Sinopse Companhia das Letras: O ano é 1973, um dos períodos mais duros da ditadura militar no Brasil. É num ambiente contaminado pela paranoia que se move Miguel, um agente do setor de Inteligência da polícia civil cuja especialidade é se infiltrar em quadrilhas sob investigação. Numa das operações, ele se aproxima de um grupo de ladrões de carga, tornando-se íntimo de Ingo, o chefe, que não só apadrinha sua entrada no bando como lhe apresenta a irmã, Nádia, com quem Miguel inicia um relacionamento que tem no sexo seu ponto de combustão. Profissionalmente vaidoso, Miguel acredita que, na hora adequada, não terá dificuldades para romper os laços surgidos durante a operação. Mas as coisas não saem como ele imagina: apaixonado por Nádia, o policial se vê surpreendido por dúvidas sobre de que lado irá ficar quando o cerco se fechar sobre a quadrilha. (Resenha: Baixo Esplendor – Marçal Aquino)
Opinião: Já tinha ouvido sobre as obras de Aquino antes – principalmente sobre o sucesso Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios – e a curiosidade era grande. Com o burburinho em volta do primeiro romance depois de 16 anos, aproveitei o hype para começar a me aventurar pelas obras do autor. Já começo falando, então, que Baixo Esplendor não foi nada do que eu estava esperando. Foi bom e ruim ao mesmo tempo e já vou explicar o motivo.
Acompanhamos a história de Miguel, um agente da Inteligência da polícia civil que está se infiltrando em uma quadrilha de ladrões de carga. O interessante é que Miguel não é o nome verdadeiro do nosso personagem e, para o desespero dos leitores futriqueiros, nós nunca ficamos sabendo como ele realmente se chama.
O problema inicial deste livro é conseguir entender como a narrativa se desenvolve. A falta das marcações de diálogo pode ser uma pedra no sapato de alguns leitores. Particularmente, gosto desse estilo de escrita – mais ou menos o que lemos em Pessoas Normais, de Sally Rooney – e não tive muitas complicações relacionadas a esse desenvolvimento especificamente.
O que me impediu de mergulhar na história foi a linha temporal. Simplesmente, não há uma indicação de que estamos lendo uma cena do passado ou até mesmo uma do futuro. Aquino faz quebras nos capítulos – que são um pouco extensos, diga-se de passagem – e deixa nas mãos do leitor a capacidade de encaixar determinada cena na cronologia dos eventos. Confesso que demorei umas 60 páginas para conseguir, de fato, adentrar na narrativa. Porém, depois desse início um tanto conturbado, engatei direto na leitura e só parei quando cheguei na página dos agradecimentos.
Dá pra entender o hype em cima da escrita de Marçal Aquino. Apesar da fluidez da história, o autor não poupa quando o assunto é pegar o leitor com sua escolha de vocabulário. Não que seja uma leitura difícil – pelo contrário -, mas a escrita tem o seu quê de requinte.
Contudo, uma bela escolha de palavras não é tudo…
Senti falta de uma profundidade maior nos personagens. Principalmente, no interesse amoroso de Miguel, Nádia. Não temos uma grande cena ou um diálogo marcante que inicie o relacionamento deles. Quando nos damos conta, os dois já estão pelados no sofá e aproveitando a intensidade da nova paixão. A própria relação de Miguel com Ingo, o chefe da quadrilha, não é tão desenvolvida. Tudo parece muito “fácil” para o protagonista. Logo já se envolve com os ladrões e se torna o braço direito do chefe sem nenhuma pulga atrás da orelha. Poderia, sim, ter um pouco mais de páginas para que esses pequenos detalhes fossem mais trabalhados.
No fim das contas, Baixo Esplendor é uma ótima pedida para quem gosta de romances policiais e de ser desafiado por uma leitura que, de início, te joga num breu até você encontrar certas respostas. A nota final foi de 3.5 estrelas, e entendam que é uma nota boa! Quase avaliei com 4, mas esses pequenos problemas acabaram influenciando na decisão.
(Sim, defendo que 3 é uma nota boa para um livro!)
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O Autor: Marçal Aquino nasceu em Amparo, no interior paulista, em 1958. É jornalista e roteirista de cinema e de televisão. Publicou, entre outros livros, os volumes de contos O amor e outros objetos pontiagudos (1999), Faroestes (2001) e Famílias terrivelmente felizes (2003), além das novelas O invasor (2011), Cabeça a prêmio (2003) e Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios (2005). Tem obras lançadas na Alemanha, Espanha, França, México, Portugal e Suíça.