Sinopse Todavia: Liderada pelo professor Challenger, um paleontólogo excêntrico e carismático, uma expedição científica parte de Londres para explorar um território longínquo da Selva Amazônica, congelado desde o tempo em que os dinossauros vagavam sobre a Terra. Aparentemente impossível de penetrar, esse mundo perdido apresenta diversos perigos para os quatro membros do grupo, de homens-macaco selvagens a terríveis criaturas pré-históricas. (Resenha: O Mundo Perdido – Arthur Conan Doyle)

Opinião: Escrevi neste espaço, em resenha sobre Dentes de Dragão, que se existe um nome responsável pelo fascínio que os dinossauros exercem em nós, esse nome é Michael Crichton. Sua obra, em sintonia com a evolução tecnológica e científica dos fins do século XX, trouxe as gigantescas criaturas para nosso cotidiano e produziu uma legião de fãs, eu incluso, prontos a consumir diferentes histórias e produtos. Contudo, há que se fazer não uma correção, mas um adendo. Existe um prefácio que influenciou diretamente no estilo narrativo que viria a culminar no parque jurássico.

Mundialmente famoso criador de Sherlock Holmes, sir Arhur Conan Doyle publicou em 1912 aquela que viria a ser a precursora das grandes histórias de dinossauros. O Mundo Perdido é um dos relatos mais fascinantes da literatura de aventura, e que moldou um estilo narrativo e se colocou como marco de um gênero a ser resgatado nas décadas seguintes. Misturando o espírito aventureiro explorador com fantasia, o autor conseguiu desenhar um cenário em que criaturas jurássicas conviviam com seres meio-homem meio-macaco e índios, além de uma flora considerada há muito extinta. Ah, e tudo isso cá no extremo norte brasileiro.

O Mundo Perdido é um daqueles livros que a despeito de suas cerca de duzentas e cinquenta páginas pode ser lido de uma só vez. Os relatos das aventuras do professor Challenger e seu grupo por uma parte isolada do mundo no meio da selva amazônica, e que preservou os dinossauros do conhecimento humano, são fascinantes e instigam aquele lado explorador que todos nós temos. É impossível não se envolver com os cenários, personagens e cenas de ação e descoberta meticulosamente descritos e na ampla maioria dos casos de forma imaginativa, criativa e sem perder nem um pouco o pé no que a ciência de então conhecia.

Narrado pelo jovem jornalista Malone, correspondente que acompanhou a expedição, O Mundo Perdido tem um ritmo constante, que flui e envolve facilmente os leitores. Os capítulos se organizam como se fossem cartas enviadas para a sede do jornal britânico em que Malone trabalhava. Cada um trazendo um dia ou episódio diferente da exploração. E mesmo com as cenas mais improváveis ou que dificilmente consigam impressionar o leitor de hoje, é impossível não se deixar sonhar com a mínima possibilidade de penetrar num lugar como a Terra de Maple White. Ainda mais na companhia de personagens tão diferentes e bem construídos como Doyle fez.

Faz-se necessário registrar uma pequena observação. A narrativa de Conan Doyle é impregnada de visões comuns à Inglaterra, e ao mundo, do começo do século XX. No livro vamos nos deparar com referências à virilidade e força masculinas, com inexistência de uma figura feminina provavelmente dadas às circunstâncias e perigos de tal empreitada, à inferioridade de indígenas e negros e à superioridade do branco europeu. São noções que podem soar negativas para nossa concepção atual, mas que precisam ser encaradas pelo ponto de vista do período em que foram escritas.

O encanto por trás das aventuras de O Mundo Perdido está naquilo que vou chamar de esfera do sonho. A mínima chance de ter contato com os lagartos gigantes, hoje imortalizados no cinema, é algo que mexe com os seres humanos. Mesmo com todos os perigos que isso possa representar. A mitologia criada em torno dos dinossauros, principalmente da década de 1990 pra cá, é forte e extrapola os limites do mero produto de entretenimento comercial para algo maior. Produz em nós os mesmos efeitos da magia de bruxos, duendes, elfos e similares, com a diferença que existem ossadas para serem tocadas. Ou seja, é a fantasia bem construída em torno de algo que de fato andou pela Terra.

Esse conjunto de fatores faz com que narrativas como a de Conan Doyle não só tenham causado furor na época de seu lançamento como também sejam capazes de ultrapassar as gerações. As grandes histórias de aventuras e exploração por mundos perdidos ou viagens no tempo mexem todas com o fascínio que temos pelo desconhecido. Isso vale tanto para uma narrativa com bases bem científicas como as de Júlio Verne, quanto para essa exploração com tons fantásticos de Conan Doyle e, posteriormente, Burroughs e seu Tarzan, por exemplo.

O poder e a força dos cenários de O Mundo Perdido são tantos que desde sua primeira adaptação ao cinema, em 1925, essa história e esses personagens vem rendendo adaptações ou se tornando referências para inúmeras outras produções. Tanto séries de televisão quanto, por exemplo, histórias em quadrinhos em que o professor Challenger ganha a companhia de Tio Patinhas e sua trupe.

Trilhar os caminhos, rios e lugares inóspitos de O Mundo Perdido é se embrenhar na selva da imaginação em que existem inúmeros perigos à espreita, mas que são facilmente vencidos por nossa curiosidade humana. É um livro que sobrevive em nossa cabeça muito depois do fim e cujos personagens terão seus nomes marcados em nossa galeria de bons companheiros da ficção.

Avaliação: 5 Estrelas

 

O Autor: Sir Arthur Conan Doyle nasceu em Edimburgo, na Escócia, em 22 de maio de 1859. Formado em medicina, passou a escrever histórias para periódicos como forma de complementar sua renda. Em 1888, publicou Um estudo em vermelho, a primeira aventura de Sherlock Holmes, detetive cujas capacidades de dedução foram inspiradas num de seus professores. Ele se tornaria popular a partir de 1891 com a publicação de mais histórias do personagem na Strand Magazine, o que fez de Doyle um dos escritores mais bem pagos de seu tempo.

Escrevendo em diversos gêneros, das aventuras de capa-e-espada à ficção científica, e apesar do sucesso de Sherlock Holmes, Doyle sempre afirmou que seus romances históricos eram seus melhores trabalhos. Seu trabalho como médico voluntário na Segunda Guerra dos Boêres lhe valeu o título de cavalheiro do Império Britânico em 1902. Morreu em 7 de julho de 1930.

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