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Resenha: Força da Natureza – Jane Harper

Sinopse Morro Branco: Cinco mulheres relutantemente pegam suas mochilas e começam a caminhar pela trilha lamacenta. Apenas quatro saem do outro lado. E cada uma delas conta uma história diferente sobre o ocorrido. A caminhada pela acidentada cordilheira Giralang pretendia tirar os colegas de escritório de sua zona de conforto e ensinar resiliência e espírito de equipe. Ou ao menos era o anunciado pelo site de retiro corporativo. O agente federal Aaron Falk tem um interesse particular no paradeiro da funcionária desaparecida, pois trata-se de Alice Russell, uma informante que possui dados confidenciais sobre a empresa e seus colegas de trabalho. Os relatos dissonantes contam uma história de suspeita, violência e confiança quebrada e, à medida que Falk avança na investigação, se vê envolto por segredos e perigos mais profundos do que poderia imaginar. (Resenha: Força da Natureza – Jane Harper)

Opinião: Em seu segundo livro, Jane Harper utiliza novamente a natureza como aliada na composição de sua história. Aqui, contudo, a floresta da cordilheira de Giralang é quase um personagem a mais, influenciando na sensação de claustrofobia e sufocamento que vai dando o tom de tensão a cada novo capítulo. Sua escrita, densa, produziu personagens esmiuçados de tal forma que conseguimos facilmente nos colocar na pele de cada um deles. É um thriller psicológico viciante e com desdobramentos imprevisíveis.

Força da Natureza é aquela maravilhosa história que testa os limites dos personagens e como eles reagem a situações extremas. Cinco mulheres perdidas numa floresta. Não são amigas, mas colegas de trabalho enfiadas numa trilha a partir de um mirabolante programa de aproximação promovido pela empresa. Mesmo fora do local de trabalho, há uma hierarquia ali com diferentes níveis de chefia. É possível separar isso quando aparentemente sua vida está em risco? Só aqui, a autora já tem um bom material para trabalho. Os cinco perfis são muito diferentes e essas mulheres carregam consigo ambições, remorsos, tensões familiares e, lógico, um misto de novos problemas que vão surgindo à medida que avançam pela floresta.

A questão, que é o ponto de partida do livro, é que ao fim da jornada somente quatro delas saem da mata. Feridas, tensionadas, desesperadas e com versões da história que deixam claro que muita coisa não está sendo contada. Então, Força da Natureza tem dois momentos narrativos que se revezam no decorrer dos capítulos: de um lado o passo a passo dessas cinco mulheres na floresta, como elas se perdem e o desenrolar da saga; de outro, a busca pela desaparecida, Alice, e o policial Aaron Falk (sim, o mesmo de A Seca) comandando junto a uma parceira as investigações para tentar entender o que aconteceu ali. São inúmeras as perguntas e as respostas vão sendo dadas em doses muito homeopáticas.

A investigação ainda se debruça sobre tramas secundárias, como os problemas pessoais das personagens aqui do lado de fora da floresta e que vamos conhecendo aos poucos, e um possível assassino em série, já falecido, mas que aterrorizou o mesmo local onde as mulheres estão perdidas. Há ligações? Há riscos? Só que para matar a charada, é preciso acompanhar atentamente a jornada das personagens pela floresta. Ali está a chave para entendermos quase tudo.

Força da Natureza é claustrofóbico desde o primeiro minuto em que as personagens entram na mata. Mesmo sendo um programa de trilhas com demarcações e aparentemente tudo muito seguro e sob controle, o fato é que essas mulheres não estão acostumadas a esse tipo de aventura, não possuem tanta prática em leitura de mapas ou orientação pela vegetação e carregam algumas tensões umas com as outras. Há um clima palpável no ar de sufocamento e nós percebemos isso. A autora noz conduz nessa narrativa de forma que nós, leitores, sentimos as cordas se esticando cada vez mais. Até o inevitável momento em que elas vão se arrebentar e trazer uma enxurrada de problemas.

E a floresta é um personagem coadjuvante, mas tão importante quanto qualquer outro. Porque é sua escuridão noturna, seus barulhos estranhos, os perigos que se escondem em lugares escorregadios, o medo do desconhecido e as peças que a mente prega que vão contribuir para o tensionamento e para a explosão das relações sociais. Pensem que em se tratando de amigos, o extremo de se ver perdido numa mata já traria muita confusão, o que podemos esperar de colegas de trabalho que não necessariamente se amam? E quando uma delas não tem filtros na língua e age de forma ríspida e autoritária? E quando há duas irmãs, gêmeas, afastadas por mágoas do passado? E se acrescentarmos a chefe, uma das donas da empresa? Enfim… Deu pra sentir como esse clima é sufocante? Exatamente a mesma sensação provocada no livro de estreia de Jane, A Seca. O clima é um personagem.

Força da Natureza é um livro sustentado pelo ótimo desenvolvimento de seus personagens e por uma narrativa eletrizante. Harper sustenta uma história com dramas perturbadores, tensões que escapam das páginas e nos atingem a todo momento e um mistério complexo de ser resolvido. Aventurem-se sem medo pelas trilhas de Giralang e desvendem os segredos escondidos a cada novo caminho.

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Força da Natureza

A Seca

A Autora: Jane Harper nasceu em Manchester, Inglaterra, mas passou grande parte da infância na Austrália. Estudou Inglês e História na Universidade de Kent, onde se formou com especialização em Jornalismo. A escritora atuou na área por muitos anos, trabalhando em publicações de renome como o Herald Sun. Após ficar entre os finalistas de um concurso de literatura, resolveu fazer carreira na ficção, e a aposta foi bem-sucedida: A Seca, seu livro de estreia, foi considerado o livro do ano em vários veículos de comunicação. Hoje, Jane mora na baía de Melbourne com o marido e a filha.

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