Resenha: Nocturna – Maya Motayne

Sinopse Seguinte: Depois de se libertar da dominação dos inglésios, o reino de Castallan não esperava passar por mais nenhuma crise. Mas Dez, o herdeiro, foi assassinado, e agora nobres e plebeus precisam aceitar que o destino do reino está nas mãos do príncipe Alfie, que passou meses fugindo de suas obrigações enquanto bebia tequila em alto-mar. De volta a Castallan, Alfie não consegue acreditar que seu irmão morreu e, tentando provar o contrário, se depara com Finn Voy. Graças a sua habilidade de assumir a aparência de qualquer pessoa, Finn está sempre usando um disfarce para se proteger dos traumas de seu passado e de qualquer um que se meter em seu caminho. Quando os destinos de Alfie e Finn se cruzam, eles acidentalmente libertam uma magia poderosa e antiga que, se não for detida, vai mergulhar o mundo em escuridão. Com o futuro de Castallan em suas mãos, o príncipe e a ladra terão de aprisionar essa magia obscura a qualquer custo, mesmo que, no caminho, precisem confrontar seus segredos mais sombrios. (Resenha: Nocturna – Maya Motayne)

Opinião: Certo, vamos fazer uma brincadeira rápida: em poucos segundos, conte aí nos dedos as fantasias voltadas para o público mais jovem que tenham os seguintes elementos: reinos prósperos, mas não tão prósperos assim, se considerarmos sua população miserável que vive à margem, sem tantas regalias; realeza frágil, com tantos segredos que, se descobertos, poriam tudo a perder; e príncipes ou princesas desejando viver aventuras ou procurando por um sentido maior de vida ou qualquer coisa assim. E o/a rebelde? Sempre há o/a rebelde. Aposto que faltariam dedos, não é? A verdade é que Nocturna, primeiro volume de uma trilogia de fantasia da autora Maya Motayne, publicado pela editora Seguinte em agosto de 2019, com tradução de Flávia Souto Maior, não se arrisca a ir além disso. Motayne até tenta se desvencilhar dessa fórmula já vista em tantos outros livros e se destacar com algo diferente, com suas referências latinas, mas, ao meu ver, não tiveram força.

A cultura latino-americana é riquíssima, resultado histórico de uma miscigenação de outras culturas ao longo do tempo, mas, aqui, nessa história, ela se limitou às palavras em espanhol ditas em alguns momentos da narrativa, aos vitrais de cores quentes – que inclusive aparecem na capa, ilustrada por Mark Van Leeuwen – e às referências ao processo de colonização e suas consequências que, fora da ficção, realmente existiram. Talvez essa ausência possa ser justificada pelo fato de esse ser o primeiro livro de um total de três, embora não anule a frustração. Um pouco perigoso quando o seu diferencial, em um mercado literário com tantas opções semelhantes, acabe não funcionando da maneira esperada, não é? Até porque a magia presente nesse mundo também é genérica, com poucos pontos inovadores. Porém, por esse ter sido o romance de estreia da autora (norte-americana), acredito que o futuro possa ser mais promissor.

Embora seus pais sempre falassem sobre o que havia sido tirado deles durante o reinado de Inglésia – sua autonomia, sua magia, sua cultura, seu orgulho -, para Alfie, a questão não era tanto o que havia sido tirado, mas sim como Castallan havia recuperado pouco daquilo que era após expulsar seus conquistadores.

– Página 53

Torço para que essa seja a abordagem escolhida pela autora, de mostrar, ao longo da trilogia, a cultura sendo aos poucos resgatada, refletindo no texto. Torço também para que os próximos volumes sejam tão gostosos e leves de se ler. Nocturna, com suas quase 500 páginas, é uma história rápida e dinâmica, com bastante ação, jogos com muita magia e algumas reviravoltas. Interessante notar também que, mesmo repetindo algumas qualidades já vistas em outras histórias, a autora possui certa destreza em conduzir a sua narrativa, carregando o leitor até o final com um ritmo bastante agradável, daquele jeito que adoramos, com revelações aqui e ali, alimentando a nossa curiosidade. Além disso, a trama trabalha ainda conceitos sobre família e luto, sobre a relação entre irmãos, sobre correr atrás dos objetivos e sobre ações e consequências. Por fim, fala ainda a respeito do poder e da importância que a linguagem possui para um povo.

Apesar de todos os contratempos, Nocturna foi uma leitura que gostei de fazer, apesar de estar na contramão das minhas expectativas. Com um pouco mais de força e identidade, é um mundo de fantasia que tem tudo para crescer e se destacar dos demais, e espero ver isso acontecendo na sequência, que muito provavelmente chega ainda em 2020. Finn e Alfie, espero vê-los novamente, ainda mais fortes e mais destemidos! Até, mis amigos.

finn jogou o nervosismo no fundo do poço que havia dentro dela, onde mantinha os medos, as angústias… tudo que não pode se dar ao luxo de sentir se quisesse sobreviver.

– Página 30

Compre na Amazon

A autora: Maya Motayne mora em Nova York e decidiu que queria ser escritora aos quatro anos. Desde então nunca parou de escrever. Seus sonhos são fazer carinho no maior número de cachorros possível e comprar apenas bolsas onde caibam livros grossos.

Compartilhar
Artigo anteriorResenha: A Faca Sutil – Philip Pullman
Próximo artigoConheça Caminho Longo, um romance LGBTQ+
Futuro enfermeiro e fanático assumido pela Marvel, principalmente por heroínas. Mineiro, passa a maior parte do seu tempo esperando pela sua carta de Hogwarts e sonhando em ser chamado para a iniciativa Vingadores. Gosta de todo tipo de livro, apaixonado por cinema e ainda mais por música.

Deixe uma resposta