Sinopse Companhia das Letras: A narrativa começa no navio que traz de volta ao Brasil o jovem filho de fazendeiro Paulo Rigger, depois de sete anos em Paris, onde cursara direito e absorvera comportamentos e ideias modernas. Nos primeiros dias que passa no Rio de Janeiro, Rigger tenta compreender um país onde já não se sente em casa, um país que tenta timidamente superar seu atraso oligárquico e ingressar na era industrial e urbana. De volta a Salvador, ele participa de um grupo de poetas fracassados e jornalistas corruptos que giram em torno do cético Pedro Ticiano, cronista veterano. Todos se sentem insatisfeitos e buscam um sentido para a existência: no amor, no dinheiro, na política, na vida burguesa ou na religião. (Resenha: O País do Carnaval – Jorge Amado)
“Diante da grandiosidade da natureza, o brasileiro pensou que isto aqui fosse um circo. E virou palhaço…”
Opinião: O Brasil, eternamente profetizado como o país do futuro. Um tal futuro que, apesar das idas e vindas da história, nunca chega. Esse Brasil de promessas recebe jovens vindos da Europa, rebentos que lá foram estudar, se atualizar e agora retornam trazendo um misto de expectativas e dúvidas. O que a terra pátria tem a oferecer? O que é possível esperar do país do futuro que ainda respira ares coronelistas e oligárquicos? Há, de fato, futuro na terra onde a única coisa que se leva realmente a sério é o carnaval?
Em seu romance de estreia, escrito aos dezoito anos, Jorge Amado nos apresenta uma história repleta de questionamentos e desdobramentos bem diferentes dos que vão marcar pra valer sua obra. O País do Carnaval carrega uma sátira que vai se repetir e se tornar mais ácida em obras futuras, contudo traz uma história que beira o drama e passa longe do estilo que consagrou o autor. Um grupo de jovens “perdido” por Salvador em busca de respostas para questões tão filosóficas quanto complicadas. São poetas e jornalistas, homens que carregam a cultura que falta à massa do país que procura o caminho desenvolvimento. Um grupo que se reúne em torno da produção de um jornal, que segue conselhos de um consagrado, mas já pouco influente cronista, e que segue de bar em bar atrás de um sentido para tudo que os rodeia.
Protagonizado por Paulo Rigger, filho de fazendeiro que voltou dos estudos na França, O País do Carnaval percorre através dos dramas de seus personagens o drama de um Brasil que não desengata. As desilusões amorosas, financeiras, políticas e religiosas que cada um enfrenta são, em grande parte, metáforas daquilo que o próprio país tem diante de si. Mesmo que o próprio autor deixe claro na abertura que se trata apenas de um romance sobre “homens em busca do sentido da existência”, é impossível não associarmos ao momento de tensão em que o Brasil vivia. Um país em busca de um sentido. Avançar e olhar para a frente ou se manter preso às amarras do passado?
Em muitos aspectos, e isso chega a ser um pouco assustador, algumas passagens do livro mostram-se extremamente atuais. Há certas frases que soam proféticas ou poderiam ter sido escritas por um Jorge em plena atividade em 2019.
“O Brasil é o país verde por excelência. Futuroso, esperançoso… Nunca passou disso… Vocês, brasileiros, velhos que já foram e rapazes que são a esperança da Pátria, sonham o futuro. ‘Dentro de cem anos o Brasil será o primeiro país do mundo’. Garanto que aqueles detestável cronista Pero Vaz de Caminha teve essa mesma frase ao achar Cabral, por um acaso, o país que viera expressamente descobrir. ”
A galeria de personagens em O País do Carnaval não é tão rica como veremos nas obras futuras do autor. Apegado aos conceitos e dúvidas que permeiam as vidas desses jovens, Jorge não se preocupou em desenvolvê-los tão bem como virá a fazer. Mesmo assim, a baianidade exala seus aromas e temperos a cada página.
A saga de Paulo Rigger vai terminar no mesmo ponto em que começou. Olhando para o Cristo Redentor ele parte com tantas dúvidas quanto no dia em que desembarcou. Ao longe, a folia toma conta das ruas cariocas e, oitenta e oito anos depois da publicação, ainda nos questionamos se há, de fato, futuro na terra onde a única coisa que se leva realmente a sério é o carnaval.
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O Autor: Jorge Amado Foi um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros de todos os tempos. Ele é o autor mais adaptado da televisão brasileira, verdadeiros sucessos como Tieta do Agreste, Gabriela, Cravo e Canela e Teresa Batista Cansada de Guerra são criações suas, além de Dona Flor e Seus Dois Maridos e Tenda dos Milagres. A obra literária de Jorge Amado conheceu inúmeras adaptações para cinema, teatro e televisão, além de ter sido tema de escolas de samba por todo o Brasil. Seus livros foram traduzidos em 55 países, em 49 idiomas, existindo também exemplares em braille e em fitas gravadas para cegos.
Amado foi superado, em número de vendas, apenas por Paulo Coelho mas, em seu estilo – o romance ficcional -, não há paralelo no Brasil. Em 1994 viu sua obra ser reconhecida com o Prêmio Camões, o Nobel da língua portuguesa.