Sinopse HarperCollins: O corpo de N’Gana Frimbo, peculiar adivinho do Harlem, é encontrado sem vida na sua sala de consulta. Para investigar o caso, não há ninguém melhor que Perry Dart, um dos mais famosos detetives da região, e o dr. Archer, o médico que mora do outro lado da rua. Os principais suspeitos são Bubber Brown e Jinx Jenkins, jovens que só querem fugir da mira da dupla. Agora, sua única saída se torna iniciar as próprias buscas paralelas, mas nem eles nem Dart e Archer esperavam o que viria a seguir. (Resenha: A Morte do Adivinho – Rudolph Fisher)
Opinião: Há dois pontos muito interessantes que pretendo destacar nessa resenha sobre A Morte do Adivinho. Para começar, trata-se de um suspense policial raiz, desses precursores que trabalhavam em cima de um crime com muitos suspeitos e a figura de um detetive em busca do culpado. O livro em questão é de 1932, época em que Conan Doyle já havia consagrado a figura de Sherlock Holmes e Agatha Christie já tinha doze anos de atividade e era um expoente do gênero com Hercule Poirot.
Na esteira desse sucesso dos suspenses de detetives, que convenhamos são deliciosos de ler e investigar, Rudolph Fisher, nos Estados Unidos, lança seu A Morte do Adivinho. O livro traz um crime, contra esse tal adivinho, e se passa quase integralmente dentro de um casarão. Há uma galeria de suspeitos, todos apresentando motivos para assassinar o vidente. E, claro, a figura do detetive, auxiliado por um médico. O mistério é recheado de camadas e reviravoltas que nos levam, a certo momento, a duvidar de que realmente houve um crime.
É curioso que o livro traz muitas descrições científicas e médicas, e a metodologia para identificação do possível criminoso através do exame de impressões digitais é sensacional de acompanhar quando comparamos com os métodos avançados de hoje. A narrativa de Fisher tem altos e baixos e nem sempre ele consegue prender nossa atenção com o mistério. Há momentos em que a quantidade de descrições e métodos se torna maçante, mas esse é um ponto que caracteriza muito o estilo da época em que o livro foi escrito, então a nós é preciso ter compreensão e um cadinho de paciência.
Completando, A Morte do Adivinho tem um humor refinado na boca de alguns personagens, o que torna a leitura super agradável. É aquela história em que tanto nos empenhamos em juntar pistas na busca de encontrarmos o culpado quanto damos bons sorrisos de canto de boca com tiradas espirituosas ou cenas mais escrachadas de humor.
O segundo ponto de destaque do livro é seu contexto social. A Morte do Adivinho é considerado o primeiro suspense policial de autoria afro-americana lançado nos Estados Unidos – lembrem-se que os autores que destaquei no início, e considerados os mestres do gênero, eram todos brancos e ingleses, talvez a terra-mãe do suspense policial. Além disso, o detetive, Perry Dart, e os protagonistas são todos negros numa trama que se passa no Harlem. Fisher, segundo consta nas informações adicionais do livro, era um profundo conhecer do bairro e isso se reflete integralmente no livro tanto na ambientação quanto na construção dos personagens.
Médico por formação, o conhecimento de Fischer influenciou muito na intrincada trama em que as investigações da ciência médica ditaram bons capítulos e contribuíram em muito para embaralhar a percepção dos leitores, embora, justiça seja feita, o autor conseguiu guardar muito bem seu segredo e surpreender no desfecho da história. É um daqueles livros em que dificilmente alguém consegue acertar o nome do culpado.
A Morte do Adivinho abre a Coleção Clube do Crime, um presente da HarperCollins para os fãs do gênero. Só que há um toque superespecial: a coleção se debruça sobre autores clássicos do suspense policial, talvez muitos deles inéditos no Brasil, como é o caso de Rudolph Fisher. Essa obra inaugural é deliciosa de ser lida, traz um excelente mistério (de difícil solução) e uma ambientação pra lá de detalhista do Harlem e de seus tipos característicos nos Estados Unidos do começo do século XX. Vale demais a leitura!
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O Autor: Rudolph Fisher foi um dos principais nomes do movimento cultural chamado Renascimento do Harlem. Bacharel e mestre em Artes pela Universidade Brown, posteriormente se graduou em Medicina pela Universidade Howard. Atuou com sucesso na área de radiologia, tendo sido pesquisador no Hospital Internacional de Manhattan e superintendente no Hospital Internacional do Harlem. Sua experiência com a medicina rendeu material para sua carreira como escritor de contos e romances de mistério. Foi também ensaísta, músico e orador. Morreu aos 37 anos, dois anos após publicar seu segundo romance, A morte do adivinho.