Sinopse Suma: Um serial killer com poderes paranormais está assassinando evangelistas famosos — e os vídeos de cada um deles sendo torturados ganham cada vez mais público na internet. Para garantir que o assassino seja capturado e o máximo de discrição mantida, Judas Cipriano — um padre indisciplinado, descendente de são Cipriano e herdeiro de alguns poderes celestiais é convocado. Veterano nesse tipo de caso, o padre é enviado para trabalhar como consultor da Polícia Civil e fica responsável por apresentar à jovem inspetora Júlia Abdemi o lado místico da cidade. Para resolver o caso — e sobreviver —, os dois precisarão de toda ajuda que puderem encontrar… O que inclui se unir a uma súcubo imortal, um dragão chinês traficante de armas mágicas e um gárgula que é a síntese da sociedade carioca. (Resenha: Deuses Caídos – Gabriel Tennyson)
Opinião: Assassinos com dons sobrenaturais, mortes viscerais, e os caminhos misteriosos das religiões são o combustível para grandes histórias de terror. William Hjortsberg nos presentou com Coração Satânico, um dos melhores exemplos de livros nessa pegada. Se pensarmos nesse Brasil em que a crença é intrínseca em nosso povo, o que não faltam são elementos capazes de gerar um panteão de personagens dotados dos mais inusitados dons e histórias para mexer com nossos nervos. Se avançarmos mais um pouco e mergulharmos na ginga mística do sangue carioca, aí então que teremos todo um universo a ser explorado. Um mundo e um submundo povoado por deuses caídos.
Fugindo daquelas tentativas recorrentes de imitar autores norte-americanos ou mesmo de ambientar a trama em territórios estrangeiros de modo artificial, como existem inúmeros exemplos povoando nossas estantes nacionais, Gabriel Tennyson mergulhou na essência do carioca e esbanjou criatividade e originalidade para compor seu Deuses Caídos. O livro já nasce um clássico no terror brasileiro e coloca o nome de Gabriel naquela listinha seleta de autores a serem acompanhados de perto pelos fãs do gênero.
A base tradicional do suspense está na superfície de Deuses Caídos: um assassino em série e uma dupla de investigadores em seu encalço para detê-lo. Mas é mergulhando na essência da obra que encontramos seu diferencial e sua genialidade. A sociedade carioca, seus estereótipos sociais, a cultura, o sincretismo, a sensualidade, o subúrbio e a zona sul… Tudo se mistura para dar vida a um terror bizarro, sujo, chocante e extremamente plausível. Por mais grotesca que seja a trama, e isso não é uma crítica negativa, em nenhum momento ela soa como uma fantasia absurda. Excluindo as situações mais fantásticas, todo o resto é crível e daríamos total crédito se fosse notícia de jornal. Porque esse sobrenatural que Gabriel tão bem manipulou faz parte da nossa essência. Logo, é verossímil.
Nas páginas de Deuses Caídos vocês vão encontrar o pecado, que tão bem conhecemos, sendo punido por alguém que se acha um novo messias. Os pecadores escolhidos são um acerto à parte e a forma de punição é elaborada e inteligente. A investigação está nas mãos de um padre síntese do carioca, que transita em todas as esferas, fala todas as gírias e conhece todos os buracos onde se tem solução pra tudo. Mas é no lado coadjuvante que o encanto do livro é mais forte. Gárgula, súcubo, dragão chinês, fada do dente, todos carioquíssimos, sensuais, construídos com DNA de Brasil. Gabriel Tennyson criou e adaptou um rol de entidades e figuras mitológicas e folclóricas para dar sustentação a sua história. Com isso, inaugurou uma mitologia nova, bem brasileira, e que lhe permite expandir seu universo em incontáveis novas histórias.
Puritanos, conservadores e mentes fechadas devem manter distância da leitura de Deuses Caídos. A história aqui é para quem tem estômago e aprecia qualidade de criação, sem pré-conceitos. Aos fãs do terror, do fantástico, do sobrenatural, leiam, releiam e ergam as mãos aos céus, pois, enfim, temos um horror digno dos maiores clássicos escrito por um nome nosso. Recheado de referências, com um humor ácido, e em uma linguagem gostosa e envolvente, Deuses Caídos é o livro do ano no terror brasileiro. É o livro que nenhum mortal pode deixar de ler, sob pena de enfrentar a fúria dos deuses.
Avaliação: 5 Estrelas
O Autor: Gabriel Tennyson nasceu em 1978, no Rio de Janeiro, onde mora até hoje. Quando não está escrevendo, assiste a séries, joga RPG, passeia com seus dois cães, Krypto e Ravena, e sonha em deixar a literatura fantástica tão popular quanto o Zeca Pagodinho. Foi semifinalista no concurso Fantasy e finalista no prêmio Bang! Com o romance Evangelhos arcanos, que viria a se tornar Deuses Caídos, seu livro de estreia.
rpz tua resenha praticamente me obriga a comprar esse livro. Ainda nao achei um terror nacional q tenha me deixado sem folego, mas pelo teu texto bora encarar esse
Pode comprar sem medo que você vai curtir muito esse livro, Leonardo. Dê retorno aqui comentando assim que vc ler pra eu saber o que tu achou!
Valeu pela visita e comentário. 😉
Será que, quem tem medo de filme de terror tem medo de livro também? haha
Ganhei um exemplar e estou com medo de ler. Será meu primeiro contato com o gênero.
Não, Sabrina. Pode ler sem esse receio. Nem todas as obras classificadas como terror são para dar medo e essa é uma delas. É um livro sensacional e que tenho certeza que você vai curtir. Leia e depois venha me contar aqui o que achou.
Ah, se por acaso você ficar com medo (o que eu duvido), pode brigar comigo! 😉
Por enquanto estou gostando muito do livro, a estrutura da magia é muito bem construída, mas a fala caricata dos personagens nordestinos incomoda muito. Dá a sensação de que o autor só conhece nordestinos por novela, o que vai de encontro com o objetivo do livro de representar bem a essência brasileira.