Sinopse Contexto: Em 1318, padre Augustin, um novo inquisidor, chega a Lazet, na França, disposto a rever processos antigos do Santo Ofício. Pouco tempo depois é brutalmente assassinado e seu subalterno, Padre Bernard, é encarregado da investigação. No entanto, ao tentar proteger quatro mulheres, ele próprio se torna suspeito por seus pares. Acusado de assassinato e perseguido como herege, Bernard terá que lutar por sua vida e a de suas protegidas. As violências praticadas em nome da religião, o intrincado jogo de interesses dos poderosos, o fanatismo, a caça às bruxas e as relações marcadas por luxúria, amor e traição fazem deste romance histórico uma narrativa arrebatadora e – por que não? – Terrivelmente atual. Amor, crime, traição, fanatismo: uma trama surpreendente em um livro arrebatador sobre um dos períodos mais instigantes da história. (Resenha: O Inquisidor – Catherine Jinks)
Opinião: Faz algum tempo que eu estava sentindo falta de um bom suspense de época pra escapar dos frenéticos detetives e suas tecnologias de ponta na caça por assassinos sofisticados. Não que esses sejam ruins, pelo contrário, mas existe uma magia especial em acompanhar investigações em épocas distantes da nossa realidade. E quando essa época é a Idade Média e traz a Inquisição a tiracolo, acredito que temos uma combinação perfeita para uma excelente história. Assim posso resumir O Inquisidor, lançamento de estreia do selo Marco Polo, da editora Contexto, voltado para grandes obras de ficção histórica.
O Inquisidor é narrado em primeira pessoa em forma de carta. Uma grande epístola do Padre Bernard para um superior em que ele relata em detalhes os acontecimentos que sacudiram a pequena Lazet, na França. Como a sinopse do livro já adianta, Padre Bernard está investigando o brutal assassinato do inquisidor Padre Augustin, e no meio da trama acaba se vendo como suspeito do crime. Uma trama simples, básica, mas que foi desenvolvida por uma autora com absoluto domínio da época em questão, o que faz toda a diferença.
Esperamos sempre de um bom suspense, aquele mistério que se sustente e segure nossa curiosidade até o fim. O Inquisidor tem esse ingrediente, mas ouso me distanciar desse ponto para dizer que a maior qualidade da história está no retrato feito dos tempos da Inquisição. A leitura nos transporta facilmente para o clima de tensão do período. Os diversos personagens secundários que desfilam pelas páginas vão compondo o cenário de medo constante em que as pessoas viviam. Uma atmosfera que nos envolve e nos deixa tensos também. A Igreja era vista com respeito e desconfiança. Os padres abençoavam, mas também eram aqueles que investigavam e puniam. E a punição era sempre maior que as bênçãos.
É neste clima que o Padre Bernard precisa conduzir sua investigação. Conseguir informações e pistas de pessoas que o olhavam com certa desconfiança, afinal qualquer um poderia ser suspeito apenas por empregar uma ou outra palavra de modo errado. E ainda se atendo a reconstituição histórica, qualidade maior da obra, a autora faz daquele pequeno povoado uma espécie de microcosmos de tudo o que se passava na Europa do século XIV. Fazem parte da construção desse suspense a desconfiança à figura da mulher, geralmente associada à bruxaria; as relações espúrias entre representantes de governo e da Igreja; as figuras ambiciosas de bispos e inquisidores; o culto ao poder e ao dinheiro; e a luta das pessoas de bem para tocar a vida nessa “fogueira” de vaidades e interesses.
A linguagem do livro se prende bem ao estilo de época e à pessoa que está narrando. Sendo o narrador o Padre Bernard, trechos bíblicos ou de ensinamentos de doutores da Igreja vão aparecendo com frequência como complemento ou justificativa de ações. Mas passa longe de ser algo maçante ou de difícil leitura. Na verdade, a trama se desenrola facilmente, e logo somos cativados pela figura do narrador, o que faz de nós também destinatários dessa carta. Padre Bernard é um personagem fascinante. Extremamente espirituoso para um padre da época e com diversas tiradas bem-humoradas, ele nos conquista na sua fé e nos momentos em que essa fé e seus votos são postos à prova.
O Inquisidor vem se somar aos poucos bons suspenses de época que temos disponíveis. Para os fãs de ficção histórica no estilo de Bernard Cornwell, Ken Follet ou Jan Guillou, a obra não decepciona. Um grande mistério numa época fascinante em uma história de fé e amor.
Avaliação: 5 Estrelas
A Autora: Catherine Jinks nasceu na Austrália e cresceu em Papua Nova Guiné. Estudou História Medieval na Universidade de Sydney e trabalhou como jornalista, antes de passar a se dedicar totalmente ao trabalho de escritora.