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Resenha: Serotonina – Michel Houellebecq

Sinopse Alfaguara: Florent-Claude Labrouste tem 46 anos, detesta seu nome e toma antidepressivos que liberam serotonina e causam três efeitos colaterais: náusea, falta de libido e impotência. Seu périplo começa em Almeria (Espanha), segue por Paris e depois pela Normandia, onde os agricultores estão em luta. A França está afundando, a União Europeia está afundando, a vida de Florent-Claude está afundando. O sexo é uma catástrofe. A cultura não é mais uma tabua de salvação ― nem mesmo Proust ou Thomas Mann são capazes de salvá-lo. Nesse contexto, Florent-Claude descobre vídeos pornográficos assombrosos em que sua atual companheira aparece, e isso é a gota d’água para que ele deixe o trabalho e passe a viver em um hotel. Em um espiral de problemas, Florent-Claude se torna um hábil analista da contemporaneidade, de seus anseios, inseguranças e problemas. Sua vida, um reflexo do desinteresse pelo mundo, será o espelho das mais cruéis agruras da vida.  (Resenha: Serotonina – Michel Houellebecq)

Opinião: “É um comprimido pequeno, branco, oval, divisível”. Essa simples descrição, do antidepressivo Captorix, é o ponto de partida de Serotonina, um passeio pelos males do mundo atual, particularmente da Europa, na visão de um protagonista que chegou ao fundo do poço, tal qual boa parte da humanidade. Polêmico, sem economizar nas ironias e críticas ácidas, Michel Houellebecq faz uma viagem pela derrocada de um estilo de vida condenado pela falta, talvez, do tal hormônio do bem-estar que dá título ao livro.

A saga narrada em primeira pessoa por Florent-Claude, um sujeito que, pra começo de conversa, odeia o nome que tem, é recheada de visões banais do cotidiano, análises e divagações supérfluas e uma sucessão de companheiras que cultivaram sua dose de decepção da mesma forma que o protagonista não soube lidar muito bem com os relacionamentos que teve. Florent pode ser classificado como o típico cidadão de classe média, politicamente incorreto, deslumbrado com marcas e objetos de luxo ou que conferem status e que julga e analisa tudo ao seu redor. A partir do momento em que descobre fotos eróticas, em um ensaio pra lá de bizarro, no notebook de sua atual parceira, ele decide seguir algo que a internet mostra ser mais comum do que se pensa: desaparecer.

Abandonando sua vida e emprego para percorrer o país, morando em hotéis e vagabundeando por cafés e restaurantes, Florent vai afundando cada vez mais na depressão e assistindo a uma França também perdida. O ponto alto se dá quando ele chega à decadente moradia de um velho amigo. Ali há uma luta contra o governo em defesa da agricultura e é o momento em que ele não encontra mais saídas ou soluções a não ser retornar ao médico em busca de mais receitas de Captorix.

Houellebecq parece mergulhar no fundo das questões que vêm atormentando as pessoas e as levando cada vez mais para a dependência dos comprimidos que “ajudam os homens a viverem, ou pelo menos a não morrerem – por um tempo”. Em tempos de abalos econômicos, com altas taxas de desemprego, e governos extremistas ascendendo pelo mundo, o périplo de Florent tem um pouquinho de cada drama que a Europa vem sofrendo nos últimos meses. Tanto de um Brexit à deriva quanto da dificuldade para se encontrar soluções que tragam estabilidade para as pessoas. Por todo lado há vidas e famílias desmoronando por muito pouco.

Frustrado no amor, sem tesão para o sexo, incapaz de gerar resultados no trabalho e passando a limpo sua vida de poucas conquistas e muitas derrotas, o protagonista de Serotonina é o retrato dos nossos tempos. A depressão que o consome tem nas sequências finais algumas das melhores reflexões sobre como encarar, e quem sabe dar a volta por cima, as frustrações e decepções de um mundo que exige cada vez mais sem oferecer algo em troca. “Não se pode deixar o sofrimento aumentar além de certo grau, do contrário a gente faz qualquer coisa”.

Serotonina é um hormônio que vem fazendo falta no mundo de hoje, e sua história é um pouco do que nos rodeia, talvez até gere identificação junto aos leitores. É caótico, ácido, e extremamente depressivo. É real e palpável.

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O Autor: Michel Houellebecq é romancista, poeta e ensaísta. É um dos autores mais importantes da literatura francesa contemporânea e recebeu, em 2019, a Legião da Honra, distinção máxima do governo da França. Publicou os romances Partículas elementares, Plataforma, O mapa e o território (vencedor do prêmio Goncourt em 2010) e Submissão, entre outros.

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