Sinopse Novo Século: Na inóspita ilha inglesa de Vane, em pleno século XIX, os Sunderlys desembarcam, atraindo atenções e suspeitas. Quando o reverendo Erasmus, patriarca da família e proeminente estudioso de ciências naturais, é encontrado morto em circunstâncias obscuras, sua filha, a jovem e impetuosa Faith, está determinada a desvendar o mistério. Para isso, precisará de coragem não apenas para confrontar dolorosos segredos, mas também para desafiar as implacáveis tradições da sociedade em que vive. Investigando os pertences do pai em busca de pistas, ela descobre uma planta estranha. Uma árvore que se alimenta de mentiras sussurradas e dá frutos que revelam verdades ocultas. Quando a espiral das sedutoras mentiras de Faith fica fora de controle, ela compreende que as verdades estilhaçam muito mais. (Resenha: A Árvore da Mentira – Frances Hardinge)
Opinião: Mentiras, por mais inocentes que possam parecer (se é que existem mentiras assim), possuem desdobramentos que nem sempre estão sob nosso controle. Algo contado em um ambiente restrito, aparentemente pouco importante, pode ganhar dimensões inimagináveis e alterar ou prejudicar pessoas ou situações. Essa ideia das ramificações que as mentiras têm é o ponto central da imperdível obra de Frances Hardinge, que traz, de pano de fundo, uma versão extremamente interessante para aquela tal árvore cujos frutos, quando consumidos, trariam o conhecimento.
Pelos olhos aparentemente inocentes da protagonista Faith, A Árvore da Mentira narra as desventuras de quem se deixou levar pela tentação da busca pelo conhecimento inacessível. Ambientado em uma inóspita ilha, com uma galeria pequena e peculiar de personagens, e um clima sombrio de que algo ruim vai acontecer a qualquer momento, o livro é um microcosmo social. Cada personagem traz características de comportamento que vão se unindo para criar uma sociedade comum a qualquer lugar do mundo. Desfilam segredos e ambições, busca por dinheiro e poder, amores não correspondidos e mágoas, interesses e falsidades…. É este conjunto que realmente dá liga para que o lado fantástico da trama possa ser desenvolvido com uma veracidade assustadora.
E este lado fantasia é das criações mais originais da literatura! A tal árvore que dá nome à obra nutre-se de mentiras para que, a partir delas, possa gerar seus frutos do saber. E um dos pontos altos da história é justamente acompanhar como a pequena Faith se vê seduzida pelas tentações de conhecer aquilo que ninguém mais conhece. Ao seguir os caminhos das mentiras, e seus estragos, percebemos que o simples ato de inventar uma versão para algo se assemelha à sensação de poder. Faith vai abandonando seu lado infantil à medida que se entrega cada vez mais aos fascínios de mentir.
Com essa mescla de fantasia e suspense, A Árvore da Mentira é um livro escrito sob medida para envolver o leitor. Desde o primeiro capítulo, cujo começo fui em um ritmo mais lento, somos fisgados por um estilo de texto que prende nossa atenção. Partindo da apresentação dos personagens e do desenvolvimento de todo o cenário onde a trama vai se desenrolar, e abusando de situações extremamente banais, até que a história ganhe corpo e um mistério seja totalmente colocado “à mesa”, a autora mostra um completo domínio narrativo. É um daqueles raros casos em que queremos ler mais e mais não porque temos curiosidade em saber o que vem a seguir, mas porque a leitura é de fato prazerosa.
Provar os frutos da escrita de Frances Hardinge foi uma grata surpresa e uma das melhores descobertas de autores que fiz. A obra é perfeita para fãs de histórias mais sombrias e tem a pegada certa para ser devorada em poucos dias.
Avaliação: 4,5 Estrelas
A Autora: Frances Hardinge nasceu em Kent, Inglaterra, onde o vento uivava, e sempre gostou de histórias sombrias. Ganhou notoriedade com a obra juvenil “Fly by Night”, traduzida para mais de 15 idiomas e vencedor do Branford Boase Award 2006. Seu mais recente trabalho, “Canção do Cuco”, publicado no Brasil pela editora Novo Século, foi escolhido como um dos 100 melhores clássicos infantis modernos pelo Sunday Times e listado pelo CILIP Carnegie Medal.