Sinopse Arqueiro: A jovem Theodosia tem seu destino alterado para sempre depois que seu país é invadido e sua mãe, a Rainha do Fogo, assassinada. Aos 6 anos, a princesa de Astrea perde tudo, inclusive o próprio nome, e passa a ser conhecida como Princesa das Cinzas. A coroa de cinzas que o kaiser que governa seu povo a obriga a usar torna-se um cruel lembrete de que seu reino será sempre uma sombra daquilo que foi um dia. Para sobreviver a essa nova realidade, sua única opção é enterrar fundo sua antiga identidade e seus sentimentos. Agora, aos 16 anos, Theo vive como prisioneira, sofrendo abusos e humilhações. Até que um dia é forçada pelo kaiser a fazer o impensável. Com sangue nas mãos, sem pátria e sem ter a quem recorrer, ela percebe que apenas sobreviver não é mais suficiente. Mas a princesa tem uma arma: sua mente é mais afiada que qualquer espada. E o poder nem sempre é conquistado no campo de batalha. (Resenha: Princesa das Cinzas – Laura Sebastian)
Opinião: ‘Princesa das Cinzas’ (tradução de Ash Princess, por Raquel Zampil) é o primeiro volume de uma trilogia jovem-adulto de fantasia, escrita pela autora norte-americana Laura Sebastian, e publicado no Brasil pela editora Arqueiro em outubro de 2018, com uma capa de tirar o fôlego. A obra figurou na lista de mais vendidos do The New York Times, além de ser vendida como uma indicação certeira para os leitores de A Rainha Vermelha, A Seleção e Jogos Vorazes. Imagino (até porque não consumi todos esses títulos para falar com propriedade) que a semelhança e indicação esbarraram em um ponto específico: o empoderamento e protagonismo femininos. Quem recusa uma história em que há uma garota badass no centro de toda a trama? Nesta história, por exemplo, temos Theodosia, uma jovem e princesa de 16 anos que precisa resgatar sua identidade e reconquistar seu país. Entretanto, afirmo, um pouco decepcionado, que o livro não entregou aquilo que foi prometido.
– Você sabe quem você é – disse-me ela. Sua voz não vacilou, mesmo quando gotas de sangue brotaram onde a lâmina cortou sua pele. – Você é a única esperança do nosso povo, Theodosia.
– Página 11
Não que ‘Princesa das Cinzas’ seja um livro ruim, mas tive a impressão de que a autora se perdeu no meio do caminho enquanto construía sua personagem principal. Esse foi meu problema com essa história. Devo confessar que eu finalizei a leitura movido somente pela curiosidade que eu nutria com relação ao final – que, já adianto, não é tão frustrante. Se não fosse por esse motivo, eu teria fechado meu exemplar no meio da história e partido para outra leitura. Sabe por quê? Theo é uma personagem que age contra suas palavras e isso me irritou profundamente. Isso me impediu de querer acompanhar espontaneamente sua jornada e sua luta pela liberdade. Isso me impediu de criarmos uma conexão. Sinceramente, eu lia e não me importava muito com o que estava acontecendo, até porque ela mesma não se importava. É uma personagem quase sem atitude, sem força e extremamente perdida em suas escolhas. Obviamente entendo a situação pela qual ela estava passando e todo o peso de suas opções, porém o contexto era claro, pedia que ela tomasse um lado: seu povo ou seus inimigos?
– Essa gente destruiu nossas vidas, Theo – afirma finalmente, a voz falhando ao pronunciar meu nome.
Dou um passo na direção dele.
– É uma dívida que vamos cobrar – prometo.
– Página 63
Contudo, a concepção de mundo é muito boa, apesar de pouco explorado neste primeiro volume. ‘Princesa das Cinzas’ apresenta uma história onde há uma galeria diversa de deuses, questionamentos a respeito de fé, uma ideia de magia própria e vários países com suas culturas e idiomas – existe um mapa logo no começo da história, o que comprova a extensão desse universo. Eu vejo esse livro como uma rocha bruta, que precisa de uma boa lapidação. Arrisco até em dizer que a autora focou nos pontos errados do enredo. Há romance demais e fantasia de menos. Fico pensando… talvez o meu problema tenha sido, além da protagonista, as minhas expectativas. Queria ver mais da magia que me foi revelada logo no começo da história, ver mais da ferocidade da protagonista mostrada no capítulo 2 (que depois não apareceu mais). Queria conferir a trama afiada que me foi apresentada no prólogo. Mas, fica para a próxima, não é? Pelo menos é o que eu espero.
Antes do cerco, os devotos passavam anos na caverna do deus ou deusa a quem juraram lealdade. Lá dentro, eles adoravam a deidade e, se fossem dignos, seriam abençoados, imbuídos com o poder de seu deus ou deusa. Então, usavam seus dons para servir a Astrea e seu povo como Guardiões.
– Página 13
‘Princesa das Cinzas’ é narrado em 1ª pessoa (uma narração em 3ª pessoa teria sido uma escolha melhor, já que possibilitaria a leitura de outros pontos de vista e tornaria a leitura muito mais rica) e traz pouquíssimos personagens memoráveis, e aqui eu incluo o vilão – personagem realmente detestável. Vale destacar também a preocupação da autora em inserir representatividade em sua trama, como a comunidade LGBT. Ponto para a autora! Enfim. Este é um livro, infelizmente, fraco para um início de trilogia. Bem linear, sem grandes reviravoltas. Se vou continuar acompanhando? Acho que sim. O final trouxe um gancho interessante, apesar de eu já suspeitar que a protagonista não terá força nem atitude para sustentar suas decisões – tudo em nome do amor (caso você tenha se perguntado se existe aqui um triângulo amoroso, bom, a reposta é sim). Laura Sebastian escreve bem, mesmo sendo prolixa em alguns momentos e tornando a leitura um pouco lenta. Suas descrições são boas, permitindo-nos visualizar sem problemas os ambientes em que se passam as cenas – adoro essa ambientação medieval, e vocês?
‘Princesa das Cinzas’ traz uma história sobre coragem para assumir suas origens, para encarar seus medos e enfrentar riscos em prol de um bem maior. Porém, carece de uma boa protagonista. Se eu tivesse que dar uma nota a este livro, seria 3 de 5, no máximo.
Mas ela estava certa, em determinado sentido. Eu era uma princesa feita de cinzas, nada mais resta de mim para queimar. Chegou a hora de a rainha se erguer.
– Página 348
A autora: Laura Sebastian nasceu e cresceu no sul da Flórida e sempre gostou de contar histórias. Depois de se formar em artes e design, ela se mudou para Nova York. Quando não está escrevendo, está lendo, assando biscoitos ou bolinhos, comprando mais roupas do que cabem em seu armário ou forçando seu preguiçoso cachorro Neville a dar um passeio. Princesa das Cinzas, seu livro de estreia, é o primeiro da trilogia.