Sinopse Intrínseca: Aos 15 anos, Will conhece intimamente a violência. Ela está à espreita no dia a dia de seu bairro, nos avisos para que não volte tarde para casa, nos sussurros dos vizinhos sobre mais uma pessoa que foi morta. Dessa vez, os sussurros são sobre seu irmão mais velho. Shawn foi assassinado na rua onde a família mora. Contado do ponto de vista de Will, Daqui pra Baixo é uma narrativa ágil que se passa em pouco mais de um minuto — o tempo que o elevador do prédio leva para chegar ao térreo. Esse é o tempo que Will tem para descobrir se vai seguir as regras de sua comunidade ou se é possível não perpetuar o ciclo de violência. (Resenha: Daqui pra Baixo – Jason Reynolds)
Opinião: “67 segundos. Três regras. Uma arma”.
Daqui pra Baixo é um livro diferente de qualquer coisa que vocês já leram. Primeiro, e mais importante, porque ele é escrito em forma de versos. Não, não se trata de poesia, então podem baixar a guarda do preconceito haha. Os tais versos se encadeiam contando uma história que se passa em, e aí vai o segundo o ponto, sessenta e sete segundos e dentro de um elevador, do sétimo andar ao térreo. Terceiro, e último, porque ele expõe de frua crua e fria uma realidade que tira qualquer um da sua zona de conforto.
Regra 01: Chorar não. Aconteça o que acontecer.
William tem 15 anos e vive com a mãe e o irmão mais velho em um subúrbio onde a violência é rotina. Desde cedo ele aprendeu que o medo é algo corriqueiro. Há grupos que mandam, há pessoas que matam. Há roubos, há sequestros e a perda é um sentimento que mal dá para assimilar. Porque a vida segue em frente. Não existe espaço para o choro. Nem mesmo no dia em que o irmão mais velho, Shawn é assassinado. Esse é o momento em que a vida de Will muda totalmente.
Regra 02: Dedurar alguém não. Aconteça o que acontecer.
A morte é tão banal que ninguém mais se importa. Os tiros acontecem, um corpo cai no chão, e ninguém sabe, ninguém socorre, ninguém viu. É assim que Will se depara com a morte do irmão, uma referência em sua vida. Ele acredita cegamente saber o autor do crime e sabe que há uma arma em casa. Enquanto a mãe perambula num luto, Will toma uma decisão.
Regra 03: Se vingar sempre. Aconteça o que acontecer.
Arma escondida na calça, ele pega o elevador e decide fazer justiça. É hora de vingar a morte do irmão. E aí começa, pra valer, a narrativa soco no estômago de Jason Reynolds.
Daqui pra Baixo é uma obra que expõe, no rápido intervalo de tempo em que seu protagonista está no elevador, as muitas histórias que se entrelaçam nas vidas de quem sofre diariamente com a violência e não encontra apoio na sociedade ao redor. A cada andar que o elevador passa, e para, Will tem uma reflexão diferente. Personagens são inseridos para retratar um cotidiano e expor ao garoto, que está decidido a cometer seu primeiro crime, que os caminhos do crime (da vingança?) se entrelaçam de tal forma que surge um labirinto onde não se sabe mais quem tem razão ou o que é certo e o que é errado.
Através de um histórico familiar, que pode ser o de qualquer pessoa, acompanhamos um garoto amadurecendo dentro de um elevador. O Will que vai sair pela porta do térreo é completamente diferente de tudo o que ele foi ou pensou ser. A violência deixa marcas e, às vezes, é complicado julgarmos os atos sem sabermos bem seus antecedentes. Há uma mensagem no fim e acho que ela permite várias interpretações. Na física da vida, fatalmente, toda ação gera uma reação e todo ato vai ter uma consequência. Às vezes em efeito dominó que nunca tem fim.
Daqui pra Baixo é difícil de se resumir, resenhar, expressar sobre tudo que ele traz em seu contexto. Ele não é americanizado. Sua realidade é mundial. É sobre preconceito, raça, classes sociais, regiões geográficas dentro de uma mesma cidade. É sobre violência que gera violência que gera violência que gera violência que gera violência que gera violência que gera violência… Mas não precisa ser assim.
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O Autor: Jason Reynolds é autor de livros de prosa e poesia dedicados ao público jovem, tendo figurado na lista de mais vendidos do The New York Times. Foi vencedor de diversos prêmios, entre eles Kirkus Award, Walter Dean Myers Award, Edgar Awards e Newbery Medal, além de finalista do National Book Awards com o livro Fantasma em 2016 e Daqui Pra Baixo em 2017.