Sinopse Aleph: Uma impiedosa praga assola o mundo, transformando cada homem, mulher e criança do planeta em algo digno dos pesadelos mais sombrios. Nesse cenário pós-apocalíptico, tomado por criaturas da noite sedentas de sangue, Robert Neville pode ser o último homem na Terra. Ele passa seus dias em busca de comida e suprimentos, lutando para manter-se vivo (e são). Mas os infectados espreitam pelas sombras, observando até o menor de seus movimentos, à espera de qualquer passo em falso…. Eu sou a lenda, é considerado um dos maiores clássicos do horror e da ficção científica, tendo sido adaptado para o cinema três vezes. (Resenha: Eu Sou a Lenda – Richard Matheson)
Opinião: Um dos maiores clássicos da ficção científica com toques de inovação no horror, Eu Sou a Lenda dispensa apresentações. Foram nada menos do que três adaptações para o cinema, a última em 2007 estrelada por Will Smith. Mas fiquemos atentos, os filmes não captaram a essência da obra e em boa parte dos casos passaram bem longe da qualidade narrativa e criativa de Matheson.
Eu Sou a Lenda é uma história de sobrevivência e solidão. O protagonista Robert Neville é o último da espécie humana e passa seus dias numa rotina de luta. Luta contra as criaturas que agora habitam o mundo, contra as emoções do passado, contra as dificuldades num território desolado, e principalmente contra a insanidade. Acompanhando seu dia a dia e suas mudanças de humor, o livro vai nos mostrando como “sociedade” é muito mais do que um conceito ou uma forma de designarmos grupos de pessoas. Ela é uma das bases para a sanidade. A perda das referências humanas que sempre se fizeram presentes na vida como a família, os vizinhos ou os estranhos que vemos nas ruas leva nossa mente para um abismo. O livro deixa claro que grupos sociais são necessários. Não há sobrevivência solitária.
Para se manter são, Robert se agarra aos estudos das criaturas. Ele busca a explicação da ciência em meio a perda da fé. E à medida que a história avança, Matheson vai desnudando o personagem e mostrando que a fortaleza humana é frágil. Ao mesmo tempo em que se agarra com afinco à sobrevivência, ele questiona se não é melhor se entregar. As batalhas interiores que se travam mesclam fraqueza, medo, desejos, angústias, sede de vingança, fome sexual. É o homem levado ao seu limite e sendo testado a cada minuto, sem descanso. Essa guerra do personagem consigo mesmo e com o que vive ao seu redor nos conduz para um final à altura. O único final possível para essa encruzilhada das espécies que restaram.
Eu Sou a Lenda inova ao tratar de criaturas já consagradas no imaginário da literatura de horror: os vampiros (não, isso não é um spoiler). Matheson traz explicações científicas e medicinais para os sintomas do vampirismo. Cada uma das tradicionais armas usadas (estaca, cruz, alho) é vista sob o ponto de vista da ciência. Não há misticismos ou crendices. Existe uma busca pela explicação racional.
As mais de trezentas páginas dessa história de um único personagem são o que de melhor já se produziu em literatura sombria, sufocante, que perturba e causa reflexões. A narrativa é envolvente e nos leva para dentro da mente de Neville. Não à toa, Richard Matheson influenciou uma geração de mestres do horror como Stephen King, que assina o prefácio desta maravilhosa edição em capa dura da Aleph.
Ao final ficamos com o perturbador questionamento sobre o conceito de “ser normal”. Quando tudo à sua volta sofre uma mudança radical, quem são, de fato, os normais e quem são os monstros?
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