Sinopse Alfaguara: O papa, um reformista com antipatia pela pompa do cargo, acaba de morrer. Dias depois, mais de cem cardeais do mundo todo se reúnem para eleger seu sucessor. São todos homens santos, mas têm rivalidades, ambições e fraquezas, e, nas próximas setenta e duas horas, um deles se tornará a figura espiritual mais poderosa da Terra. A tarefa não se mostrará nada simples, pois entre os elegíveis e os grupos que se formam em torno deles há diferenças inconciliáveis: globalistas e isolacionistas, os que clamam pelo primeiro papa negro, religiosos com fortes opiniões sobre o papel das mulheres e do casamento gay, as correntes conservadoras e os reformistas, os que rejeitam a riqueza e os que abraçam o luxo. E, para completar, surge a notícia de que o falecido papa elegeu em segredo um cardeal até então desconhecido de todos. O palco está armado para o confronto. Um romance instigante em que o poder de Deus é quase igualado à ambição dos homens. (Resenha: Conclave – Robert Harris)

Opinião: Admiro e tenho um respeito muito grande por tradições seculares. Independente da crença, acredito que há certos costumes, que geralmente ultrapassam gerações, que devem ser mantidos e preservados a despeito de qualquer evolução. A escolha de um papa é um deles. Afinal, existe algo mais simbólico e que mexe com a atenção do mundo do que aquela espera pela fumaça branca a emergir da chaminé da Capela Sistina?

Um conclave é a reunião de cardeais para eleger um novo papa. Isolados do mundo, eles têm a Deus como inspiração para, entre si, designar quem conduzirá a Igreja Católica pelos próximos anos. Mas é um sistema complexo que exige uma maioria de votos. As eleições vão se sucedendo até que alguém seja eleito. E a tal fumaça é o sinal que o mundo exterior recebe: fumaça preta, ninguém foi escolhido; fumaça branca, habemus papam. Em minha curta trajetória de vida acompanhei dois conclaves, que elegeram Bento XVI e Francisco. Vale ressaltar que pude testemunhar um fato histórico e que não ocorria há séculos, um conclave convocado para eleger um papa após a renúncia de outro. Renunciar a esse cargo é algo incomum. Quem aceita ser papa deve sê-lo até a morte.

Em se tratando de algo feito por homens, falíveis como todos nós, um conclave, por mais inspiração divina que possa ter, não escapa às conspirações de bastidores. Todos sabemos que há núcleos diferentes de pensamento dentro da Igreja Católica. Há conservadores e progressistas. E na escolha de um papa, pesa muito o que aquele grupo de cardeis, nem sempre coeso, deseja para a condução de sua Igreja. Logo, um conclave está sujeito a pequenas disputas, conversas ao pé do ouvido, grupos tentando influenciar ou convencer outros grupos para que, no fim, seja eleito alguém que represente um ideal. O perfil de um papa é a mensagem que se passa ao mundo de como a Igreja vai se posicionar enquanto ele for vivo.

“Os homens perigosos, os que têm que ser detidos, são aqueles que, de fato, desejam ser papas”, diz Robert Harris em uma de suas mais fascinantes obras. Conclave é uma ficção minuciosamente construída com base em fatos. O hábil talento de ambientação e reprodução da realidade de Harris já é velho conhecido dos leitores. E, por favor, se você ainda não leu nada dele, leia com urgência. Em Conclave ele eleva esse talento à máxima potência. Somos literalmente trancafiados junto aos cardeais na Capela Sistina para acompanhar todo o embate e a dúvida íntima que os persegue a cada eleição em que não se atinge um consenso.

Pelo ponto de vista do Cardeal Lomeli, decano e, portanto, responsável, por conduzir o conclave, acompanhamos uma eleição incomum. Harris cria um ambiente completo com todas as tensões possíveis para que o leitor tenha emoções à flor da pele. Fica clara que a ficção foi forçada demais para servir ao objetivo da história. Talvez isso incomode os mais puristas que esperam uma fidelidade absoluta, mas a mim, serviu como distração acompanhar às muitas reviravoltas que a eleição teve. E o desfecho é surpreendente. Não pelo nome escolhido, que logo fica claro para os leitores quem será. Mas pelo segredo que ele guarda consigo.

Conclave é um desses suspenses históricos que envolvem não só por tratar de um tema que, como disse, é fascinante por toda a tradição e mistério que guarda, como também pelos subtemas extremamente atuais que o autor traz para debate ao longo da história. Impossível negar o poder e a influência que um papa, como líder da Igreja e como chefe de Estado, tem no mundo. Milhares de fiéis são conduzidos por suas palavras, e sua orientação pode definir rumos. Portanto, essa eleição que se dá a portas lacradas e vem se repetindo ao longo dos séculos, é de fundamental importância para nossa sociedade. Papas podem contribuir na mudança de rumo do mundo, como João Paulo II, ou na mudança de posicionamento da própria Igreja, como João XXIII.

Nas palavras do fictício cardeal Lomeli, “sua crença de que Deus podia ser encontrado mais facilmente nos lugares mais pobres e mais desesperados da Terra, e não nas confortáveis paróquias do Primeiro Mundo, e que era preciso ter uma grande coragem para partir à sua procura”.

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Munique

O Autor: Robert Harris é autor de mais de doze best-sellers, além de ser vencedor de diversos prêmios, incluindo o Walter Scott de Ficção Histórica. Seus livros já foram traduzidos para mais de 35 idiomas, e ele é membro da Royal Society of Literature. Atualmente, vive na Inglaterra com a esposa, Gill Hornby.

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