Sinopse Rocco: Uma história que começa com a ousadia de um jovem repórter ao entrevistar Louis de Pointe du Lac nascido em 1766 e transformado em vampiro pelo próprio Lestat figura apaixonante que terminará ao longo da série arrebatando multidões como cantor de rock. ´― Quer dizer que ele sugou o seu sangue? – perguntou o rapaz. ― Sim o vampiro sorriu. É assim que se faz.´ Louis esse vampiro que se recusa a livrar-se das características humanas e aceitar a crueldade e a frieza que marcam os vampiros continua a contar a história desde o início:´― Escute mantenha os olhos abertos – murmurou Lestat com os lábios encostados em meu pescoço.― Lembro-me que o movimento de seus lábios arrepiou todos os cabelos de meu corpo enviando uma corrente de sensações através de meu corpo que não me pareceu muito diferente do prazer da paixão…´ (Resenha: Entrevista com o Vampiro – Anne Rice)
Opinião: Esqueça os vampiros imortalizados pela literatura de terror ao decidir mergulhar nas páginas do clássico de Anne Rice. Aliás, deixe de lado tudo o que você tem pré-concebido sobre as míticas criaturas que se alimentam de sangue humano. Entrevista com o Vampiro é um livro único em sua concepção e apresenta uma visão bem diferente, com ares melancólicos, e que em seu conjunto pode ser definido como um drama existencial. Definitivamente essa não é uma obra de horror, tampouco vai causar medo em seus leitores.
Entrevista com o Vampiro é uma extensa narrativa da vida de Louis, vampiro que decide conversar com um repórter e contar, sem censuras, sua trajetória desde que foi transformado pela mordida de Lestat. A questão aqui é que não vamos encontrar uma trama de horrores de gelar a espinha. Sim, teremos mortes, mas elas não assustam e são carregadas por uma descrição mais fria, recheada pelas reflexões de Louis. O vampiro protagonista dessa obra de Anne Rice não é uma máquina de matar, não sente prazer em se alimentar do sangue humano e carrega consigo dúvidas existenciais e questionamentos que vão além da simplicidade. A narrativa por vezes se assemelha a um divã em que o personagem desabafa em busca de respostas para o “ser vampiro”.
Focando no protagonista, Louis, vamos conhecer um jovem que se tornou vampiro, mas não aceita muito bem sua condição e seus instintos. Ele se recusa a agir como um de sua espécie e sempre que pode trilha caminhos alternativos, como beber sangue de animais, por exemplo. A propósito sobre os de sua espécie, Louis não conhece ninguém a não Lestat, o responsável por sua transformação. E este não parece saber muito ou, pelo menos, esconde as informações. Assim, Louis vai seguindo ao longo de todo o livro caminhos tortuosos em busca de entender o vampirismo, movido por sentimentos de humanidade, bondade e compaixão que chegam a ser depressivos, dado tudo o que a literatura já imortalizou sobre vampiros.
No lado oposto, Lestat – tema principal de um segundo livro dessa série, encarna o vampiro tradicional. Deslumbrado por tudo que a riqueza pode comprar, ele vive uma vida de luxo bancada por seu agora aprendiz Louis. Lestat, ao contrário do pupilo, não tem pudores em matar e se satisfazer com o sangue de suas vítimas. E não só isso. Ele gosta de brincar de seduzir as mulheres, instigar a sensualidade e em só um golpe atacar. Lestat poderia ser descrito como o grande vilão que vocês vão conhecer se essa fosse uma história como outra qualquer.
“Os vampiros são assassinos – dizia agora. – Predadores. Cujos olhos onipotentes podem lhe proporcionar objetividade. A capacidade de perceber a vida humana em sua totalidade, sem nenhuma piedade repugnante, mas com a vibrante excitação de ser o fim desta vida, de fazer parte do plano divino.”
Por fim, o livro traz a curiosa figura de Cláudia, uma garotinha vampira que vai encarnar a dualidade de sentimentos. Maldade e bondade, Lestat e Louis. É a partir dessa personagem que a história vai ganhar seus contornos de aventura por outros países e uma busca desenfreada por grupos de vampiros que possam esclarecer as dúvidas que pairam sobre Louis. É o encontro com outros vampiros que vai desencadear o que eu arrisco chamar de momentos mais sanguinolentos do livro, modificando em parte um pouco da essência de Louis que, ali, vai viver e provocar uma intensa tragédia. Mesmo assim…
Entrevista com o Vampiro é um livro de narrativa lenta e com muitas divagações. Então, é bom se preparar para muita concentração e força de vontade. Não temos nenhum elemento que prenda a atenção e nos faça ficar curiosos com o que vem a seguir. Também não há cenas de tensão, pelo menos nada funcionou assim comigo. E como já falei, o lado dramático e depressivo do protagonista se sobressai, fazendo deste um livro de difícil leitura em diversos momentos. Gastei quase dois meses para consumir suas trezentas páginas. Paralelo a isso, a escrita de Anne Rice é cuidadosa, com ambientações ricamente detalhadas e uma composição minuciosa de personagens. A autora desenvolveu muito bem cada personalidade do trio de personagens e nos sentimos bem íntimos de cada um a ponto de entender cada motivação, mesmo os lances mais cruéis.
Imortalizado no cinema pelo filme com Tom Cruise e Brad Pitt, Entrevista com o Vampiro é um daqueles livros que dividem claramente opiniões entre gostar e abandonar a leitura. A edição em capa dura lançada pela editora Rocco tem tradução de Clarice Lispector, o que dá um toque de qualidade a mais para incentivar os leitores.
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A Autora: Anne Rice cresceu em New Orleans vivendo num espectro de estimulação física e artística. Ela foi criada de um jeito diferente e exposta a grandes ideais que a deram um apurado senso de autovalorização. Sua imaginação desenvolveu-se e povoou um mundo de fantasia, usando vários elementos do mundo do mistério e sobrenatural. No entanto, seu senso de nuance e sua herança sulina e irlandesa teve influência suficiente no seu estilo para torná-la uma grande escritora. Os eventos dramáticos que aconteceram em sua vida resultaram numa riqueza emocional que recheia suas obras e cativa muitos leitores.
Sabe que eu tenho sentimentos conflitantes com a obra. Acho Lestat um grande vampiro, porém isso é mais pela atuação de Tom Cruise, que pra mim é perfeita, do que pelo livro, onde ele parece mais um adolescente.
Louis é uma mala, aquele cara nitidamente vitoriano que ficava se lamentando em longos diálogos e pensando em como a vida é dura pros vampiros. Tem livros dela que são bem mais ágeis, como Pandora.
Excelente em sua pegada psicanalítica.