Sinopse Companhia das Letras: Este livro é o diário em que Abigail registra suas paixonites agudas seguidas por terríveis desilusões. Anota o que se passa na casa, nas longas tardes de tédio. Conta dos dias em que, sem nada na geladeira, ela e a irmã, Berta, precisam bater na porta das vizinhas para pedir ovos. Os insetos escondidos nas gavetas, as canções de Marina Lima no quarto ao lado, o enfado da escola: Os tais caquinhos é um romance de formação trágico e comovente, capaz de arrancar risos nervosos. (Resenha: Os Tais Caquinhos – Natércia Pontes)
Opinião: Quantos livros sobre adolescência já foram escritos da perspectiva de um jovem excluído e que sente todas as suas emoções de forma muito intensa e, muitas vezes, até exagerada? Pois é, Natércia Pontes aqui deixa o “livro sobre adolescência” de lado e faz o seu “livro com adolescente”, onde ser adolescente não é exatamente a questão. Aliás, qual seria a questão de Os Tais Caquinhos?
Acompanhar a vida suja, caótica, preocupante e comum de Abigail, sua irmã mais nova, Berta, e o pai delas, Lúcio, é incômodo a ponto de o leitor não saber onde está se metendo mesmo tendo lido a sinopse e se interessado pelo romance. Classificação também que pode parecer inadequada ao livro de Natércia, porque, na verdade, as 144 páginas mais parecem um compilado de contos expostos de maneira aleatória sobre a vida dos mesmos personagens.
Não há foco na narrativa. Um capítulo sobre a violência sofrida por Abigail antecede em muitos capítulos o momento em que a relação com um gringo mais velho começou. E o problema não é a narrativa não ser linear – até porque diversas outras obras utilizam-se deste recurso de forma primorosa -, mas sim a falta de explicação do tempo, do espaço e das figuras importantes da história.
Entende-se que os três protagonistas vivem em situação precária e caótica, em um apartamento lotado de entulhos guardados através dos anos e com a companhia de incontáveis insetos – e, meu Deus, as baratas são tantas que são quase personagens à parte. Contudo, nada é explicado. O que aconteceu para chegaram àquele ponto – principalmente o papel de Lúcio -, por que as garotas são tão deixadas à própria sorte, onde está a mãe e as outras irmãs… São apenas algumas perguntas não respondidas durante a curta experiência de leitura.
Natércia, por outro lado, consegue laçar o leitor com sua escrita. O texto é bonito de ser lido, mas principalmente de ser falado. Muitas passagens são fortes e carregam um peso emocional que pode assustar e afastar leitores que não estão preparados para encarar as dificuldades banais de um cotidiano triste e comum. Recomendo, inclusive, que leiam trechos do livro em voz alta, tarde da noite e sozinhos no quarto. A experiência é fenomenal! Contudo, palavras bonitas e sentimentos expressos de forma crua não são o suficiente para Os Tais Caquinhos se manter como um romance de formação.
Ansioso para ler mais da autora, mas esperava um pouco mais deste livro em questão…
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A Autora: Natércia Pontes nasceu em 1980, em Fortaleza, e mora em São Paulo. É autora de Copacabana Dreams (Cosac Naify, 2012), finalista do prêmio Jabuti.