Sinopse Intrínseca: Em plena década de 1960, os Estados Unidos estão passando por profundas mudanças políticas e sociais, e Terry Ives, estudante de uma cidadezinha em Indiana, se vê à parte dos acontecimentos. Cansada de ser uma mera espectadora das mudanças à sua volta, ela enxerga sua grande chance de entrar para a história ao se voluntariar para participar de um projeto ultrassecreto do governo chamado MKULTRA, realizado no laboratório de Hawkins. É lá que ela conhece o dr. Martin Brenner, um homem cruel capaz das maiores atrocidades para alcançar seus objetivos. Terry logo se vê presa em uma trama repleta de manipulações e perigos, travando com Brenner uma guerra em que a mente humana é o campo de batalha. E sua única chance de vitória reside em uma menininha com poderes sobre-humanos e um número no lugar do nome. (Resenha: Stranger Things – Raízes do Mal – Gwenda Bond)
Opinião: Uma das séries de maior sucesso da Netflix, Stranger Things mexe com um período que traz excelentes recordações para boa parte da geração que hoje se tornou consumidora ávida de produtos de entretenimento. Os anos 1980 guardam produções em cinema, literatura e quadrinhos que, arrisco dizer, estão na crista da onda da cultura de massa de hoje. E a série viaja justamente nesse mundo fascinante em que garotos se tornam heróis montados em suas bikes. Um universo em que a ficção científica se desenrola no laboratório ao lado e o poder da amizade ainda tem algum peso na balança das vidas. Em uma sociedade aprisionada em apartamentos, o mundo retratado em Stranger Things é nostálgico, utópico e sedutor.
Seguindo a linha de que diversificar as plataformas de distribuição de sucessos é um caminho lucrativo – lembrem-se que The Walking Dead saiu dos quadrinhos para a TV e os livros, para citar somente um exemplo, Stranger Things ganhou seu primeiro livro. E aí começam os problemas. A ideia de expandir o universo de uma série não é nova. Star Wars está aí com tantos livros que nem sabemos mais identificar o que é o que. A ideia para como seria expandida a série, livros que narram o que aconteceu antes dos eventos televisivos, é certeira. A forma como isso foi executado e gerou Stranger Things: Raízes do Mal foi frustrante.
Trazer o passado do dr. Martin Brenner e da mãe da popularíssima Eleven, Terry Ives, é um mote que dá pano pra manga. Uma ideia promissora assentada sobre boas bases já desenvolvidas na série e que tinha tudo para resultar em um bom livro com aquela pegada anos 1980. Mas Gwenda Bond, desconhecida autora para nós brasileiros, não soube nem de longe conceber um livro tolerável. Tudo em Raízes do Mal soa bobinho demais, infantil em um nível que não condiz com nada que a série tenha abordado. Diálogos são superficiais, os personagens não convencem, e a história é desenvolvida meio que no modo automático de “preciso narrar isso aqui e foda-se qualquer cuidado ou lampejos criativos”.
Óbvio que a linguagem da televisão é diferente da linguagem da literatura. O que me assombrou foi perceber que o livro não conseguiu nem se aproximar da pegada da série nem desenvolver uma pegada própria. Ele transita numa espécie de “limbo narrativo” em que não há DNA que assuma sua paternidade. Querem um bom exemplo? O Homem de Giz, de C.J. Tudor, tem toda a pegada narrativa e de construção que o aproxima de Stranger Things (guardadas as diferenças de trama, claro). Gwenda perdeu-se na vontade louca de inserir fatos do mundo a todo momento, como a Guerra do Vietnã, e conseguiu a proeza de fazer tudo isso ficar superficial e forçado. Grande parte dos diálogos são robóticos e nem sentimentos direito os personagens conseguem nos transmitir.
Justiça seja feita, ao fim do livro entendemos como a mãe de Eleven chegou até o misterioso projeto e como, nesse meio do caminho, Eleven nasceu e caiu nas mãos do dr. Brenner. Mas tudo isso chegou até nós de forma insossa. Curioso que o médico permanece um mistério. Não só ele, mas todo o poder que ele demonstra ter. A dúvida é se pretendem explorar isso em outros livros ou deixar no ar. A certeza é que Stranger Things merece ser levada aos livros por autores mais tarimbados e que tenham um mínimo de talento para dar conta da importância que essa série adquiriu.
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A Autora: Gwenda Bond é autora de livros infantis e juvenis. Em suas obras, mistura elementos sobrenaturais, magia e protagonistas femininas imbatíveis. Formada em jornalismo e com mestrado em escrita criativa pela Vermont College of Fine Arts, Bond já escreveu para veículos de destaque, como Los Angeles Times e Publishers Weekly. Mora no Kentucky, Estados Unidos.