Sinopse Martin Claret: Filho de pai muçulmano egípcio e mãe católica libanesa, Omar-Jo carrega suas origens no nome. Durante a guerra do Líbano, em 1987, um carro-bomba leva seus pais e seu braço. E o menino de doze anos é enviado pelo avô, trovador, a Paris. É onde ocorre o encontro do Oriente com o Ocidente, do menino-duplo com as luzes, as cores, os sons e os movimentos do Carrossel de Maxime; o rabugento proprietário que, pouco a pouco, reencontra com o menino, então múltiplo, a alegria de viver. Alteridade, amor e tolerância fazem parte do enredo poético. (Resenha: O Menino Múltiplo – Andrée Chedid)
“Que todo o nosso povo suba novamente no mesmo Carrossel que sacudirá, progredirá ao som de uma música esperançosa. ”
Opinião: Paris é uma cidade fadada a ser cenário de grandes histórias. Não importa se alegres ou tristes, com finais felizes ou trágicos. A capital francesa sempre vai transformar suas ruas, subúrbios, igrejas e vielas em palco para enredos tocantes, marcantes, inesquecíveis… O Menino Múltiplo esconde em suas páginas uma dessas grandes histórias. Sob o girar de um carrossel, a autora francesa, de origem egípcia, uniu muçulmanos, católicos, orientais, ocidentais, crianças, adultos e idosos. O resultado é uma obra singela e poética que, quase trinta anos após sua publicação, se mantém atual tanto nas lições dadas quanto nas lições que, parece, desaprendemos.
Omar-Jo é um garoto de doze anos cujos pais foram mortos na explosão de um carro-bomba. Essa explosão, ocorrida durante a guerra do Líbano, lhe fez perder um braço e, em certo aspecto, uma pátria. Enviado pelo avô a Paris para viver com os primos, Omar-Jo é um refugiado. Em Paris, ele conhece Maxime, o não tão bem-humorado dono de um carrossel que não anda muito bem das finanças. Aos poucos, o ímpeto de vida do garoto vai vencendo as desilusões do adulto e ambos descobrem na amizade, na persistência e na convivência algumas das boas qualidades da vida.
A leitura de O Menino Múltiplo é prazerosa e ágil. São poucos os livros que possuem uma narrativa tão cadenciada, quase musical. Entrelaçando o passado dos personagens, mesmo dos coadjuvantes, com os acontecimentos do presente, a autora vai nos situando nos diferentes dramas de vida que cada um carrega consigo. E são fascinantes estes personagens! Com características marcantes e uma construção pensada cuidadosamente para nos afeiçoarmos a eles, os personagens são o ponto alto do livro, seja pela vitalidade de Omar-Jo, as frustrações de Maxime, os sonhos de Cheranne, ou a fé do velho Joseph.
Na Paris que abriga diferentes culturas, e que sofre a onda dos atentados e intolerâncias dos nossos tempos, O Menino Múltiplo serve de reflexão. Pelas palavras e atitudes de Omar-Jo e Maxime, percebemos que a construção de laços entre povos distantes, culturas distintas ou religiões diferentes é sim possível. Há espaço para a boa convivência e através dela mudarmos as formas de encarar os desafios da vida. Mudarmos a sociedade.
A beleza da mensagem de Andrée Chedid se faz atual… Há muitos Omar-Jo fugindo de guerras, atravessando oceanos, e buscando encontrar acolhidas em “carrosséis” espalhados pela Europa. O que entristece é que nem sempre os Maximes estão dispostos a se abrir para o diferente e entender a importância da tolerância.
O Menino Múltiplo é uma joia da literatura que chega ao Brasil em momento oportuno. Sua leitura nos faz enxergar a vida, e as relações pessoais, com outros olhos. E num mundo que não para de girar, Andrée Chedid foi de imensa felicidade ao fazer de um singelo brinquedo da infância, o carrossel, o ponto de encontro e união de corações, sonhos, sentimentos e esperança!
Avaliação: 5 Estrelas
A Autora: Andrée Chedid, poeta, romancista, novelista e dramaturga, nasceu no Cairo, Egito, em 1920. Mudou-se para a capital francesa em 1946, e três anos depois, a coletânea “Textes pour une figure” foi a precursora das mais de 40 obras que seriam publicadas na nova pátria. Ao longo de sua carreira foi contemplada com mais de vinte prêmios literários e teve duas obras adaptadas para o cinema. Membro honorário da Academia de Letras do Québec (Canadá), em 2009 ela foi condecorada como Oficial da Legião de Honra da França. Faleceu em 2011. “O menino múltiplo” é sua primeira obra publicada no Brasil.