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Resenha: Corpos Ocultos – Caroline Kepnes

Sinopse Rocco: Frio e calculista, Joe Goldberg mata sem deixar rastros. E, quando os deixa, sua mente ágil e criativa o livra de qualquer deslize. Los Angeles será para Joe como um playground é para uma criança. Romances escusos, negócios duvidosos, desfechos inesperados e alguns corpos ocultos dão o tom da narrativa sombria e ao mesmo tempo cativante apresentada por Caroline Kepnes na continuação de Você. (Resenha: Corpos Ocultos – Caroline Kepnes)

Opinião: Joe Goldberg é meu psicopata preferido e absolutamente nada do que ele cometer, por mais cruel que seja, vai conseguir destruir essa incrível imagem que Caroline Kepnes conseguiu criar comigo. Feita essa pequena confissão, só posso dizer que a continuação de Você segurou as pontas, manteve a originalidade e me tragou para dois dias de leitura voraz. Um livro que evidenciou o quanto a autora não só domina a trama que criou como parece se divertir absurdamente ao escrevê-la.

Corpos Ocultos é Joe a caminho de uma improvável redenção. De mudança para Los Angeles em busca de vingança contra mais uma paixão que deu errado, ele acaba sendo fisgado pelo cupido e pela nobreza dos sentimentos amorosos. Seria então o momento de deixar pra trás a trajetória criminosa? Aliás, é possível deixar isso para trás com tantos “corpos” espalhados pelo caminho?

A trama de Corpos Ocultos é alucinante e tem ritmo veloz. Narrado mais uma vez em primeira pessoa por Joe, o livro é recheado dos seus adoráveis (pra mim, pelo menos) comentários, análises e divagações sobre absolutamente tudo, principalmente a alta estupidez das pessoas que o rodeiam. Joe não tem paciência para idiotas e, pra sua infelicidade, ele parece ser cercado por eles. É aqui que entram os pontos engraçados para quem curte um humor mordaz, sarcástico, ácido e um incorreto. Desembarcando em Los Angeles, ele vai encontrar uma galeria de personagens em busca da fama a qualquer custo. É Joe no mundo das celebridades e, lógico, mortes serão necessárias para que ele tenha paz na vida.

Todos os acontecimentos narrados em Corpos Ocultos são por demais improváveis ou, para usar uma expressão mais certeira, convenientes demais. Absolutamente tudo funciona a favor de Joe e tenho certeza de que isso vai irritar muitos leitores. Esse descolamento completo da realidade, que já rendeu críticas minhas a outros livros em resenhas passadas, acaba passando batido na minha avaliação pessoal perante a qualidade da narrativa de Caroline Kepnes. Por mais que tudo funcione do jeitinho certo para beneficiar Joe, o ritmo, o humor, a construção, as milhares de referências a filmes e livros e o conjunto da obra, superam isso. Porque o livro é gostoso pra caralho de ser lido. Ele flui em uma prosa divertida e descompromissada. E é impossível não ficar do lado de Joe.

E é aí que reside o ponto mais curioso e que me intriga. Como é possível que adoremos (eu, pelo menos) um vilão como Joe Goldberg? Talvez porque, no fundo, eu esteja enxergando ele como vítima das pessoas com quem se relaciona e do meio em que está inserido. Não que isso perdoe ou seja uma desculpa para os crimes que ele comete, mas reparem que todas as garotas por quem ele se apaixona acabam sacaneando ele de alguma forma. E não só isso, mas pessoas ao redor dessas garotas também. Ok, ok, acho que estou tentando aliviar demais o lado dele, mas poxa, somente na metade de Corpos Ocultos é que ele vai esbarrar em Love (que nome, céus!!!) e ela entende ele!!!! Ela corresponde aos sentimentos dele!!!! E isso é simplesmente sensacional e bizarro. Porque tudo que se desenrola em Corpos Ocultos é bizarro ao extremo.

Mas somente o amor não basta, e existe uma estrada de corpos e mortes não explicadas na trajetória de vida de Joe, e mais cedo ou mais tarde alguém vai esbarrar em algo. Alguém vai fazer a conexão e chegar ao nome dele. É a isso que Corpos Ocultos leva. E não leva. Porque há uma continuação no volume três.

Para quem curtiu Você, Corpos Ocultos segue a mesma linha de história, embora com um pouco menos de vigor do que o primeiro volume, mas ainda assim tão viciante quanto. Há um novo universo, hollywoodiano, sendo apresentado e ele é muito bem desenvolvido, inclusive em críticas ácidas à busca pela fama e, novamente, à falta de privacidade que as redes sociais trouxeram. Joe, dessa vez, acaba sendo vítima daquilo que ele praticou em Você, a vigilância via Facebook. É um suspense para ser devorado e que coloca o nome de Caroline Kepnes definitivamente na galeria de autoras-divertidas-que-eu-amo.

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Você

A Autora: Caroline Kepnes é autora de contos e romances. Seu primeiro livro, Você, foi traduzido em 19 idionas e deu origem à série da Netflix homônima.

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