Sinopse Intrínseca: Um retiro de bem-estar em uma ilha na costa da Inglaterra parece o lugar ideal para descansar. Só que a ilha em questão, conhecida como Pedra da Morte, tem um histórico sombrio. Outrora cenário dos terríveis crimes de um serial killer, é encarada por muitos como um local amaldiçoado. Isso, no entanto, não é o suficiente para afastar turistas, sempre fascinados pela aura misteriosa da ilha. É nesse contexto que chega uma leva mais recente de hóspedes, entre os quais duas irmãs e uma prima que parecem alimentar entre si ressentimentos do passado. De repente, a paz naquele paraíso é interrompida quando uma mulher é encontrada morta na propriedade. À primeira vista, tudo indica se tratar de um acidente, mas a detetive Elin Warner não consegue deixar de sentir que há algo errado e que o ocorrido pode ser apenas a primeira peça de um enigma muito maior. Mas por que alguém cometeria um assassinato em um retiro luxuoso? (Resenha: O Retiro – Sarah Pearse)
Opinião: Em seu segundo thriller, Sarah Pearse retorna para uma ambientação em que parece se sentir bem à vontade para desenvolver suas histórias: um local totalmente isolado do mundo. Se em sua estreia literária ela nos levou para um sanatório em meio a montanhas e com uma nevasca para isolar todo mundo, em O Retiro, ela transporta seus personagens para uma ilha-hotel em que a densa floresta que a cerca recebeu alguns chalés para receber visitantes em busca de descanso e de se encantar com as belezas naturais do lugar.
Ponto número um. A ilha em questão tem, como não poderia deixar de ser, um passado tumultuado de tragédias e crimes. Adolescentes foram assassinados e existe uma pedra, cujo formato lembra a personificação da morte (a tal do capuz com a gadanha nas mãos), que assombra as pessoas por sua “presença forte e sinistra”. O local é considerado uma fonte de maldades e tudo que se tentou fazer ali deu muito errado. Com tudo isso, por que não instalarmos um retiro de férias na ilha? Não é uma ótima ideia?
Ponto número dois. O grupo de personagens ao redor do qual a trama vai se desenrolar é confuso. Duas irmãs, uma delas com seu namorado, uma prima, e o namorado de uma irmã que decidiu não ir à viagem. Cinco jovens cheio de segredos, histórias mal contadas de suas relações e um nítido clima de que ninguém ali estava muito a fim de aproveitar a ilha. Cada um tem questão não resolvidas ou mal explicadas entre si e as duas irmãs nitidamente estão passando por um momento tenso de distanciamento na relação.
Ponto número três. A protagonista de O Sanatório, detetive Elin, retorna um pouco mais estável mentalmente após os eventos narrados na obra anterior e de todo o seu passado que, sim, meus amores, é preciso ter lido o livro para entendermos bem tudo pelo que ela passou e enfrentou. O fato é que Elin ainda sofre uma insegurança, mas ao ser mandada para a ilha para investigar o que eu vou falar já já, ela começa a se encontrar consigo e encarar de frente alguns de seus medos. E vale destacar que sua relação com o namorado melhorou muito em vista das constantes dúvidas que ela demonstrou ao longo do caso do sanatório.
Vamos amarrar esses três pontos com, tcharaaam, um assassinato, dois assassinatos, três assassinatos… Pessoas começam a morrer na ilha e cabe a Elin e seu parceiro desvendarem o que está por trás não só dessas mortes, mas do passado de crimes e possíveis maldições da ilha. Porque nada é exatamente o que parece e existem muitos segredos escondidos em meio aos chalés e personagens. A começar pelo passado do próprio namorado de Elin, que tem uma interessante relação com o local.
A narrativa de Sarah Pearse é viciante e a obra, de quatrocentas páginas, flui rapidamente. Para vocês terem ideia, eu li em dois dias. Mas não esperem nada muito fora do basicão de um suspense. A autora se prende muito ao jeitão que empregou em sua obra de estreia e é fácil percebermos que ela navega bem nessa aparente zona de conforto.
Mas, duas coisas não convencem. A primeira é que mesmo com mortes acontecendo, o comando da polícia não envia ninguém para dar suporte a Elin na ilha. Há uma justificativa de que estão resolvendo uma emergência, mas assim, difícil engolir um departamento policial desses. E o outro ponto é o clichezão de Elin ir sozinha resolver determinadas questões naquele momento crucial em que sabemos que vai dar merda. Com todo o caos, ela simplesmente se lança em meio a uma tempestade, sozinha, porque o parceiro precisa ficar na sede etc. etc. Enfim, recursos necessários para o desenvolvimento da história, mas que a gente aceita com aquele olhinho torto de “aham, tá bom”.
O suspense, suas explicações e o desfecho são satisfatórios. Cumprem seu papel dentro de um thriller correto e sem muitas pretensões. Sarah Pearse se mostra uma autora que não ousa tanto, preferindo seguir uma cartilha mais tranquila de desenvolvimento de mistérios. E a tal pessoa misteriosa que persegue Elin? Bom, nossa esperança é que isso seja resolvido num terceiro livro porque não dá mais para enrolar muito com esse recurso, correndo o risco de perder totalmente um possível efeito surpresa para virar apenas algo chato.
O Retiro é um ótimo thriller que proporciona boas horas de leitura. Esqueçam o marketing que compara a autora com Agatha Christie e Stephen King porque isso é MUITO sem noção num nível constrangedor. Foquem na boa história que instiga nosso lado investigador e nos bons dramas pessoais que são apresentados.
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O Retiro
A Autora: Sarah Pearse cresceu em Devon, no sudoeste da Inglaterra, estudou literatura inglesa e escrita criativa na Universidade de Warwick e mais tarde concluiu uma pós-graduação em jornalismo. Viveu na Suíça por alguns anos, onde, logo depois de se mudar, passava o tempo livre explorando as montanhas da cidade de Crans-Montana, nos Alpes, o cenário que inspirou seu romance de estreia, O sanatório, que se tornou um best-seller instantâneo. O retiro é seu segundo livro.