Resenha: O Conto da Aia Graphic Novel
Sinopse Rocco: Tudo o que as Aias usam é vermelho: como a cor do sangue, que nos define. Offred é uma aia da República de Gilead, um lugar onde as mulheres são proibidas de ler, trabalhar e manter amizades. Ela serve na casa do Comandante e de sua esposa, e sob a nova ordem social ela tem apenas um propósito: uma vez por mês, deve deitar-se de costas e rezar para que o Comandante a engravide, porque em uma época de declínio da natalidade, Offred e as outras Aias têm valor apenas se forem férteis. Mas Offred se recorda dos anos anteriores a Gilead, quando era uma mulher independente, com um emprego, uma família e um nome próprio. Hoje, suas lembranças e sua vontade de sobreviver são atos de rebeldia. Provocante, surpreendente, profético. Nessa nova versão em graphic novel, com arte arrebatadora de Renée Nault, a aterrorizante realidade de Gilead é trazida à vida como nunca antes. (Resenha: O Conto da Aia – Graphic Novel – Margaret Atwood)
Opinião: Fenômeno editorial, O Conto da Aia ganhou versões para as telas e para o teatro e popularizou uma história que lá no seu lançamento, nos anos 1980, não causou o frisson que vem provocando nos dias atuais. Talvez porque, mais do que nunca, os ecos da trama de Margareth Atwood estejam se fazendo ouvir no mundo real a partir da ação de políticas, ideologias e políticos. A ditadura religiosa da República de Gilead ameaça ultrapassar os limites das páginas do livro e se assentar em nossa sociedade a partir do crescimento de grupos conservadores, à direita e à esquerda, que têm sua própria e particular interpretação bíblica como referência de vida.
Essa sociedade aterrorizante ganhou as cores e as imagens ideais para representa-la na graphic novel O Conto da Aia, adaptada pela artista Renée Nault. A obra, em edição luxuosa da Rocco, é tão ou mais chocante que o livro. Porque o sofrimento dos personagens foi retratado em traços tão delicados quanto assombrosos. A Aia Offred e sua jornada de procriação, silêncio e exclusão foi condensada na HQ de forma a passar claramente aos leitores menos propensos a encarar o livro a mensagem da loucura que a fé sem limites pode provocar no mundo. Os principais acontecimentos da obra estão presentes. Com o adicional de desenhos fortes, cenas perturbadoras capazes de nos fazer parar a leitura para ficar contemplando o absurdo.
Sem me ater a resenhar o já conhecido conteúdo da obra, que vocês podem conferir aqui, destaco a qualidade gráfica do material. Cada um de nós, ao ler O Conto da Aia, muito antes da série de televisão imortalizar personagens, idealizou essa sociedade masculina, machista e, em alguns casos, apoiada por algumas mulheres a seu modo. E impressiona o quanto o retrato pintado pela artista na graphic novel é notável. Ela deu vida a cenas tristes, a lembranças nostálgicas, ao sofrimento, aos sonhos… Em alguns momentos de forma singela, fazendo com que um simples quadrinho com um recorte de cena, provocasse a reflexão necessária. Em outros, expondo um muro com corpos dependurados e, sem necessidade de textos, evidenciando a ilimitada maldade.
O resumo, e o alerta, de O Conto da Aia, na minha interpretação fica para o fanatismo. É a partir dele que governos autoritários desvirtuam a sociedade impondo uma visão retrógrada que satisfaz a grupos de interesses bem definidos. A teocracia já mostrou a que veio no Irã do fim dos anos 1970 e estendeu seus tentáculos com força no Oriente Médio. Tímida ela avança pelo nosso Ocidente travestida de defesa de valores familiares e cristãos. Se dermos atenção e não vigiarmos o suficiente, Aias poderão sair das páginas do livro para nossa convivência.
Trabalho primoroso de sensibilidade e talento artístico, O Conto da Aia em graphic novel vem reforçar o imortal poder da mensagem de Margareth Atwood. Leiam livro e HQ. Com calma e fazendo toda a reflexão que a obra exige. Deixem-se tocar por essa sociedade e ergam os olhos para a sociedade que os rodeia, aqui e no mundo.
“Se isto é o meu fim ou um novo começo não tenho nenhum meio de saber”.
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Da Autora leia também:
Os Autores: Margaret Atwood é uma escritora canadense: romancista, poetisa, ensaísta e contista, foi galardoada com inúmeros prêmios literários internacionais importantes (Arthur C. Clarke Award, Prince of Asturias, Booker Prize). Recebeu a Ordem do Canadá, a mais alta distinção em seu país além de ter sido indicada várias vezes para o Booker Prize – tendo o ganhado no ano 2000 com o romance O Assassino Cego (The Blind Assassin, 2000). Outros romances de sua autoria são Olho de Gato (Cat’s Eye, 1988) e Oryx & Crake (2003). Sua obra é conhecida por mesclar uma fina veia irônica e lúdica com uma aguçada perspicácia para questões contemporâneas – como as relações de gênero e o meio ambiente.
Renée Nault é uma artista canadense conhecida por suas ilustrações oníricas, de cores vivas em aquarela e tinta. Seu trabalho apareceu em livros, revistas e graphic novels em todo o mundo. Atualmente mora em Victoria, na Colúmbia Britânica.