Resenha: O Primeiro Imortal – Rodrigo Alvarez
Sinopse Arqueiro: Em 1987, na Península de Yamal, na Sibéria, uma descoberta pode mudar o futuro da humanidade. Durante uma caçada, o soviético Yuri encontra dentro de uma caverna de gelo quatro corpos de seres humanos, que ficaram congelados e preservados por 38 mil anos. Reconhecendo a oportunidade de ganhar uma fortuna, o ganancioso primo de Yuri vende um deles, clandestinamente, a membros de uma sociedade secreta que há décadas busca desvendar o enigma da imortalidade. Quando o impensável acontece e eles conseguem trazer o corpo de volta à vida, cientistas de várias partes do mundo entram em uma disputa sem limites pelo homem que venceu a morte. Só que, ao retomar a consciência, o primeiro imortal recupera também suas memórias, desejos e sonhos. E decide reaver o que é seu, fazendo com que o projeto saia totalmente de controle. (Resenha: O Primeiro Imortal – Rodrigo Alvarez)
Opinião: Se existe algo, de fato, cobiçado pelo ser humano, tal coisa é a imortalidade. Para além das páginas da ficção, a busca por driblar a morte e se perpetuar no mundo move as pessoas desde sempre. Crenças seculares pregam a ressurreição em um tal dia final ou travessias da alma para lugares de vida eterna. Mas à espreita está aquele desejo de não temer jamais que o coração pare de bater. Da pedra filosofal à ciência que desvenda os mistérios do DNA. Da criogenia ao transumanismo. Queremos mesmo é viver para sempre!
Combustível das mais fascinantes histórias de ficção científica, com bons toques de drama, a imortalidade dá as caras na literatura brasileira pelas mãos de um autor que já escreveu sobre nada mais nada menos do que Jesus Cristo. O jornalista Rodrigo Alvarez sai do homem real que marcou a história para imaginar um homem fictício que pode escrever uma nova história. O Primeiro Imortal tem absolutamente todos os ingredientes de um bom suspense, embora se sustente em drama com boas doses de reflexão. Guardadas as devidas diferenças e estilos, em um ou outro momento não seria exagero comparar a construção geral do livro com as investigações mirabolantes do Robert Langdon de Dan Brown.
Partindo de boas bases na realidade, a partir de movimentos que cada vez mais ganham adeptos, sendo o mais famoso deles o da criogenia, que é a preservação do corpo em temperaturas muito frias para que seja reanimado futuramente, O Primeiro Imortal passeia por países e técnicas científicas buscando desvendar o segredo da imortalidade. A trama nasce a partir da descoberta de corpos pré-históricos extremamente bem preservados no gelo. É um deles, posteriormente nomeado de Ignatius, que vai sofrer literalmente todo o tipo de teste para ser reanimado. De volta à vida, o “homem das cavernas” se vê perdido em um mundo que não é o seu e disputado pelo jogo de interesses, vaidades e ambições que move cada um de nós.
O Primeiro Imortal se divide, na minha visão, em duas tramas que se complementam. A primeira delas diz respeito ao homem que volta à vida milênios depois de sua morte. A Terra dos mamutes, caçadas e tentativas de dominar o fogo já ficou pra trás. Qual o lugar desse homem nesse mundo? Sei que é uma pergunta extremamente complicada, mas há lugar para ele aqui? Me perguntei isso porque questionei se é nosso papel trazer à vida pessoas que, teoricamente, já passaram por aqui e cumpriram sua missão. Ok! Isso é um discurso com inspiração pra lá de religiosa, mas as reações de Ignatius e a forma como ele encontra o planeta plantam boas doses de perguntas em nós.
A segunda trama traz a visão do autor de que não há muitos méritos na busca pela imortalidade que resistam à ambição intrínseca à natureza humana. Absolutamente nenhum dos personagens envolvidos no processo de busca pela imortalidade são guiados por princípios de um bem maior. No fundo, almeja-se a própria imortalidade, o ganho de dinheiro e a fama, consagração, reconhecimento. Ambição e vaidade andam de mãos dadas em boa parte das páginas de O Primeiro Imortal. Ah, e quando o nosso pré-histórico Ignatius ganha a vida de volta, ele é tratado como peça, item de pesquisa, propriedade de países. Ninguém enxerga nele um ser humano.
Unindo as duas tramas que vislumbrei no livro, fica a reflexão de que a busca pela imortalidade não visa ao bem da humanidade. É algo restrito aos poderes que o dinheiro e a política possam comprar. Há muita ética a ser discutida que não talvez nunca seja. Há muitas chances de absurdos serem cometidos em nome de algo que não se sabe bem qual utilidade terá. Vale mesmo a pena viver eternamente ou a lei que a natureza impôs deve ser respeitada? Com muita informação histórica, curiosidades, improváveis desdobramentos que só a ficção permite e ritmo de thriller, O Primeiro Imortal é um brasileiríssimo livro a te fazer pensar na resposta para essa pergunta.
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O Autor: Rodrigo N. Alvarez já vendeu mais de 800 mil livros, que foram publicados no Brasil, em Portugal e na América Latina. Viajou por mais de 50 países e morou nos Estados Unidos, na Europa e em Jerusalém. Durante suas viagens, muitas vezes por lugares pouco explorados, obteve inspiração e colheu informações para escrever O Primeiro Imortal. Nascido no Rio de Janeiro, atualmente mora com a família nos arredores da floresta de Fontainebleau, ao sul de Paris.
