Sinopse Global Editora: O brilho da trajetória literária de Caio Fernando Abreu só encontra paralelo na sua coragem em tratar temas chamados malditos, numa literatura tão bem comportada como a nossa. Ele foi o primeiro (ou dos primeiros) a tratar de drogas, rock, cultura pop, e a aprofundar os problemas do mundo gay. Seus contos ferem como uma facada. (Resenha: Melhores Contos – Caio Fernando Abreu).
Opinião: O livro Melhores Contos – Caio Fernando Abreu, publicado pela Global Editora, com seleção de Marcelo Secron Bessa, nos faz mergulhar na obra de um dos principais autores brasileiros das décadas de 70 e 80, que morreu ainda jovem, com apenas 47 anos, devido a complicações do HIV, na metade dos anos 90. Costumamos ouvir por aí que muitas vezes um artista só tem o reconhecimento de sua obra após a sua morte e com ele foi exatamente isso que aconteceu. Em diversas pesquisas e no próprio livro vemos que Caio Fernando Abreu sempre foi “deixado de lado” pela grande corte da literatura brasileira, devido a sua visão depressiva do mundo. Quando seus livros começaram a ganhar repercussão e publicações fora do Brasil o autor já não estava mais entre nós.
Gay assumido em plena ditadura militar, foi perseguido e precisou se refugiar no interior de São Paulo, exilando-se mais tarde na Europa. Sua obra traduz os momentos mais íntimos do seu modo de vida e a sua forma de ver o mundo, na busca incessante pela felicidade através das dores do seu dia a dia.
O escritor venceu quatro Prêmios Jabuti de Literatura e o Prêmio de Melhor livro pela Revista IstoÉ, em 1982, com Morangos Mofados. O livro conquistou lugar cativo no coração da geração da década de 80 e é considerado uma das principais obras do autor. Como destaque, brilhantemente selecionado por Marcelo Secron Bessa, nessa obra que reúne seus melhores contos, temos justamente o último conto do livro, que leva o mesmo nome. Morangos mofados é um conto que deve ser lido e relido toda vez que a dor e a saudade apertam no peito, naqueles momentos em que ninguém mais é capaz de entender os nossos próprios medos do que nós mesmos.
Marcelo Secron reúne 24 dos melhores contos de Caio F. Abreu. É praticamente impossível não discordar dele, quando se trata de uma obra tão rica e profunda como a que estamos falando, mas a seleção dos contos foi feita com um respeito impar que o autor merece. Contos como “Aqueles Dois“, “Holocausto” e “Depois de Agosto” deveriam ser leituras obrigatórias para os apaixonados pela literatura.
Além disso, não consigo me recordar de outro autor da década de 80 que tenha tanta identificação com as gerações atuais. Gerações que encontram nas palavras de Caio F. Abreu a sua própria liberdade. Por falar de drogas, sexo, homossexualismo e diversos outros temas que até hoje ainda são considerados polêmicos, nas décadas recentes, o autor foi alçado a conselheiro da geração Facebook, com inúmeras páginas reproduzindo suas citações e o tornando um dos escritores mais conhecidos entre os mais jovens.
Melancólico, Caio Fernando Abreu, teve o dom de nos fazer enxergar no mais profundo da nossa própria alma através de suas palavras, justamente por entender perfeitamente a dor humana, a rejeição e o desejo de que um dia conseguiremos encontrar o nosso verdadeiro eu, aquele que realmente nos fará o olhar pra trás e ver que tudo valeu a pena, ou não.
Avaliação: 4 de 5 estrelas
Sobre o autor: Caio Fernando Loureiro de Abreu (Santiago, 12 de setembro de 1948 — Porto Alegre, 25 de fevereiro de 1996) foi um jornalista, dramaturgo e escritor brasileiro. Apontado como um dos expoentes de sua geração, a obra de Caio Fernando Abreu, escrita num estilo econômico e bem pessoal, fala de sexo, de medo, de morte e, principalmente, de angustiante solidão. Apresenta uma visão dramática do mundo moderno e é considerado um “fotógrafo da fragmentação contemporânea”.
A seleção dos contos desse livro foi feita por Marcelo Secron Bessa. Carioca, graduou-se em Letras pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Obteve os títulos de mestre e doutor em Letras pela PUC-Rio, onde lecionou no Departamento de Comunicação Social. É autor de Histórias positivas (Record) e Os perigosos (Aeroplano) e organizador, com Jane Galvão e Richard Parker, de Saúde, desenvolvimento e política (Editora 34).
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