Sinopse Intrínseca: Quando o filho de cinco anos de Juliette e Richard morre de repente após cometer uma série de atos inexplicáveis de violência ― instigado, segundo ele, por uma voz misteriosa ―, o mundo dos dois desmorona. Seis meses depois, Juliette se recusa a sair de casa e passa os dias fazendo gravações no quarto do filho, esperando conseguir provas de que ele continua lá. Enquanto isso, Richard tenta ao máximo não pensar no menino e volta a atenção para o terreno do outro lado da rua, o qual escava pacientemente, em busca de fragmentos de um carvalho lendário. Assombrados por um presente doloroso e uma expectativa interrompida de futuro, os dois são confrontados pela estranheza e pela solidão de um lugar agora tomado pelo sofrimento. De um lado, o luto deixa cada vez mais clara a distância que os separa; de outro, eles buscam desesperadamente uma ponta de esperança ― apenas para desenterrar um profundo terror. (Resenha: Terra Faminta – Andrew Michael Hurley)
Opinião: Terra Faminta é um livro que provoca duas sensações bem distintas na mesma medida. Se por um lado o terror psicológico da enlutada família é bem construído e instiga nossa curiosidade, por outro, o autor não consegue manter o ritmo criado e se perde em um final abrupto que não sacia, perdão pelo trocadilho, nosso interesse despertado. Contudo, ao comparar com o antecessor, Loney (que odiei intensamente), a narrativa aqui apresenta mais qualidade e consegue, como diz, nos envolver de forma mais fácil.
Terra Faminta se passa numa daquelas cidadezinhas rurais do interior inglês. Nada aqui é bucólico e a aridez e desolação do cenário ficam claros desde as primeiras páginas. O ar no livro é sufocante e isso é brilhantemente transmitido na narrativa. Nós literalmente sentimos que a maldade está à espreita. Assim, as lendas agrárias de entidades ou seres que assombram e instigam as pessoas a cometerem atos violentos ou sanguinários ganham vida facilmente. É fácil crer que o sobrenatural habita e influencia essas paragens. Pelo menos, isso funciona com muitos dos habitantes da cidadezinha onde vivem Richard e Juliette, e onde seu filho Ewan morreu aos cinco anos de idade depois de vivenciar alguns desses episódios inexplicáveis.
A trama de Terra Faminta gira em torno do luto de uma família pela perda de seu único filho. Esse é o ponto alto do livro e onde reside sua maior qualidade. A falta de rumos, de chão, de apoio para seguir em frente é muito bem explorada e construída em torno dos dois personagens. O pai, Richard, mergulha no trabalho fazendo escavações num terreno da propriedade em busca dos restos de uma antiga árvore, um carvalho. A mãe, Juliette, se entrega à depressão e ao sentimento de que vê o filho nos cômodos da casa. Ela sente a presença dele e acredita que precisa de ajuda para se conectar novamente ao garoto. Esse luto que os afasta e os aprisiona em seus mundos particulares é construído em etapas. Cada trecho narrativo vai aprofundando as fissuras não só da relação, mas também da sanidade.
Não é preciso dizer que o sobrenatural vai estender suas raízes nessa história, ne? Pois então… À entidade que assombrava o filho do casal vai se somar um passado de tragédias dessa cidadezinha, com enforcamentos e uma relação direta com o tal carvalho que Richard procura. E aí, meus amigos, temos uma combinação interessantíssima de fatores para “tocar o terror” no livro. Mas não…
Andrew M. Hurley construiu magistralmente um cenário e simplesmente decidiu chegar ao desfecho sem maiores detalhamentos ou explicações. Com isso, todo o clima criado foi perdido num fim de história com furos, pontas soltas e aquela sensação de frustração. Tudo ficou extremamente raso, incompleto.
É nítido que Terra Faminta assentava-se em bases sólidas para uma excelente história de terror psicológico, mas após o desfecho ficou apenas meu lamento por todo potencial desperdiçado sabe-se lá por quê. Vale a leitura? Ainda assim, recomendo para os fãs do gênero se aventurarem por essas páginas – pouco mais de duzentas, para vivenciarem a experiência de uma boa ambientação de horror. O difícil é superar a frustração e dar uma nova chance (mais uma) para o autor.
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O Autor: Andrew Michael Hurley nasceu na Inglaterra e seu primeiro romance, Loney, publicado pela Intrínseca, rompeu as fronteiras do mercado independente, recebeu resenhas elogiosas dos principais veículos de imprensa internacionais e conquistou o grande público, além de arrebatar o júri do prestigioso Costa Book Awards, rendendo a Hurley o prêmio de melhor autor estreante de 2015. Também é autor de Devil’s Day e hoje mora em Lancashire, na Inglaterra, onde leciona literatura inglesa e escrita criativa.