Sinopse Contexto: As garras do nazismo foram tão profundas, amplas e duradouras que ainda hoje nos surpreendemos com detalhes dos seus horrores. O programa Lebensborn, criado por Heinrich Himmler, foi responsável pelo rapto de nada menos que meio milhão de crianças por toda a Europa. Esperava-se que, depois de passar por um processo de “germanização”, elas se tornassem a geração seguinte da “raça superior” ariana. Foi assim que Erika Matko tornou-se Ingrid von Oelhafen. Com um texto que remete aos bons livros de suspense, acompanhamos Ingrid desvendando seu passado – e toda a dimensão monstruosa do programa Lebensborn e sua consequência na vida de tantos inocentes. (Resenha: As Crianças Esquecidas de Hitler – Ingrid von Oelhafen & Tim Tate)
Opinião: Não importa o quanto se fale sobre o nazismo, nunca será o bastante. Essa é a sensação e a certeza que ficam após o relato de As Crianças Esquecidas de Hitler. O programa Lebensborn, que tem parte de sua monstruosa dinâmica desvendada neste livro, ainda é pouco explorado e extremamente desconhecido para a maioria das pessoas mundo a fora. Sua brutalidade reforça o fato de que não havia limites para as loucuras teorizadas e postas em prática por esse grupo de homens que quase dominou a Europa.
Heinrich Himmler, chefe da SS e um dos mais próximos aliados de Hitler, foi a mente por trás do programa Lebensborn, cuja significado é “Fonte da Vida”. O Lebensborn buscava mulheres de origem ariana, que passassem no teste de pureza racial, para engravidar, mesmo que não fossem casadas, e garantir o futuro da raça pura. Em outra frente, o programa buscava crianças nos países invadidos que se adequassem ao ideal da supremacia ariana. Os pequenos eram, então, retirados de suas famílias para receber o que se chamava de “germanização”.
“Como montar o quebra-cabeça da nossa vida? Como encontrar as peças certas e encaixá-las até forma uma imagem que a gente reconheça? ”
As Crianças Esquecidas de Hitler é uma narrativa pessoal real de uma das vítimas do Lebensborn. O livro traz a busca que Ingrid von Oelhafen fez por sua verdadeira origem. Passo a passo acompanhamos suas dúvidas, certezas e incertezas na tentativa de descobrir quem eram seus pais, qual a sua identidade, o que havia acontecido com ela quando ainda era uma bebê de nove meses. Sem entrar em detalhes que possam estragar a experiência de cada leitor com a obra, basta dizer que Ingrid foi uma das peças da engrenagem para compor a futura raça superior ariana.
A saga empreendida por Ingrid é descrita em um relato despido de construções narrativas elaboradas. É um livro frio na essência do que seu conteúdo revela enquanto fato, mas também é carregado dos conflitos emocionais que a autora vai vivendo à medida que avança rumo ao seu passado. Pontualmente, histórias de outras crianças vão surgindo e compondo algo monstruoso, ausente de qualquer sentimento humano. É mais um atestado do que o fanatismo, a intolerância e o poder ilimitado são capazes de realizar.
Histórias como a de Ingrid e do programa Lebensborn precisam ser lidas, assimiladas e espalhadas. As Crianças Esquecidas de Hitler é um livro para divulgarmos, indicarmos e emprestarmos. Como a autora reflete em certo ponto da narrativa, este mundo fragmentado e cada vez mais intolerante que vivemos hoje precisa se chocar com episódios como este. É preciso evitar que nossas atitudes nos levem a trilhar caminhos similares aos que o mundo já viveu e que parece ter se esquecido.
Avaliação: 5 Estrelas
Os Autores: Ingrid von Oelhafen é fisioterapeuta aposentada e vive em Osnabruque, Alemanha. Investiga há mais de vinte anos sua própria história e a do Lebensborn.
Tim Tate é documentarista e escritor de não ficção. Escreveu vários best-sellers, incluindo Slave Girl. Seus filmes já foram premiados pela Anistia Internacional, Royal Television Society, Unesco e Associação Internacional de Documentários.