Nesse mês de outubro, o Sindicato Nacional dos Editores de Livros realiza uma campanha para valorizar o papel transformador da leitura, convidando toda a sociedade a compartilhar sua paixão pelos livros. Com o título Leia.Seja. a campanha se prepara ganhar o país no Dia Nacional do Livro, comemorado em 29 de outubro e, claro, o Leitor Compulsivo não poderia ficar de fora. Com muita honra, recebi o convite da Editora Arqueiro para falar sobre a minha paixão pelos livros e tive a ideia de fazer a junção com outra paixão: as Escolas de Samba.

Pouca gente sabe, mas a primeira Escola de Samba surgiu em 1928, no Morro do Estácio, fundada pelo sambista Ismael Silva. Conta a história, que no Largo do Estácio havia uma Escola Normal (antiga formação de professores) e, certa vez, Ismael Silva declarou que se no asfalto poderiam formar professores, no alto do morro formariam os sambistas, nas Escolas de Samba. Nascia então a Deixa Falar, no dia 12 de agosto de 1928, reconhecida pelo IPHAN como a primeira Escola de Samba do Brasil, atualmente chamada de Estácio de Sá, conhecida nacionalmente por seus grandes sambas, homenagens e o campeonato do Grupo Especial de 1992, quando levou para a avenida o enredo Paulicéia Desvairada, uma homenagem a Semana de Arte Moderna de 1922.

Como o desfile de 1992 da Estácio, provocou um verdadeiro frenesi coletivo nas arquibancadas da Sapucaí e ruas do Rio de Janeiro, vamos viajar pelo papel fundamental das Escolas de Samba como canais culturais ao longo de tantas décadas. Surgidas, em sua maioria, nas favelas do Rio de Janeiro, sob o esforço de pessoas simples e nas mãos de grandes artistas desconhecidos, as escolas, através de seus carnavalescos, sempre foram um canal cultural para comunidades que nem sempre tem acesso a qualquer tipo de cultura ou entretenimento e, infelizmente, nem mesmo tem o costume ou dinheiro para comprar um livro e poder mergulhar nas páginas de suas histórias.

Grandes enredos que marcaram histórias tanto no século passado quanto nos tempos atuais foram inspirados em grandes clássicos e ficaram marcados na história. Para esse texto, selecionei alguns desses desfiles para falarmos desse poder de transformação das escolas que dão vida aos livros e nos ensinam um pouco mais sobre aquilo que nem sempre temos acesso.

No ano de 1966, o Rio de Janeiro vivia, semanas antes do carnaval, uma de suas maiores tragédias com as chuvas, algumas escolas inclusive tiveram suas próprias quadras destruídas. Na época, muitas pessoas não viam motivos para que tivessem os desfiles, mas o poder público decidiu fazer exatamente o contrário: garantir a festa para que a população esquecesse um pouco do sofrimento dos dias anteriores. E aí nascia o 18º campeonato da Portela, baseado no livro “Memórias de um Sargento de Milícias“, escrito no século XIX por Manuel Antônio de Almeida. De acordo com o site Portela Web “assim como o romance, a Portela retratava um Rio que havia ficado no passado. A história girava em torno de Leonardo, o sargento de milícias, que vivia suas aventuras românticas. O canal do Mangue, então um recanto boêmio, era o cenário onde se desenrolava a trama”.

Alguns anos depois, em 1976, a Em Cima Da Hora, lançava o enredo “Os Sertões”, inspirado no livro de mesmo no nome, escrito por Euclides da Cunha, entregando a posteridade um dos mais belos sambas do carnaval carioca, uma verdadeira aula de história sobre a Guerra de Canudos. Você pode ouvir no player abaixo:

Recentemente, a Mocidade Independente de Padre Miguel, no Carnaval 2016, fez uma crítica contundente as manchas do Brasil, com o enredo “O Brasil de La Mancha: Sou Miguel, Padre Miguel. Sou Cervantes, Sou Quixote Cavaleiro, Pixote Brasileiro”, onde já na sua comissão de frente mostrava um Dom Quixote acordando de um sonho (ou pesadelo) e encontrando políticos com malas de dinheiro, travando uma batalha com eles, prendendo todos e subindo no alto de uma torre de petróleo fincando a bandeira do Brasil. Apesar de polêmica, a escola através da literatura e do seu próprio espetáculo, fez sua crítica a tudo o que temos vivido no país.

Por fim, poderíamos citar dois grandes desfiles de 2017 que se basearam em livros, o primeiro da Beija-Flor de Nilópolis, que levou pra avenida um enredo inspirado no romance “Iracema” de José de Alencar e o Império Serrano que ganhou o título do Grupo de Acesso com o enredo “Meu Quintal é Maior que o Mundo”, do carnavalesco Marcus Ferreira, baseado na obra completa de Manoel de Barros.

Ao longo dos anos, vários enredos se inspiraram em livros, peças teatrais, músicas… e levaram a milhões de pessoas no mundo um pouco mais da nossa cultura, dos nossos costumes, das nossas belezas, serviram para fazer críticas a acontecimentos que traziam e ainda trazem a decepções aos brasileiros. Nesse dia nacional do livro, fica aqui a nossa homenagem a todos os escritores que nos fazem mergulhar em histórias que jamais sonhávamos em conhecer e, claro, aos carnavalescos, o nosso muito obrigado, por darem vida a essas histórias que muitas vezes ficam guardadas apenas em nossas lembranças.

Seja.Leia. Quando você lê, você é o protagonista por um tempo!

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2 COMENTÁRIOS

  1. Finalmente um texto dessa campanha em que uma pessoa compôs um texto e falou sobre a importância dos livros, ao invés de só copiar o release. Parabéns!

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