesso em uma área da literatura dominada por homens: a ficção científica.
Ao longo de sua carreira, foi laureada com o MacArthur Fellowship, Hugo, Nebula e Locus Awards, além de ser indicada mais de 20 vezes à prêmios. Representava em seus livros heroínas negras e explorava temas como raça, empoderamento feminino, divisão de classe, sexualidade e escravidão. Em 2010, quatro anos após sua morte, foi inserida no Hall da Fama da Ficção Científica, em Seattle. Sua obra continua tão relevante, que ainda hoje é objeto de estudo e seu trabalho e vida ganharam uma magnifica exposição na The Huntington Library, na Califórnia.
Uma resenha que praticamente obriga a gente a comprar o livro! Fã do seu trabalho 😉
Poxa, valeu Guto! Espero que curta o livro e depois traz seu comentário aqui 😉