Sinopse Nova Fronteira: Os personagens, transtornados pelo vinho, amaldiçoam todos os princípios humanos para narrar fatos estranhos de seu passado. Os relatos constituem uma torrente de sentimentos e loucuras que nos remetem às mais arrebatadoras tragédias de Shakespeare. (Resenha: Noite na Taverna – Álvares de Azevedo)
Opinião: Noite na Taverna é apenas uma das melhores produções do horror fantástico já escritas no Brasil. Os contos interligados que compõe a obra abusam de cenas, situações, cenários e acontecimentos que vão do escabroso ao chocante, com pitadas de asco, terror, vilania e loucura.
Principal representante no Brasil do chamado “mal do século”, estilo de literatura que refletia a melancolia, o tédio e a desilusão, e que foi seguida por uma geração de autores mundo a fora, Álvares de Azevedo apresenta aos leitores narrativas improváveis de episódios vividos por cinco personagens. Reunidos em uma taverna, eles se revezam contando situações estranhas de suas vidas. A partir daí, em meio a divagações sobre natureza humana, libertinagem e materialismo, seguem-se relatos de morte, assassinatos, incesto, necrofilia, canibalismo, e atos desesperados.
A linguagem de Noite na Taverna, embora reflita o estilo de escrita da época, os anos 1800, é bem envolvente. Mais ainda por se tratarem de narrativas curtas e bem objetivas. Os cinco narradores são jovens de espírito aventureiro e encaram a vida com total desprendimento. O clima de embriaguez em que se encontram se mistura com a ambientação macabra da maioria das histórias resultando em um livro completamente mórbido. É interessante imaginar a recepção de uma obra como esta, mesmo tendo sido publicada postumamente, numa sociedade brasileira que até hoje se mostra extremamente conservadora e puritana com relação a certos assuntos e temas.
Ponto curioso, embora cada conto trate da situação vivida por um personagem, a sequência final traz uma ligação entre as histórias encaminhando para um desfecho natural e sem grandes acontecimentos. O clímax do livro não está em seu fim, mas nas conclusões isoladas de cada história.
Aos leitores que apreciam boas histórias de terror, vale a pena de despir de pré-conceitos com os clássicos da literatura e se sentar em algum canto dessa taverna para acompanhar as narrativas. Álvares de Azevedo e sua Noite na Taverna não ficam nada a dever a autores estrangeiros e entregam qualidade e horror que merecem ser degustados.
Avaliação: 5 Estrelas
O Autor: Álvares de Azevedo nasceu em São Paulo e passou a infância no Rio de Janeiro, onde iniciou seus estudos. Voltou a São Paulo para estudar na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, onde desde logo ganhou fama por brilhantes e precoces produções literárias. Destacou-se pela facilidade de aprender línguas e pelo espírito jovial e sentimental. Durante o curso de Direito traduziu o quinto ato de Otelo, de Shakespeare; traduziu Parisina, de Lord Byron; fundou a revista da Sociedade Ensaio Filosófico Paulistano (1849); fez parte da Sociedade Epicureia; e iniciou o poema épico O Conde Lopo, do qual só restaram fragmentos.
Não concluiu o curso, pois foi acometido de uma tuberculose pulmonar nas férias de 1851-52, a qual foi agravada por um tumor na fossa ilíaca, ocasionado por uma queda de cavalo, falecendo aos 20 anos. A sua obra compreende: Poesias diversas, Poema do Frade, o drama Macário, o romance O Livro de Fra Gondicário, Noite na Taverna, Cartas, vários Ensaios (Literatura e civilização em Portugal, Lucano, George Sand, Jacques Rolla), e a sua principal obra Lira dos vinte anos. É patrono da cadeira 2 da Academia Brasileira de Letras.