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Resenha: A Última Travessia – Mats Strandberg

Sinopse Morro Branco: Bem-vindo a bordo do Baltic Charisma! Hoje, mais de 1.200 pessoas embarcarão em uma travessia pelas frias águas do Mar Báltico, com destino à Finlândia. Por 24 horas, elas deixarão de lado seu dia a dia sem graça e poderão ser quem quiserem. A viagem promete satisfazer seus mais diversos desejos, com bebidas, festas e cassinos. Mas o mal espreita os corredores e, no meio da noite, não há escapatória possível. Especialmente quando todo o contato com a terra firme é misteriosamente interrompido. Se algumas pessoas se comportam como heróis ao enfrentar crises, essa noite sombria trará à tona o que há de pior nos outros, e quando desaparecimentos inexplicáveis começam a acontecer, é imprescindível que o navio não chegue ao seu destino final. (Resenha: A Última Travessia – Mats Strandberg)

Opinião: Histórias de terror não necessariamente precisam tirar o sono e fazer as pessoas se borrarem de medo. Quem pensa assim provavelmente não é leitor de Verdade do gênero. No terror existem espécies de subdivisões que geram tramas que atacam nosso psicológico, que mexem com traumas, que brincam com a sociedade e o comportamento humano, e também que dão vida a criaturas míticas ou exploram o sobrenatural. Algumas dessas histórias certamente vão te tirar o sono, mas muitas outras vão apenas te incomodar, causar desconforto, provocar nojo, mas não vão dar medo.

Ancorado num horror claustrofóbico e brincando com vilões já bem conhecidos dos leitores, Mats Strandberg fez seu cruzeiro marítimo sangrento em A Última Travessia, um sucesso de vendas nórdico que desembarca no Brasil com a alcunha de o “Stephen King Sueco”. E antes de mais nada, vamos a duas considerações. A primeira diz respeito justamente ao fato de que este não é um livro para dar medo, pelo contrário, consegui me divertir em diversas passagens. A segunda é que a comparação com o King se sustenta pela forma como a história foi construída em cima dos comportamentos individuais e sociais de cada personagem, ou seja, não olhem para o livro buscando cópias ou semelhanças no enredo, mas se atentem à sua construção narrativa.

Ao embarcar no Baltic Charisma os leitores terão diante de si um cenário perfeito para uma história de terror: um transatlântico em um cruzeiro de 24h pelo gelado Mar Báltico. Navio e mar são dois daqueles elementos que provocam amor à primeira vista para qualquer escritor que queira brincar com nossos pesadelos. Sabem porquê? Claustrofobia! Isso mesmo. Por maior que seja o barquinho, ainda assim você está preso ali dentro e não tem como simplesmente abrir a porta e sair. Pensem por exemplo nos naufrágios e em todo o terror que uma pessoa deve sentir sem ter muito o que fazer, e sabendo que a morte está à distância de alguns minutos. Pior que isso somente um submarino!

Sentiram a claustrofobia da parada? Então imaginem agora que nesse lindo barco cheio de luxo, luxúria, diversão, comidas e bebidas existe algo maligno só esperando o momento certo para tocar o terror. Pronto! Temos nossa última travessia dos horrores completa!

Mats Strandberg coloca seus personagens em um ambiente fechado e em uma situação extrema (mais ou menos como King fez em diversas narrativas, como em O Nevoeiro, por exemplo). Ameaçadas, cada uma das pessoas a bordo terá uma reação diferente e aí temos o melhor e o pior do ser humano vindo à tona com requintes de crueldade absurdos. O ambiente no navio é construído de forma bem lenta, desde o embarque. Nessa etapa, que, confesso, me desanimou bastante pela lentidão e falta de acontecimentos interessantes ou instigantes, Mats foi situando cada personagem em suas mais detalhadas características. Temos um diagnóstico de cada pessoa e já até conseguimos antever como vão se comportar.

Feito isso, o mal começa de forma lenta a tomar conta até termos a histeria completa. À medida que vão entendendo, ou não, o que está acontecendo, nossos adoráveis personagens apresentam reações tão surpreendentes, para o bem ou para o mal, que o terror está posto à mesa e cabe a nós leitores degustarmos todo o sangue que escorre pelo convés. E por isso falei das diferenças nas histórias de terror. Porque A Última Travessia não é um livro que dá medo (ok, alguns podem até sentir). É um livro que dá pânico, desespero, incômodo por imaginar que nossa reação poderia não ser muito diferente da pior reação lida em um capítulo qualquer.

O ponto forte do livro é justamente investigar o comportamento das pessoas. Casais, filhos em relação aos pais, amigas, namorados, colegas de trabalho, estranhos que se esbarram num sexo casual…. Será que os vilões são apenas os xxxx? (Leia o livro para saber quem são). Por outro lado, a obra peca um pouco no ritmo que custa a engatar. A adrenalina das duzentas páginas finais encontra um adversário de peso nas duzentas páginas iniciais, e em alguns momentos dá a sensação de que a história não vai chegar a lugar algum.

“Como se mata um monstro sem se tornar um monstro também? ”

Recomendado para leitores que estão mais do que acostumados com toda a essência do gênero terror, A Última Travessia é uma pequena mostra do que pode acontecer nas suas próximas férias em um cruzeiro. Todos a bordo?

Avaliação: 4 Estrelas

 

O Autor: Mats Strandberg sempre amou o terror. Com 10 anos de idade, descobriu Stephen King e rapidamente abandonou os livros infantis para ler mais sobre vampiros, palhaços assassinos e eventos sobrenaturais aterrorizantes. Quando tinha 16, mudou-se para Estocolmo onde estudou jornalismo. Desde então, trabalhou em diversos meios de comunicação, e recebeu o prêmio de Melhor Colunista do Ano. Seus livros foram vendidos para mais de 23 países. A última travessia marca seu retorno ao gênero de terror e a consagração como o “Stephen King Sueco”. A obra será adaptada para o cinema pela Silvio Entertainment.

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