Sinopse Alfaguara: Polêmico, irônico e tocante, este romance narra o amor obsessivo de Humbert Humbert, um cínico intelectual de meia-idade, por Dolores Haze, Lolita, 12 anos, uma ninfeta que inflama suas loucuras e seus desejos mais agudos. Através da voz de Humbert Humbert, o leitor nunca sabe ao certo quem é a caça, quem é o caçador. A obra-prima de Nabokov não é apenas uma assombrosa história de paixão e ruína. É também uma viagem de redescoberta pela América; é a exploração da linguagem e de seus matizes; é uma mostra da arte narrativa em seu auge. Na literatura contemporânea, não existe romance como Lolita. (Resenha: Lolita – Vladimir Nabobov)
Opinião: Tendo lido ou não, tendo visto ou não, todo mundo já ouviu falar de Lolita em algum momento da vida. Num episódio de Pretty Little Liars, nas letras de Lana Del Rey ou até mesmo na capa de One of the Boys, da Katy Perry. São muitas as referências feitas a esse clássico da literatura. E que clássico, meus amigos!
Sempre tive muita curiosidade de ler, mas também um pouco de receio. Lembro de alguns comentários sobre a leitura ser um pouco difícil e arrastada; não ser isso tudo que todo mundo fala, “tem melhores”, etc… Então, demorei quase dez anos para criar coragem (e vergonha na cara) para encarar Lolita. Para falar a verdade, eu nem sei o que me fez tirar o pó desse livro agora, mas com toda a certeza foi a melhor escolha que fiz no ano até agora.
“Lolita, luz da minha vida, fogo da minha carne. Minha alma, meu pecado. Lo-li-ta: a ponta da língua toca em três pontos consecutivos do palato para encostar, ao três, nos dentes. Lo. Li. Ta. Ela era Lo, apenas Lo, pela manhã, um metro e quarenta e cinco de altura e um pé de meia só. Era Lola de calças compridas. Era Dolly na escola. Dolores na linha pontilhada. Mas nos meus braços sempre foi Lolita.” (Pág. 11)
Esta é a porta de entrada do primeiro capítulo. E, por si só, já diz muita coisa sobre o que iremos encontrar nas sombrias páginas deste livro. Logo depois de descobrir no Prefácio – e isto não é um spoiler! – que todas as pessoas envolvidas na história já estão mortas e que, então, o único ponto de vista que teremos acesso é o do próprio Humbert Humbert, podemos ter em mente que ele vai ser um narrador nada confiável (à la Bentinho em Dom Casmurro). Portanto, muito cuidado ao ler esta obra, fique sempre atento, porque somos inseridos na mente de um pedófilo. Vamos acompanhar a versão dele dos fatos, o que é muito perigoso. H. H. é um professor e tem um vocabulário rebuscado demais. A narrativa desse livro beira a poesia, tudo é escrito de uma forma incrivelmente bela. É exatamente aí que mora o perigo. Humbert conseguiu e ainda consegue seduzir muitos leitores pelo seu dom de escrita.
A narrativa inteira é uma conversa entre Humbert e os leitores, que são os membros do júri. Sim, ele está preso, mas nós não sabemos do que ele foi acusado. Esse é um mistério que perdura até o fim da história. E, durante toda essa conversa, Humbert Humbert não economiza nas palavras. São páginas e páginas de descrições, pensamentos, histórias passadas e, o que mais me chamou a atenção, quase nenhum diálogo. Acredito que esse é um ponto que pode desanimar as pessoas, porque geralmente livros sem muitos diálogos não flueem muito bem, chegam a ser maçantes, mas esse definitivamente não é o caso de Lolita.
Demorei mais do que o meu normal para ler? Sim, fiquei uma semana lendo essa história. Mas não porque achei maçante ou porque a leitura não fluia. Foi porque, simplesmente, tinham cenas ou falas/pensamentos do Humbert que eram a gota d’água para mim. Daí eu parava, dava uma relaxada, via algum filme leve, coisas assim. Consegui aproveitar bem a leitura e tenho certeza que vou querer reler algum dia. Porém, é uma trama que incomoda e coloca o leitor em situações extremamente desconfortáveis.
É importante deixar claro que esta não é uma história de amor. O relacionamento forçado por homem de 37 anos numa criança de 12 não é, nunca foi e nunca será uma história de amor. O próprio Humbert não se livra da culpa. Inclusive, ele se reconhece como doente e reafirma isso diversas vezes. Em determinado ponto da história, é até possível sentir empatia pelo personagem, mas não a ponto de todas as atrocidades que ele cometeu serem perdoadas.
Não posso falar muito mais sobre ou vou acabar dando algum spoiler, mas Nabokov fez um ótimo trabalho ao não tirar a culpa do narrador, esfregar todos os erros de Humbert na cara do leitor diversas vezes. Porque, com certeza, esta história seria muito mais romantizada do que já é. Quantas vezes você já ouviu pessoas exaltando o amor de Humbert e Dolores (não a chamo de Lolita porque, né, foi o apelido dado pelo pedófilo para sexualizar uma criança)? Vou deixar aqui embaixo uma última citação. Ela se encontra mais ao final do livro.
“Eu seria hipócrita se dissesse – e o leitor um tolo se acreditasse – que o choque de perder Lolita me havia curado da pedofilia.”(Pág. 260)
Essa parte me impactou bastante justamente em relação a essa romantização da história e sexualização das atrizes nos dois filmes – que, na minha humilde opinião, não captaram a essência problemática da obra original e ainda colocaram atrizes mais velhas para representar Dolores e dar certa responsabilidade da história à ela.
Bom, veredito final… Lolita é uma história extremamente densa, bem escrita, angustiante e… maravilhosa! É um livro que trata de assuntos importantíssimos e que devem ser discutidos na sociedade. Sugiro que se você tiver apenas assistido aos filmes, dê uma chance ao livro. Comecei do nada e foi a melhor leitura de 2021 até agora. Recomendo demais!
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O Autor: Vladimir Nabobov nasceu em São Petersburgo, na Rússia, em 1899. Estudou literatura francesa e russa no Trinity College, em Cambridge, e em seguida viveu em Berlim e Paris. Em 1940 emigrou para os Estados Unidos, onde fez carreira brilhante como romancista, poeta, crítico e tradutor. Em 1961 mudou-se para Montreux, na Suíça, onde morreu em 1977.
Eu estou buscando coragem para ler esse livro. Depois de ler a sia resenha acredito que vou colocar ele na minha lista de 2021.
Primeira resenha que – ao meu ver, conseguiu captar a essência dessa obra prima. Muitas blogueiras que se dizem leitoras ávidas não conseguiram terminar essa leitura; tampouco captar o que o autor quis passar (ele também foi vítima de abuso na infância). Enfim, não é pra qualquer um. Parabéns pelo discernimento :))