Sinopse M. Books: Líder soviético, ativista, revolucionário, ditador. O codinome “stalin” (homem de aço) servia para encobrir josef vissarionovich djugashvili com uma armadura, criando uma imagem de pai para todo o comunismo mundial. Este livro narra sua infância na Geórgia, seu primeiro despertar político, sua vida criminosa, sua ascensão dentro do partido bolchevique e seus períodos de exílio. O autor mapeia seu surgimento como líder, sua ideologia política, os efeitos de suas políticas de industrialização, o modo como lidou com a fome em seu governo e seu uso da polícia secreta e dos gulags, especialmente durante os expurgos da década de 1930. O livro mostra Stalin como um líder de guerra durante a segunda guerra mundial e o modo como ele colocou a Europa oriental atrás da “cortina de ferro” durante a guerra fria. O autor investiga a teoria de que o ditador pode ter sido assassinado por pessoas próximas a ele, e mostra como rapidamente as principais figuras soviéticas denunciaram o culto à sua personalidade logo após a sua morte. Ilustrado com 180 fotos, pinturas e obras de arte. (Resenha: Stalin – Michael Kerrigan)
Opinião: “Este é Stalin. Stalin é um poder soviético. Stalin é o que ele é nos jornais e retratos”. O trecho acima, apontado como parte de uma conversa entre Stalin e seu filho, evidencia o quanto o culto ao nome e à figura do líder soviético sobrepuseram o homem. Stalin tornou-se algo como uma entidade a pairar sobre a URSS, encarnado na pessoa que até hoje desperta ódios e paixões. Uma controvérsia muito distante de seu fim. Tal qual um Dr. Jekyll, podemos enxergá-lo tanto como uma forte liderança que construiu uma potência, quanto como um monstro que perseguia e matava a toque de caixa.
Criança que apanhava da mãe, jovem com passagens criminosas, estrategista para diversas ações pré-revolução e liderança a galgar degraus até se tornar substituto de Lênin e comandar com impiedosa mão de aço a URSS. É possível em meio a diferentes versões e a um minucioso trabalho de desconstrução pós-morte entender verdadeiramente quem foi Stalin? Se perguntarmos para diferentes matizes ideológicos no Brasil de hoje, por exemplo, teremos adoração, defesa, condenação e até um “valha-me Deus”. Em meio aos tais ódios e paixões, Michael Kerrigan, em seu Stalin, decidiu se embrenhar na tarefa de construir não uma biografia, porque a obra carece de maior detalhamento para isso, mas um retrato panorâmico do homem, do político e de sua época.
Escrito com uma boa linguagem jornalística de objetividade, e concebido, na minha visão, como uma grande reportagem com dezenas de fotografias e boxes de texto complementar, Stalin é uma obra introdutória para quem deseja desvendar a União Soviética a partir do governo de seu maior líder. E, ponto positivo, com algumas interessantes doses de imparcialidade. Em nenhum momento a balança pende nem para a defesa nem para o ataque, deixando conclusões por conta dos leitores.
Curioso perceber, a partir da obra, que Stalin em muitos aspectos se manteve nos bastidores e foi a partir deles que construiu a escada que o levaria ao topo. Antes da subida bolchevique ao poder, ele liderava atos de ataques, assaltos, era o estrategista, talvez a pessoa da inteligência para rápidas ações. Com a morte de Lênin, assume o poder e se empodera tal qual um faraó. Ausente a religião, suas muitas estátuas, retratos, quadros, pinturas, fazem a vez de ícone religioso. Paranoico, ele não hesitava em eliminar opositores ou quem quer que causasse sua desconfiança. Autoritário, ele perseguia implacavelmente. Inocente (?!), ele custou a acreditar que Hitler invadiria a Rússia. E nos últimos suspiros da Segunda Grande Guerra foi figura central junto a Roosevelt e Churchill. Dos bastidores para o pódio. O quão friamente tudo foi calculado?
Por mais forte que a URSS tenha se tornado durante seu governo, e por mais amado que tenha sido por seu povo, Stalin morreu e foi rapidamente desconstruído. Os números hoje apontam as dezenas de milhares de vidas que ele não poupou. Sua face é mais monstruosa que benevolente. Mas essa é a minha opinião. E se dizem que a história julga os atos, décadas depois ainda há um julgamento em aberto a respeito dessa figura. Longe de buscar consensos, mergulhar na leitura de Stalin é abrir uma fresta necessária para, talvez, entendermos que regimes totalitários não podem ter vez. Os fins jamais vão justificar os meios.
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O Autor: Michael Kerrigan é autor de Dark History of the Catholic Church, World War II Plans That Never Happened, Hitler: The Man Behind te Monster e Enigma entre outros títulos. Ele é crítico de literatura para publicações como The Guardian e o Times Literary Supplement. Mora em Edimburgo, Escócia.