Sinopse DarkSide: A obra atemporal de Bram Stoker narra, por meio de fragmentos de cartas, diários e notícias de jornal, a história de humanos lutando para sobreviver às investidas do vampiro Drácula. O grupo formado por Jonathan Harker, Mina Harker, dr. Van Helsing e dr. Seward tenta impedir que a vil criatura se alimente de sangue humano na Londres da época vitoriana, no final do século XIX. Um clássico absoluto do terror, Bram Stoker define em Drácula a forma como nós entendemos e pensamos os vampiros atualmente. Mais que isso, ele traz esse monstro para o centro do palco da cultura pop do nosso século e eterniza o vilão de modos refinados e comportamento sanguinário. (Resenha: Drácula – Bram Stoker)
Opinião: Quando cai a noite, ele desperta. As trevas são sua companhia e os lobos atendem a seu chamado. Sem reflexos, dono de uma palidez incomum, quase mortal, é o sangue humano que o alimenta. Seus caninos, protuberantes e afiados, deixam marcas nas vítimas que o nutrem e essa troca pode trazer a morte, ou pior, transformá-las em um semelhante. Amigos, apresento-lhes o distinto conde Drácula, temido e misterioso senhor de muitas posses lá na Transilvânia. Personagem conhecido por praticamente todas as pessoas, mesmo que apenas de nome, mas infelizmente tão pouco conhecido de verdade, em essência.
A mitologia em torno dos sugadores de sangue humano, os vampiros, é rica e sobrevive às gerações, se adaptando ao sabor dos ventos. Dos impiedosos e sanguinários terríveis aos insossos adolescentes crepusculares, as criaturas da noite são uma das mais populares na literatura de terror. Contudo, somente uma delas, o pai de todas, merece nossa reverência e atenção. É a partir dele que um marco se estabelece e tudo o que veio depois sofreu influência, mesmo pequena, inclusive em nós e nosso senso comum a respeito dos vampiros.
O conde Drácula é um personagem fascinante, mesmo aparecendo tão pouco na obra homônima que imortalizou não só seu nome como o de seu criador, Bram Stoker. Moldado à imagem dos lordes ingleses, dono de posses, castelos, e com uma educação e conhecimento refinados, o vampiro nos é apresentado como alguém encantador. Um cavalheiro digno de uma boa noite de ótimos assuntos, capaz de nunca nos entediar. É assim que Jonathan Harker o conhece na sequência inicial do livro e nos únicos trechos em que realmente temos oportunidade de conviver com o terrível personagem. Depois disso, ele só aparece a partir de relatos de terceiros.
Escrito em forma epistolar a partir de registros dos diários dos diversos personagens, Drácula é uma obra de terror atemporal, embora estritamente ligada ao seu tempo. As características e costumes da sociedade inglesa da época ditaram o desenvolvimento da história e certamente isso causa frustração nos leitores atuais que associam terror única e exclusivamente a carnificina ou cenas de gelar o sangue. Nada disso se faz presente na obra de Stoker. O terror é sutil e envolve os personagens em seu íntimo. É uma ameaça que paira no ar e se esconde no canto escuro do quarto. A qualquer momento ela pode atacar, principalmente se baixarmos a guarda ou tivermos lapsos de atenção. Assim, a narrativa de Drácula constrói um terror a partir do medo sentido pelos personagens. Cabe a eles viver o drama/maldição e unir forças para enfrentar as forças desconhecidas.
No fundo, Drácula versa sobre um embate de forças tão velho quanto o próprio mundo. Temos o bem, representado por uma galeria encantadora de personagens e ancorado em toda uma tradição cristã-religiosa; e o mal, encarnado pelo conde e seus ajudantes. A religião, aliás, é uma das bases que sustenta a narrativa, se fazendo presente em boa parte dos relatos. A fé é uma das armas que une os amigos em torno do projeto para derrotar Drácula. Junto a ela, um senso de lealdade bastante incomum nos dias atuais, mas que certamente se fazia presente na sociedade inglesa da época. Existe palavra, honra, compromisso com a amizade em um nível difícil de encontrarmos na vida real. São características de bem do caráter humano que vão dar a força necessária para se empreender uma jornada de enfrentamento com o poderoso vampiro, que sobrevive séculos.
Tudo que conhecemos sobre defesa anti-vampiros vem desse livro. Bram Stoker reuniu informações, lendas, superstições e crendices para lançar as bases de como se proteger de um sugador de sangue… Em Drácula temos reunidas a estaca no coração, a defesa com rosa branca ou alho, a cruz, a hóstia, a água benta. Nele descobrimos que vampiros não possuem reflexo em espelhos, não toleram a luz do dia, dormem em caixões. E com ele vivemos uma experiência única em companhia de personagens cuidadosamente bem construídos e impossíveis de serem esquecidos. Deles, o destaque absoluto fica com o Dr. Van Helsing, homem das ciências e dono de imenso coração. Um nobre em todos os sentidos da palavra.
A leitura de Drácula é um mergulho na Londres do século XIX. Os relatos dos diários de cada personagem, que vão se sucedendo e construindo a narrativa, dão velocidade e trazem diferentes pontos de vista. O desfecho é simples, rápido e direto demais. Não há um clímax que conduza ao final, mas sim sucessivas cenas de tensão ao longo de toda a história que levam a um ponto final burocrático e sem ambições de tirar o fôlego dos leitores. É um livro inesquecível, envolvente e que mexe com qualquer apaixonado pela literatura de horror. Dele nasceu uma lenda que hoje, mais de cem anos após sua publicação, se mantém viva e continua a perturbar nossa imaginação. Prova maior de que Drácula é um clássico e que certamente está à sua (nossa) espreita.
PS: Minha leitura se deu a partir da Dark Edition, o livro em capa preta. Talvez seja o melhor trabalho da história da DarkSide e que merece essa observação que não costumo fazer nas resenhas. O livro possui um trabalho editorial primoroso, digno da envergadura da obra. Recheado de extras como o conto O Hóspede de Drácula, resenhas dos jornais da época da publicação, fotos dos atores que deram vida ao personagem e ilustrações, é, de fato, um livro produzido por quem entende a importância do conteúdo ali impresso.
Avaliação: 5 Estrelas
O Autor: Bram Stoker nasceu em Clontarf, Irlanda, no dia 8 de novembro de 1847. Estudou no Trinity College em Dublin onde formou-se em Matemática, em 1870. Começou a trabalhar como crítico teatral nos jornais de Dublin, e seu trabalho chamou a atenção do célebre ator vitoriano sir Henry Irving. Aceitando o convite de Irving para administrar seu teatro, ele mudou-se para Londres.
Stoker, que ao longo de sua carreira publicou diversos livros, levou sete anos para concluir Drácula. Quando o romance foi lançado em 1897, recebeu boas críticas, mas o grande reconhecimento só veio após sua morte, aos 65 anos, em 20 de abril de 1912.
Obrigada pela resenha, ela está incrível! Vou comprar esse livro perfeito, estou louca para ler ❤️