Sinopse Morro Branco: Não chove em Kiewarra, Austrália, há dois anos. As tensões na comunidade agrícola tornam-se insuportáveis quando três membros da família Hadler são encontrados mortos em sua propriedade. Todos acham que Luke Hadler matou a esposa e o filho de seis anos de idade e depois cometeu suicídio. Apenas a filha mais nova, ainda bebê, sobrevive. O policial Aaron Falk retorna à sua cidade natal para os funerais e se vê atraído para a investigação. Enquanto a suspeita paira sobre todos os moradores da cidade, Falk é forçado a confrontar a comunidade que o rejeitou vinte anos atrás. Um segredo que ele pensou estar enterrado há tempos ameaça voltar à tona com a morte de Luke. Velhas feridas se reabrirão nesta cidade árida. (Resenha: A Seca – Jane Harper)

Opinião: O badalado e premiadíssimo livro de estreia de Jane Harper é denso e se caracteriza bem mais como um drama de uma cidade pequena do que como um thriller. Há dois mistérios pairando no ar. Um muito antigo e cujas feridas se mostram ainda longe de cicatrizar. O outro é o motivo pelo qual a história ganha vida. Contudo, descobrir a verdade acaba se tornando secundário a partir de uma obra em que passar a limpo mal-entendidos, reviver o passado e encontrar a paz para seguir em frente são os pontos mais importantes da narrativa.

A Seca é uma obra policial bem distinta do que estamos acostumados. A partir de um massacre seguido de suicídio que abala a comunidade local, uma cidadezinha minúscula encravada no meio do nada e sofrendo com a falta de chuva que já se prolonga por anos, a trama ensaia uma investigação, mas percorre mesmo são os caminhos do acerto de contas. O protagonista Aaron Falk retorna a sua terra de infância para o enterro do melhor amigo. Ali, encontra uma sociedade que não esqueceu o passado e guarda desconfianças e rancores. Encontra também motivos para duvidar de que seu amigo fosse capaz de matar a família. Por fim, entende que retornar para sua vida normal exige necessariamente que os esqueletos do passado e do presente sejam bem enterrados sob o manto da verdade.

A escrita de Harper é carregada. Diálogos, flashbacks, cenas do cotidiano ou conversas mais sérias, tudo tem o peso da reflexão. Não é uma trama leve que flui agilmente. Pelo contrário, o livro chega a se arrastar em alguns momentos tamanha a carga de drama e questões pessoais sendo passadas a limpo pelos personagens. Como falei, A Seca traz um grande acerto de contas de Aaron com a cidade que o expulsou, que faz mal juízo dele e de seu pai, e que insiste em manter certos segredos essenciais ainda muito bem guardados. Com isso, a obra é recheada de pequenos trechos do passado que vão alinhavando ou esclarecendo passagens ou diálogos recentes e construindo, assim, o panorama que precisamos para entender a história.

A Seca me conquistou pela qualidade narrativa, mas também se mostrou um livro de pouca empatia. Foi uma história por demais burocrática em que pouco me envolvi com tudo que era narrado. O desfecho, correto até certo ponto, foi sendo antecipado por pequenas pistas escondidas em alguns trechos. Mas o desfecho completo, que encerra a história, deixou claro que por mais que se tente e por mais que a verdade venha à tona, alguns segredos sempre permanecerão bem guardados. Talvez isso seja a dinâmica de vida de uma pequena cidade. Elas sempre terão seus segredos.

A Seca é um livro que exige paciência e um mergulho em seus mistérios. O clima árido, quente e ressecado que serve de cenário para a trama transborda para a história como um todo, fazendo deste um livro tão árido quanto. É a trajetória de um homem, de uma família, de um grupo de amigos e de uma sociedade. Uma paisagem em que água secou e foi substituída pelo sangue.

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A Seca

A Autora: Jane Harper nasceu em Manchester, Inglaterra, mas passou grande parte da infância na Austrália. Estudou Inglês e História na Universidade de Kent, onde se formou com especialização em Jornalismo. A escritora atuou na área por muitos anos, trabalhando em publicações de renome como o Herald Sun. Após ficar entre os finalistas de um concurso de literatura, resolveu fazer carreira na ficção, e a aposta foi bem-sucedida: A Seca, seu livro de estreia, foi considerado o livro do ano em vários veículos de comunicação. Hoje, Jane mora na baía de Melbourne com o marido e a filha.

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Jornalista e aprendiz de serial killer. Assumidamente um bookaholic, é fã do mestre Stephen King e da literatura de horror e terror. Entre os gêneros e autores preferidos estão ficção científica, suspense, romance histórico, John Grisham, Robin Cook, Bernard Cornwell, Isaac Asimov, Philip K. Dick, Saramago, Vargas Llosa, e etc. infinitas…

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