Sinopse Companhia das Letras: Fogosa pastora de cabras e namoradora de homens, a adolescente Tieta é surrada pelo pai e expulsa de Santana do Agreste graças à delação de suas aventuras eróticas por parte da irmã mais velha, a pudica e reprimida Perpétua. Um quarto de século depois, rica quarentona, Tieta retorna em triunfo ao vilarejo, no interior da Bahia. Com dinheiro e influência política, ajuda a família e traz benefícios à comunidade, entre eles a luz elétrica. Para os parentes e amigos de Agreste, Tieta enriqueceu no sul ao se casar com um industrial e comendador. Mas aos poucos o narrador vai plantando no leitor a dúvida, o descrédito, até revelar a história oculta da protagonista. (Resenha: Tieta do Agreste – Jorge Amado)

Opinião: A volta por cima na vida. Da expulsão de casa à redenção do retorno. Dos dedos em riste com a reprovação da conduta à vontade de elevá-la aos altares ao lado da santa padroeira. Tieta do Agreste é uma obra de muitas camadas, de crítica social, de alerta aos perigos da exploração sem controle do meio ambiente, do falso moralismo, dos apetites sexuais, das beatas carolas, dos amores sinceros, da ambição, da hipocrisia etc. e tal.

Tieta era uma adolescente que pastoreava cabras nas dunas de Mangue Seco, na fictícia Santana do Agreste, quase divisa da Bahia com Sergipe, e que se entregava às descobertas do prazer sexual (um fogo desmedido que a consumia). Aventuras sexuais descobertas pelo pai, Tieta é expulsa de casa e toma o caminho da cidade grande, São Paulo. Lá, faz fortuna a partir de um segredo que ela vai guardar muito bem, passa a enviar uma boa mesada para a família e em um belo dia retorna para um reencontro com seu passado. E causa um rebuliço danado abalando as estruturas pacatas de Agreste.

Uma das principais e mais famosas obras de Jorge Amado, Tieta do Agreste é um livro com várias camadas e histórias. A figura de Tieta, em torno da qual praticamente todas as tramas vão se encontrar, é a representação da volta por cima que só é tolerada por causa de seu patrimônio financeiro.

A hipócrita sociedade de Santana do Agreste, com raras exceções, só abraça essa Tieta que retorna por causa de sua condição financeira. Todos têm interesse em ganhar algo.

Começando, por exemplo, pela irmã, Perpétua, uma beata carola que busca garantir o futuro dos filhos; passando pelo próprio pai, que lá atrás a expulsou de casa e que agora é todo cheio de carinhos e elogios; até outros moradores da cidade, igualmente interessados em tirar proveito da nova condição de Tieta. A obra escancara as contradições de uma sociedade que condena em público o que pratica em privado.

E se formos falar dos tipos que habitam Santana do Agreste, teremos uma galeria maravilhosa de personagens bem no jeitão Jorge Amado de construção de pessoas marcantes, caricatas, engraçadas, com boas representações da vida real e muitas doses de críticas sutis e mordazes. Tieta é um livro com uma imensidão de personagens que se conectam facilmente com os leitores e causam bons momentos de diversão.

Estão presentes na obra os principais tipos de uma cidadezinha de interior: o padre e suas beatas, o bar movimentado, a fofoqueira que sabe tudo, os mandatários políticos, as jovens sonhadoras, o puteiro, o bêbado… E tudo bem caricato nas descrições, nos pensamentos íntimos de cada um, na ambientação e na forma como o próprio Jorge se intromete na história para fazer causos.

Um segundo ponto interessante e bem importante em Tieta do Agreste é a questão ambiental, que podemos dizer pioneira para a época. Escrito no final dos anos 1970, o romance aborda o impacto ambiental do “progresso”, representado pela instalação de uma fábrica de titânio em Santana do Agreste. A narrativa expõe os perigos da poluição e da exploração irresponsável dos recursos naturais, levantando questões que permanecem muito atuais.

E não podemos deixar de falar da intensa atividade sexual que povoa o livro. Seja numa paixão incestuosa que vai abalar relações familiares, no prostíbulo de Zuleika Cinderela que “serve” aos homens casados aquilo que eles não podem fazer com suas esposas, nos desejos das senhoras e das moças, no comportamento por vezes machista dos homens “devoradores”, nos padres que precisam se aliviar das angústias do mundo e na forma como o desejo sexual é apresentado como natural do ser humano, mas que aos olhos conservadores é visto como algo errado e condenável (apenas no discurso hipócrita, registre-se).

Tieta do Agreste, apesar de extenso, com quase 600 páginas, é envolvente e transporta o leitor para Santana do Agreste, onde ele convive com os personagens e desfruta da crítica social e do humor único de Jorge Amado.

Ela é uma personagem que põe abaixo os preconceitos e se mostra avançada para os costumes e padrões da sociedade brasileira da época. E o livro traz o retrato, com todas as suas contradições, de um Brasil conservador que se escandaliza publicamente, mas pratica, em privado, as mesmas ações que condena. Até os dias atuais.

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O Autor: Jorge Amado Foi um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros de todos os tempos. Ele é o autor mais adaptado da televisão brasileira, verdadeiros sucessos como Tieta do Agreste, Gabriela, Cravo e Canela e Teresa Batista Cansada de Guerra são criações suas, além de Dona Flor e Seus Dois Maridos e Tenda dos Milagres. A obra literária de Jorge Amado conheceu inúmeras adaptações para cinema, teatro e televisão, além de ter sido tema de escolas de samba por todo o Brasil. Seus livros foram traduzidos em 55 países, em 49 idiomas, existindo também exemplares em braille e em fitas gravadas para cegos. Em 1994 viu sua obra ser reconhecida com o Prêmio Camões, o Nobel da língua portuguesa.

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