Sinopse Record: A mãe de Annie é uma assassina em série. Um dia, Annie a denuncia para a polícia e ela é presa. Mas longe dos olhos não é longe da cabeça. Os segredos de seu passado não a deixam dormir, mesmo Annie fazendo parte agora de uma nova família e atendendo por um novo nome — Milly. Enquanto um grupo de especialistas prepara Milly para enfrentar a mãe no tribunal, ela precisa confrontar seu passado. E recomeçar. Com certeza, a partir de agora vai poder ser quem quiser… Mas a mãe de Milly é uma assassina em série. E quem sai aos seus não degenera… (Resenha: Menina Boa Menina Má – Ali Land)
Opinião: Ah, a natureza humana e seus mistérios. Cobrindo um sangrento conflito nos sertões do Brasil, um consagrado jornalista teorizou que o homem é fruto do meio em que vive. Enveredando por este caminho, podemos imaginar que os filhos tendem a refletir senão muitas, pelo menos algumas das características adquiridas no convívio familiar. O mesmo vale, obviamente, para o ambiente escolar, de cursos, amigos e etc. sem fim. E pensando assim, seria possível que ao conviver em um local carregado de maldade, com inúmeros exemplos considerados errados por nosso senso comum, uma criança pudesse crescer má? Ou será que a essência da maldade já nasce em todos nós e seja preciso apenas um interruptor para ativá-la?
A literatura sempre explorou de forma genial a natureza má nas crianças. De todos, talvez William March tenha sido o que melhor chocou os leitores com sua meiga e doce Rhoda, isso para ficarmos apenas no exemplo do sexo feminino. A conturbada vida de Annie/Milly, da originalíssima obra Menina Boa Menina Má, de Ali Land, surge certamente para enriquecer essa galeria de crianças cujas experiências de vida são fascinantes e, claro, aterrorizantes. Neste livro, a autora decide nos mostrar o ponto de vista da filha adolescente de uma psicopata. Uma ideia original, interessante e maravilhosamente bem executada.
Narrado em primeira pessoa, Menina Boa Menina Má, é um daqueles livros que não possui nenhum atrativo sanguinário ou cenas de ação com reviravoltas de tirar o fôlego. É uma narrativa linear em que a protagonista, Annie/Milly, expõe como está sendo sua vida após a mãe ser presa e ela ser a principal testemunha de acusação. Temos, portanto, uma dissecação perturbadora da formação humana em uma viagem pela mente da personagem com todas as suas reflexões, conflitos internos, ambiguidades, e a forma como ela enxerga o seu lugar no mundo e as expectativas de futuro.
Através dos atos da personagem, sempre carregados de conflitos internos, a autora discorre sobre a relação e a possível influência que a mãe, psicopata e assassina em série, possa ter tido na formação da filha. Os traumas da menina se misturam às lições da mãe. O amor pela progenitora se confunde com a loucura de tudo que foi vivido. E assim Annie/Milly vai sendo moldada e se construindo enquanto mulher, vivendo à beira do precipício que divide o que a sociedade espera dela, e de qualquer um de nós, em ser uma boa pessoa, e as tentações más aprendidas no seio materno.
Menina Boa Menina Má é um livro que pede concentração. É preciso se entregar à narrativa sem pressa, acompanhando o desenrolar, às vezes monótono, da vida da personagem. Aos poucos o cenário vai ganhando contornos interessantes, misteriosos, talvez até confusos, até chegar a um desfecho brutal, inesperado, chocante, e que de certa forma condiz claramente com tudo o que foi construído ao longo de todo o livro. Sutilmente a autora já havia dado mostras de sua falta de otimismo, embora seja bem difícil para nós, leitores, captarmos ou acreditarmos que o final vá ser mesmo esse.
Um dos grandes livros de suspense psicológico do ano, Menina Boa Menina Má deixa apenas uma dúvida no ar. Poderia Annie/Milly integrar a tal galeria de grandes crianças da literatura? Com a palavra, vocês leitores…
Avaliação: 5 Estrelas
A Autora: Ali Land Depois de se formar em saúde mental na faculdade, Ali Land passou uma década trabalhando com crianças e adolescentes em hospitais e escolas no Reino Unido e na Austrália. Hoje, é escritora em tempo integral e mora em Londres.
Eu adorei esse livro e foi um dos finais mais fodas que já li tipo de ficar de queixo caído. Eu não esperava mesmo aquilo. Super foda sua resenha, textão de quem manja muito…
Valeu Vinícius! Esse livro é um dos melhores desse ano, na minha opinião… Bem desenvolvido e com boas surpresas!
Só não entendi o porquê de uma estrela…
Ariane, ocorreu uma falha geral no plugin das estrelas no site e praticamente todas as minhas resenhas sofreram esse problema. Estou corrigindo. O livro é super 5 estrelas!
Valeu pelo comentário 😉