Sinopse Lendari: Diz uma lenda antiga que o Rei Salomão conjurou, ouviu e registrou para si os saberes reunidos de 72 demônios. Ao fim da empreitada, ele aprisionou os caídos em um jarro de bronze, o selou e o lançou no fundo de um lago. Mas os babilônios, vendo tal cena, acreditaram que lá haviam tesouros reais e foram resgatar o artefato, sem que ninguém os vissem. Encontraram-no após dias, abriram-no e concederam a liberdade, outra vez, aos 72 anjos da escuridão. Libertos da clausura, voltaram a percorrer o mundo para atentar, ludibriar e mentir contra os homens. Nesta coletânea de contos tais potestades da terra e do ar encontram-se com seres humanos que, ao contrário dos reis e de outros homens de poder, almejavam coisas simples: reconhecimento profissional, rever um familiar desaparecido ou ter uma nova chance pelo amor. Mas os saberes arcanos, repassados pelos caídos, têm seu preço: seja ele em peso de ouro, prata ou carne. E, cedo ou tarde, eles voltam para cobrar a conta. (Resenha: Minhas Conversas com o Diabo – Mario Bentes)
Opinião: O título pode parecer assustador ou heresia pura na opinião dos mais conservadores, mas os contos reunidos nesta coletânea passam longe disso. Minhas Conversas com o Diabo é um livro sobre pessoas comuns, como eu e você. Pessoas com uma vida pra lá de normal com todos os ingredientes de drama, frustrações, ambições, sonhos, alegrias e tristezas. Mario Bentes nos leva pelo interior da alma humana com aquela velha disputa de certo e errado, ou bem e mal, se preferirem, acontecendo a todo instante.
Todos nós temos ao longo da vida momentos de fraqueza, dúvida, indecisão e descrença. Existe sempre aquela horinha em que não sabemos se tudo o que nos rodeia é, de fato, o que queremos para nossa vida. E é no silêncio da noite, em meio a nossa vulnerabilidade, que o diabo apronta das suas. Este é o cenário em que os sete contos reunidos na obra desenvolvem suas histórias. Padres, crianças, esposas, mães solteiras, jornalistas… Pessoas cujas vidas não eram necessariamente um mar de rosas e que, no instante propício, receberam aquela proposta irrecusável de mudar tudo.
A narrativa de Mario Bentes é tão simples e objetiva quanto o cotidiano dos personagens retratados, o que confere um ar de naturalidade para cada história. O sobrenatural não causa medo, nem acredito que tenha sido esse o objetivo do autor, mas produz reflexões sobre nossas próprias experiências. Por fim, destaco a sequência dos três contos finais como as de maior qualidade no livro. São eles: À espera da próxima carta, A mulher da capa de couro e Diga-me tu, filho do homem: qual o teu sonho?
Entre altos e baixos, Minhas Conversas com o Diabo, é uma boa leitura para passarmos o tempo e nos defrontarmos um pouco com nossos tormentos interiores.
Avaliação: 3 Estrelas
O Autor: Mario Bentes nasceu em Manaus em 10 de maio de 1984. Sua vontade de escrever começou ainda na infância, a partir da leitura de livros como A Cidade muda e Rolando na Duna. É autor de A terra por onde caminho, e organizador das antologias Quando a selva sussurra: contos amazônicos e O último Gargalo de Gaia: distopias, steampunk e dias finais, além de assinar contos publicados em diversas coletâneas.