Sinopse Alfaguara: No meio de uma crise conjugal, que o marido nem sabia que estava acontecendo, um casal se separa. O marido abandona Tóquio e passa a viver em seu carro, viajando pelo Japão. Pintor de retratos reconhecido no meio, ele acaba por conseguir uma casa que pertenceu ao famoso Tomohiko Amada. A casa fica nas montanhas, e lá ele pode se dedicar à própria pintura. Nessa casa de paredes vazias, ele começa a ouvir ruídos estranhos e descobre um quadro inédito intitulado O assassinato do comendador. Ao tirá-lo de seu esconderijo, ele entra em um mundo estranho em que a ópera Don Giovanni de Mozart, a encomenda de um retrato, uma adolescente tímida e, claro, um comendador passarão a fazer parte de sua vida. (Resenha: O Assassinato do Comendador – Haruki Murakami)
Opinião: Estreando na leitura da cultuada obra de Haruki Murakami confesso que tive uma mescla de sentimentos que entraram bem em conflito entre si. Em um primeiro momento, foi difícil vislumbrar toda a densidade por trás do enredo, aparentemente simples, de O Assassinato do Comendador. A partir do avanço da leitura e aproximação dos momentos de maior clímax (embora o livro não tenha um desfecho, pois há um volume dois a caminho) meu envolvimento foi ficando maior e simplesmente eu não conseguia mais desgrudar os olhos do livro. Junto com o personagem, eu precisava saber mais.
O Assassinato do Comendador é uma obra carregada de uma nostalgia com o amor ao mesmo tempo que mergulho fundo na solidão humana. Em linhas gerais, o protagonista, que nunca tem seu nome revelado, é um pintor de retratos por encomenda que vê seu casamento desmoronar. Pego de surpresa pelo fim de uma relação que ele considerava estável, decide viajar sem rumo pelo país até aceitar uma oferta e passar a morar na casa que pertenceu ao famoso pintor Tomohiko Amada, pai de seu amigo. Ali, ele descobre uma misteriosa pintura retratando um assassinato, e paralelo a isso recebe a oferta irrecusável financeiramente para pintar o retrato de um cliente misterioso e estranho, chamado Wataru Menshiki. Com base nesse super resumão vai se desenrolar uma trama bem envolvente com muitas doses de mistério e investigação.
A rotina do pintor protagonista narrada no livro se divide em rememorar lembranças do passado, buscar se encontrar no universo da pintura – ele está decidido a não mais pintar retratos, casos amorosos dispersos com boas doses de sexo, e o mistério envolvendo de um lado o quadro retratando o assassinato, e de outro o cliente Wataru. Tudo isso narrado pelo próprio protagonista.
O que mais chama a atenção na obra, que pode parecer confusa pela forma simples como resumi sem enredo, é a musicalidade que jorra de suas páginas. Apreciador de óperas e músicas clássicas, o protagonista a todo momento está ouvindo alguma e compartilhando suas impressões. Existe também, e de forma clara, uma troca cultural entre a bagagem oriental que é cenário do livro com as experiências ocidentais tanto do protagonista quanto do pintor Tomohiko. Em O Assassinato do Comendador, os costumes japoneses esbarram em conceitos ocidentais e encontram eco em mundos fantásticos a partir de histórias e lendas. Posso estar equivocado na comparação, mas diria que temos bons ecos do realismo fantástico sul-americano neste trabalho de Murakami.
Para ser lido sem pressa, O Assassinato do Comendador não me encantou a ponto de encher os olhos, mas me envolveu de uma forma como poucos livros conseguiram. No aguardo do segundo volume, que provavelmente vai clarear muito do meu entendimento da história, ficou um bom gostinho para conhecer outras publicações e desvendar melhor o trabalho do autor.
Avaliação: 3,5 Estrelas
O Autor: Haruki Murakami Nasceu em Kyoto, no Japão, em janeiro de 1949. Cresceu em Kobe e se graduou na Universidade Waseda, em Tóquio. Viveu por quatro anos nos Estados Unidos, onde deu aulas em Princeton, e regressou ao país natal em 1995. É considerado um dos autores mais importantes da atual literatura japonesa. Sua obra foi traduzida para mais de quarenta idiomas e recebeu importantes prêmios, como o Yomiuri — que já foi concedido a autores como Yukio Mishima, Kenzaburo Oe e Kobo Abe — e o Franz Kafka Prize. O escritor vive atualmente nas proximidades de Tóquio. Particularmente influenciado pela cultura ocidental, Murakami traduziu para o japonês obras de F. Scott Fitzgerald, Truman Capote, John Irving e Raymond Carver.
Estou lendo e já passei de duzentas páginas. Até agora não entendi muito bem o aspecto fantásico desse romance. Também achei que Murakami está repetindo situações (ou seriam clichês ou maneirismos) de romances anteriores. Aqui temos novamente um personagem – neste caso, um pintor- que se separa da esposa que o deixa sem nenhuma explicação e tenta encontrar inspiração para fazer algo. Além disso, de novo aparece um poço como metáfora para representar o vazio existencial que existe no protagonista.
Não sei… até o trecho que li, esse livro não me empolgou muito. Embora o autor demonstre ter muito conhecimento sobre pintura e música erodita. Mas, no que refere ao realismo fantástico a obra até agora não me surpreendeu. Espero que isso ocorre pelo menos próximo ao desfecho do primeiro volume.
Alessandro, a forma como o pintor se envolve com a obra, a partir de certo ponto, ganha os contornos que menciono do realismo fantástico. É uma obra lenta e que até o fim do volume um não diz muito. Acredito (e espero) que o volume dois traga a carga de narrativa que faça a história ganhar um sentido mais amplo.
Gostei muito. Alguma informação sobre o 2° livro e sua venda ao público??
Ei Ana Maria, até o momento não. Até onde eu sei, o volume dois não foi publicado no mundo…
Gostaria de saber o que achou do final. Ficou muito em aberto.
Victor, tivemos um final aberto por causa do volume II que certamente vai trazer o final definitivo, então não tenho muito o que avaliar nesse momento.
Ainda não li este porque acho que estou passando por uma espécie de longa ressaca de Murakami. E ‘O assassinato do comendador’ me parece particularmente repetitivo, reciclando temas dos romances anteriores do autor, o que me incomoda bastante.