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Resenha: O Pescador – John Langan

Sinopse DarkSide: Ao norte do estado de Nova York, nas matas da região de Woodstock, corre o Dutchman’s Creek, saindo do reservatório Ashokan. Com margens íngremes e correnteza veloz, ele traz a promessa de boa pesca, e de algo mais, uma possibilidade demasiado fantástica para ser verdade. Quando Abe e Dan, dois viúvos que encontraram conforto na companhia mútua e na paixão de ambos pela pesca, escutam rumores sobre o riacho e os espécimes que nele podem ser encontrados, possível remédio para as perdas de ambos, eles consideram esses relatos meras histórias de pescador. Em pouco tempo, no entanto, os homens se encontram puxados para dentro de uma história tão profunda e antiga quanto o reservatório. É uma narrativa sobre pactos sinistros, sobre segredos enterrados há muito tempo, e sobre uma figura misteriosa conhecida como Der Fisher: o Pescador. Ela deixará Abe e Dan face a face com tudo o que perderam, e com o preço que devem pagar para recuperar tudo isso. (Resenha: O Pescador – John Langan)

“Tem uma história… bom, ela é horrível, quase demais para ser contada”.

Opinião: Ecoando claramente o tom de horror cósmico que permeou a obra de H.P. Lovecraft, John Langan entrega uma sensacional história de pescador neste premiado romance que finalmente chega ao Brasil. Mas atenção! Não se trata de um terror desses sobrenaturais que esperamos sustos e arrepios a cada virada de página. A prosa neste livro nos conduz para aqueles momentos mais delicados em que num piscar de olhos vislumbramos uma fresta do desconhecido e encaramos coisas inexplicáveis.

O Pescador traz duas histórias, uma dentro da outra. A partir da narração de Abe, vamos tomar contato com algo misterioso que cerca o quase desconhecido rio de Dutchman’s Creek, no estado de Nova York.

Abe, assim como seu parceiro de pescaria Dan, são viúvos recentes cujas esposas morreram de uma forma muito precoce. A primeira, esposa de Abe, por uma doença que lhe ceifou a vida pouquíssimo tempo após o casamento; e a segunda, companheira de Dan, perdeu a vida num trágico acidente de carro levando consigo os dois filhos do casal. Dan sobreviveu. Ambos, de formas diferentes, ainda lidam com o luto e a saudade. Esse é um ponto muito importante para o desenrolar da trama.

A primeira história de O Pescador se dá justamente em apresentar os dois personagens e suas trajetórias de vida. Essa história vai fazer uma pausa e retorna na parte final do livro para o momento em que os dois terão contato com esse misterioso que habita o Dutchman’s. Em contato com o rio, e tudo que o cerca, eles lidarão com a ausência de suas esposas e cada um, a seu modo, vai ter uma reação às tentações e seduções que lhes serão oferecidas.

A outra história, que ocupa a maior parte do livro, vai retornar alguns séculos no tempo para nos apresentar os horrores e as cenas inexplicáveis que fizeram parte da vida das pessoas que tiveram contato com o período anterior à formação do Dutchman’s. Ele surgiu da inundação de uma imensa área para construção de uma represa. Operários foram levados para limpar o local, desmanchar casas e desocupar todo um vilarejo. Os personagens dessa parte do livro tiveram contato com algo desconhecido, poderoso e maléfico. Algo que aparentemente forçava as barreiras entre o nosso mundo e um outro.

Não há muito mais o que falar de O Pescador. Construído com uma narrativa elegante, fluída e extremamente envolvente, o livro trabalha o horror do desconhecido, bem no estilo lovecraftiano. É uma história que fisga bem a curiosidade por sabermos o que mais vai ser revelado, mas que no fundo revela muito pouco. O autor deixa muita coisa por conta da nossa imaginação. Mas ele também entrega descrições vívidas e detalhadas.

O mal que assombra essa história de pescador é antigo. Trata-se de Apófis (calma, isso não é um spoiler), uma criatura que na mitologia egípcia é considerada a personificação do caos. É em cima dela que Langan vai construir todo um mundo bizarro de horror em que o luto, a dor e o sentimento de perda dos personagens é usado para alimentar esse caos.

Mas já adianto, só mergulhando fundo na leitura é que vocês vão perceber toda a qualidade narrativa da criação de Langan. É um daqueles livros que precisamos nos entregar sem pressa e nos deixarmos envolver pela história contada. Deixem de lado expectativas de perder o sono à noite. Essa não é a pegada nem a intenção da obra.

Para além de toda a inventividade dessa trama, O Pescador me chamou atenção pela forma como foi contado. A escrita de John Langan é espetacular e me fisgou, com perdão do trocadilho, de uma forma que eu devorei a obra mesmo sendo um livro de leitura mais lenta. Essa é uma das melhores histórias de pescador que eu já tive contato e super indico para quem curte a pegada Lovecraft de fazer terror.

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O Autor: John Langan é escritor e professor. O Pescador ganhou o Bram Stoker Award de Melhor Romance de Terror em 2016. É autor de outro romance, House of Windows (2009) e de três coleções de histórias: Sefira and Other Betrayals (2016), The Wide, Carnivorous Sky and Other Monstrous Geographies (2013) e Mr. Gaunt and Other Uneasy Encounters (2008). Com Paul Tremblay, coeditou Creatures: Thirty Years of Monsters (2011). Um dos cofundadores do Shirley Jackson Awards, integrou o júri nos primeiros três anos. Mora no Vale do Hudson em Nova York com a esposa, o filho mais novo e vários animais.

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