Sinopse DarkSide: No mundo perfeito e pacato que Barbara habitava, crianças comuns não mantinham um adulto cativo. Mas ela não contava com a inebriante crueldade que morava nessas crianças ― com os pais ricos de férias em algum lugar bem longe de casa, elas se viram no direito de explorar seus impulsos violentos em um jogo macabro e sádico. O que poderia ter sido uma brincadeira de muito mau gosto que passou dos limites logo se transforma em um jogo torturante de controle e deleite. (Resenha: Quando os Adams Saíram de Férias – Mendal W. Johnson)

Opinião: É sempre interessante quando autores se debruçam sobre a natureza má de crianças. E como venho repetindo em várias resenhas de livros com essa temática, normalmente o resultado são excelentes histórias tanto isoladamente, como em Fábrica de Vespas, quanto em grupo, como no clássico O Senhor das Moscas. Quando os Adams Saíram de Férias não é exceção, pelo contrário, a obra é perturbadora em diversos níveis e foi construída com uma narrativa que flui tão naturalmente que custamos a crer que estamos realmente lendo as situações descritas.

A família Adams sai em férias e contrata uma babá para cuidar dos dois filhos. A babá, Barbara, tem 20 anos e será responsável ao longo de duas semanas por Bobby, 13 anos, e Cindy, 10. No entorno há os filhos dos vizinhos, John, Paul e Diane, todos com idades entre os 13 e 17 anos. Não há vizinhança, as casas são um pouco isoladas umas das outras e há um rio que concentra a principal fonte de diversão das crianças. Tudo normal até que…

Essas crianças decidem pregar uma peça em Barbara. Nada muito diferente do que fazem entre si. Um jogo. E o jogo é simples: numa noite em que ela bebe um pouco demais, Bobby lança mão de clorofórmio para dopá-la e amarrá-la na cama. Quando Barbara acorda no dia seguinte ela é a presa do grupo. A partir daí, pessoal, o livro vai escalonando uma sequência de situações em que humilhação, violência, estupro, entre outras torturas vão dominar os capítulos. A história é pesada, forte e extremamente brutal.

Mendal W. Johnson conduz os leitores, em uma narrativa envolvente, pelo pensamento de crianças que de uma hora pra outra sentem o gosto do poder sobre outro ser humano. Essa é a maior reflexão que o livro nos entrega à medida que, sozinhos, cada um divaga sobre a situação em que estão vivendo.

“O que alguém faria se tivesse poder total sobre outra pessoa? O que – em especial – crianças inexperientes fariam? Quem sabe o que as pessoas pensam quando são crianças e ainda não foram domadas?”

John, o mais velho deles, aos 17 anos, sente uma atração por Barbara que vai da paixão ao instinto sexual. Paul, apesar de novo, é apresentado desde o início como dono de uma mentalidade cruel. É dele que partem os pensamentos e ideias mais macabros. Ele quer sangue e tortura. E Diane, sendo mulher e tendo abertura para conversar e entender o drama de Barbara, mostra-se distante. Ela também deseja a provação e o sofrimento da outra. Fechando, o casal filho dos Adams é dúbio. Ao mesmo tempo em que Bobby e Cindy se incomodam com o rumo que as coisas estão tomando, eles se veem refém dos amigos. É mais importante cumprir os acordos entre si do que libertar a babá. Inclusive Cindy, no auge dos seus 10 anos, protagoniza algumas cenas interessantes em que extravasa o ódio.

Apesar da história ir se desenrolando de forma lenta, é nesse passo a passo em que as crianças vão percebendo o quanto têm a babá em suas mãos que o horror vai tomando conta dos leitores. É literalmente o raciocínio de que eu posso fazer o que eu quiser, afinal ela está presa e não tem como fugir. Mas e as consequências futuras? Pois é, ninguém ali se mostra muito preocupado com isso e isso é um dos pontos mais bizarros dessa história. Todos estão apenas vivenciando o hoje e sonhando com o avanço que darão amanhã.

Eu sei que em determinado momento, muitos de vocês vão se perguntar como é possível tudo aquilo ali estar acontecendo sem ninguém ao redor perceber, se dar conta do aparente sumiço da babá ou mesmo das desculpas criadas pelas crianças funcionarem tão bem. Faz sentido, mas esqueçam comparações com a possibilidade de isso acontecer no mundo real – aliás, inimaginável algo assim acontecer, e foquem apenas na insanidade que o autor apresenta. Esse é o objetivo da trama e é assim que precisamos nos envolver com a história.

Essa loucura chega a um desfecho de embrulhar o estômago. Aliás, o livro como um todo é muito perturbador e exala violência de forma explícita e bem detalhista. Nós acompanhamos, literalmente, crianças torturando uma jovem. E sentindo prazer com isso. Sentindo-se invencíveis. É a natureza da maldade infantil explorada sem nenhum pudor. É o autor mostrando que quando ninguém está olhando e não houve um bom aprendizado sobre limites, as crianças podem ser piores do que qualquer adulto.

“Afinal, cada pessoa, em sua capacidade de criar ou destruir a vida, é uma espécie de deus. Se uma pessoa nasce, duas outras pessoas (presumivelmente; quem é que sabe?) a criaram; se essa pessoa é deliberadamente assassinada, pelo menos uma outra pessoa igualmente humana a eliminou. Ser deus numa escala local é possível; qualquer criança que já tenha esmagado uma lagarta molenga sabe disso.”

Quando os Adams Saíram de Férias é um dos livros mais chocantes e perturbadores que vocês já leram e é o tipo da história, como diz a introdução, que fica durante muito tempo na nossa cabeça. Leiam!

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O Autor: Mendal W. Johnson nasceu em Tulsa, Oklahoma, e se tornou escritor e jornalista. O trabalho de escrita de Johnson incluiu contribuições para revistas marítimas como Popular Boating and Yachting e o romance mais famoso, publicado em 1974, Quando os Adams Saíram de Férias. No momento de sua morte, tinha três outros romances em andamento, Walking Out, Myth e Net Full of Stars. Ele morreu de cirrose do fígado em 1976.

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Jornalista e aprendiz de serial killer. Assumidamente um bookaholic, é fã do mestre Stephen King e da literatura de horror e terror. Entre os gêneros e autores preferidos estão ficção científica, suspense, romance histórico, John Grisham, Robin Cook, Bernard Cornwell, Isaac Asimov, Philip K. Dick, Saramago, Vargas Llosa, e etc. infinitas…

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