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Resenha: Garotas em Chamas – C.J. Tudor

Sinopse Intrínseca: Há muito tempo uma história sinistra é contada na pequena Chapel Croft. Cinco séculos atrás, mártires protestantes foram traídos, e então queimados. Trinta anos atrás, duas adolescentes desapareceram sem deixar vestígios. E há algumas semanas, o responsável pela paróquia local se enforcou na nave da igreja. A reverenda Jack Brooks, mãe solteira de uma jovem de quatorze anos, chega a esse vilarejo em busca de um recomeço. Em vez disso, encontra um lugar tomado por conspirações e segredos, e é recebida com um estranho pacote de boas-vindas: um kit de exorcismo e um bilhete: Não há nada escondido que não venha a ser descoberto. Quanto mais Jack e sua filha, Flo, exploram a cidadezinha e conhecem seus estranhos moradores, mais as duas se aprofundam em feridas antigas, mistérios e suspeitas. E, quando Flo começa a ver meninas ardendo em chamas, fica evidente que há fantasmas por ali que se recusam a descansar em paz. (Resenha: Garotas em Chamas – C.J. Tudor)

Opinião: O reinado de Maria I, na Inglaterra, foi marcado por uma intensa perseguição a protestantes e outros dissidentes religiosos. Estima-se que de 280 a 300 protestantes foram condenados à fogueira. Entre os registros históricos, vamos encontrar mais facilmente em pesquisas os chamados Mártires de Oxford (três bispos anglicanos julgados e queimados vivos nos anos de 1555 e 1556) e os Mártires de Lewes (17 protestantes também queimados vivos na região de East Sussex entre 1555 e 1557). Anualmente, em diversas regiões da Inglaterra, há procissões em homenagem à memória desses mártires.

Embora não tenha encontrado referências diretas entre algumas menções da obra e a realidade, fica bem evidente que a história dos Mártires de Lewes foi o ponto de inspiração para a construção de Garotas em Chamas, o thriller mais maduro e bem trabalhado de C.J. Tudor. Além disso, em entrevistas dadas por ocasião do lançamento do livro, a autora contou morar próximo de uma capela que ela sentia ter algo mais a contar. E é em torno de uma capela, bem sinistra, e de um casarão abandonado que boa parte dos mistérios da obra vão ser revelados.

Garotas em Chamas, como falei, traz uma autora bem mais madura no domínio narrativo do que vimos nos três livros anteriores. Até porque, vale destacar, a trama aqui é mais ousada, traz a religião do interior para o centro dos acontecimentos e aborda questões como saúde mental. Além disso, temos uma protagonista feminina bem ambígua, humana em seus erros e acertos, e que carrega o colarinho clerical para deixá-la “passar despercebida pelos outros”. Sim, temos um sacerdote mulher na obra, e para os que não estão familiarizados vale informar que a Igreja Anglicana permite a ordenação de mulheres como padres, para usar um termo mais conhecido nosso.

A cidadezinha de Chapel Croft, existente no mundo real, é o palco dessa história que tem ares de sobrenatural, mas cujos pés ficam mesmo presos na realidade. E tem uma miscelânia de tramas se sobrepondo… A história dos mártires da cidade que traz duas garotinhas queimadas junto aos adultos; o desaparecimento não esclarecido de duas meninas; os segredos que cada personagem, e a cidade como um todo, parecem guardar; os mistérios envolvendo o passado da protagonista, Jack; e as formas assustadoras de intimidação que ela vem sofrendo desde que chegou à cidade. Parece muito? Sim, também achei, mas apesar de uma pontinha ou outra, a autora conseguiu juntar tudo e dar caldo com explicações satisfatórias no final.

Não vou detalhar a história, tampouco fazer resumo do livro aqui. A sinopse da Intrínseca já fala por si. Mas vou me debruçar, primeiramente, sobre as qualidades da obra que estão justamente no conjunto da trama. A imensa maioria de thrillers que já li em que cidades pequenas e elementos religiosos entravam em cena resultaram em excelentes suspenses. Desses de prender nossa atenção. Garotas em Chamas não foi diferente. Fatos históricos bem explorados e um cenário em que cada rua, casa ou morador parece sempre estar à espreita, sabendo mais do que revela, são ingredientes maravilhosos para um mistério. Aqui, há toques de sobrenatural em algumas passagens, e isso dá um tom interessante de dúvida entre se tudo vai ficar na realidade ou se teremos algo inexplicável atuando também.

Os personagens são perfeitamente bem construídos. Todos, sem exceção, têm envolvimento na história, sabem de tudo e mais um pouco, e confundem facilmente os leitores. Isso vale também para a protagonista, Jack, que traz os segredos mais interessantes e paira, ao final, como uma heroína do avesso com suas motivações ficando a cargo do julgamento pessoal de cada leitor. E a trama sustenta mistérios e mortes o suficiente para embaralhar qualquer fã de thrillers. Definitivamente, nada é o que parece nesse livro.

Por outro lado, mesmo dando conta de amarrar todas as pontas de uma história abarrotada de mistérios, ainda considero que C.J. Tudor tem momentos de empolgação excessiva. Em outras palavras, não havia necessidade de tanto acontecimento e tanto mistério. Simplesmente porque lá no desfecho certas coisas soaram um cadim forçadas demais para se ajustar ao que ela queria. Foi satisfatório? Foi. Mas eu fiquei com aquele ar de “jura que você era você?” e “sério que isso passou assim em branco pela história inteira?”. Valeria mencionar também que o sobrenatural sobrou, já que não encontrei justificativa para a presença, pequena, dele. Só que cada cena de aparição prometeu algo aos leitores. Isso não foi entregue.

C.J. Tudor vem crescendo em qualidade nas histórias que apresenta e mostrando uma versatilidade incrível. Seus livros passeiam pelos mais diversos temas e estilos, mantendo o pezinho no suspense/terror, mas sem se ater exclusivamente a isso. Garotas em Chamas é um excelente suspense, com muitas reviravoltas, inúmeros mistérios e um resultado geral que não vai decepcionar os leitores.

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O Homem de Giz

A Autora: C.J. Tudor nasceu em Salisbury e cresceu em Nottingham, Inglaterra, onde ainda mora com a família. Seu amor pela escrita, especialmente pelo estilo sombrio e macabro, surgiu logo cedo. Enquanto os colegas liam Judy Blume, ela devorava as obras de Stephen King e James Herbert. Ao longo dos anos, atuou em várias funções, como repórter, redatora, roteirista para rádio, apresentadora de televisão, dubladora, passeadora de cães e agora escritora. O Homem de Giz foi seu romance de estreia.

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