Sinopse Planeta: Uma amizade extraordinária. Cem anos de histórias prestes a serem contadas… antes que seja tarde demais. Lenni é uma adolescente de dezessete anos, dona de uma personalidade especial e de muito carisma. Pode-se dizer que é uma garota cheia de vida… exceto que, segundo os médicos, ela está à beira da morte. Como um modo de preencher seus dias no hospital em que está internada e sozinha – e de cumprir uma aposta feita com o padre da capela -, Lenni começa a frequentar aulas de arte terapêutica. E é então que conhece Margot, uma senhora de oitenta e três anos, doce e de coração rebelde como o de Lenni. A conexão entre elas é intensa e imediata, e as duas percebem uma peculiaridade: juntas, têm um século de vida! Para celebrar esses cem anos que compartilham, decidem montar uma exposição de cem pinturas. Em cada uma, retratam uma memória importante dos anos que viveram. Histórias de paixão, juventude, amadurecimento, alegria, afeto, de quando se encontra em alguém o amor de sua vida. Histórias que merecem, sempre, ser compartilhadas. (Resenha: Os Cem Anos de Lenni e Margot – Marianne Cronin)

Opinião: Quando se sabe com certo grau de certeza que a morte está próxima, é possível encarar os dias e semanas finais como eternos recomeços? Buscar forças nas pessoas mais próximas, mesmo que sejam estranhas, e com elas construir um legado? É difícil para qualquer um responder como se comportaria se soubesse exatamente que a linha final da vida estava mais próxima do que se pensava. Não é o tipo de situação a qual conseguimos imaginar. Porque por mais que nossos desejos venham à mente, nós nunca vamos sentir de verdade o imaginário andar do reloginho rumo às horas finais. Mas é um tipo de situação que permite divagações e a literatura tem feito bastante isso ultimamente e de formas bem curiosas e diversificadas.

Marianne Cronin é uma autora extremamente jovem, que passou por uma delicada questão de saúde. Sua experiência hospitalar e aquele “medo de morrer” que todos sentimos frente a questões desconhecidas da saúde despertou nela essa curiosidade sobre o comportamento humano com a finitude. Aquele estalo que bate quando percebemos, das mais variadas formas, que realmente somos vulneráveis diante de algo que ninguém consegue controlar. E talvez essa mistura da pouca idade com a realidade do que ela enfrentou tenha contribuído para que sua obra aborde com a dose certa de delicadeza, sensibilidade e força um tema que a maioria da sociedade prefere ignorar. Afinal, não há nada que se possa fazer mesmo…

Os Cem Anos de Lenni e Margot é um livro de sentimentos. Ele promove o encontro de duas gerações, totalmente diferentes em tudo, para falar da força da amizade, do poder da arte, da importância das memórias, dos mistérios da fé e de como a vida pode ser vivida da melhor forma possível mesmo quando tudo parece fora dos eixos. Mesmo quando se sabe que não há muito mais futuro pela frente. É uma obra sensível que passeia pelos caminhos trilhados, pelas escolhas feitas e pelo que podemos construir quando nos unimos, em amizade, a quem está disposto a compartilhar com a gente qualquer coisa.

Lenni tem dezessete anos e Margot tem oitenta e três. Ambas estão no hospital tratando doenças que ameaçam seriamente suas vidas. Não há muita perspectiva de futuro aqui. Mas há um mundo de possibilidades quando as duas se conhecem em uma oficina de artes e decidem compartilhar suas melhores lembranças da vida através de pinturas. Uma pintura para cada ano vivido. A soma das duas idades totaliza cem anos. É uma mensagem poderosa que sai dessa revisão de vida que é feita a cada nova história contada. E é algo que poucos de nós se dedicam a fazer… relembrar cada momento do passado e meio que fazer um balanço dele.

Narrado em primeira pessoa por Lenni, o livro vai percorrendo dia a dia, pintura a pintura, a vida das duas personagens. Margot, lógico, tem muito mais histórias para contar e é boa parte disso que preenche os capítulos. Pequenas histórias da vida de cada personagem. Em meio a isso, outra amizade improvável surge entre Lenni e o vigário da capela do hospital. Padre Arthur é a figura bonachona que encara com bom humor, paciência e respeito as diversas perguntas, algumas em tom provocativo, que Lenni faz sobre os mistérios da religião. Esse Deus que permite que uma garota cum uma vida pela frente tenha que se ver trancada dentro de um hospital aguardando o fim. Os trechos, bem-humorados, carregam boas doses de reflexão sobre religião, fé e como a crença tem um papel poderoso nas etapas finais da vida.

“A resposta que eu tenho, a única resposta que tenho – ele disse –, é que você está morrendo porque está. Não porque Deus decidiu te punir ou porque Ele não se importa com você, mas simplesmente porque sim. É uma parte da sua história.”

Curioso perceber que Lenni, apesar da pouca idade, tem a maturidade suficiente para libertar seu pai da dolorosa espera na cadeira de um quarto de hospital. Sozinha, ela sai pelos corredores em busca de pessoas e situações que possam a tirar do tédio do quarto, do tratamento. Essa “aventura” vai mudando muita coisa pelo hospital. Indiretamente sua vivacidade mexe com enfermeiras, auxiliares da limpeza, outros idosos da oficina de artes. Sem amigos, Lenni vai construir seu círculo final de relacionamento junto àqueles que a enxergam como ela é, que a respeitam, que não olham somente com dó e piedade. Nela reside um sentimento de vida incompatível com o ambiente em que estão. Isso muda muita coisa. Inclusive para ela própria.

Os Cem Anos de Lenni e Margot é uma dessas raras histórias que conseguem nos tocar e que mexem um pouco com nossa percepção do mundo ao redor, das relações que temos, e de como nos comportamos em relação aos outros. É mais um livro que chega em nossas mãos nesse período em que muitas pessoas foram afetadas pela pandemia e tiveram que lidar com vidas interrompidas tragicamente por uma doença. Foram confrontadas com o fim de maneira abrupta e na maioria dos casos sem ter como dar uma palavra de despedida ou vivenciar o luto. Lenni e Margot nos mostram um pouco de como os momentos podem ser bem vividos. Da melhor forma possível. Até o fim…

Compre na Amazon

Observação: este livro foi lido na edição da TAG Inéditos de Agosto de 2021

A Autora: Marianne Cronin nasceu em 1990 e vive em Birmingham, onde obteve um Ph.D. em Linguística Aplicada examinando a ligação entre linguagem e humor na ficção. Atualmente trabalha como professora do ensino superior. Em seu tempo livre, ele realiza comédias de improvisação com o grupo Box of Frogs, de Birmingham. Os cem anos de Lenni e Margot é seu primeiro romance.

Compartilhar
Artigo anteriorResenha: Carrie – Stephen King
Próximo artigoResenha: Sete Anos de Escuridão – You-jeong Jeong
Jornalista e aprendiz de serial killer. Assumidamente um bookaholic, é fã do mestre Stephen King e da literatura de horror e terror. Entre os gêneros e autores preferidos estão ficção científica, suspense, romance histórico, John Grisham, Robin Cook, Bernard Cornwell, Isaac Asimov, Philip K. Dick, Saramago, Vargas Llosa, e etc. infinitas…

Deixe uma resposta