“O que ofereço é uma experiência única”
Cesar Bravo é um nome que você pode não conhecer. Ainda!
Paulista de Monte Alto, Cesar Bravo é um dos grandes nomes da literatura de terror brasileira, e
O Leitor Compulsivo teve o prazer de conversar com Cesar Bravo e saber um pouco mais de sua carreira e sua visão sobre os novos caminhos do terror nacional. Confira a entrevista concedida ao Jeff Rodrigues.
O terror tem grandes autores estrangeiros de referência e sempre recebeu certa atenção das editoras nacionais em traduções, no entanto o gênero é pouco explorado por autores nacionais. A que o senhor atribui isso?
CESAR BRAVO: Boa pergunta. Precisamos entender que a venda de livros também é um negócio, e que negociantes precisam de lucro. Veja bem, para que investir nosso dinheiro em um ilustre desconhecido se temos a garantia de venda de um best-seller? Essa era a regra de ouro até bem pouco tempo. O que mudou de uns anos para cá foi o interesse dos novos leitores por autores nacionais. Paralelo a isso, tivemos uma explosão de novos autores; escritores que acreditam em si mesmos, participam de oficinas literárias, se especializam e pressionam as editoras para serem publicados. Pensem em todos os blogs e parceiros que atuam da mesma forma. Some a esses fatores uma crise econômica que jogou os royalties internacionais nas alturas e teremos a resposta para o que está acontecendo hoje em dia. Em minha opinião é uma revolução tremenda, uma união do útil com o necessário que levará todo o mercado de literatura nacional a uma grande evolução.
O senhor começou sua carreira publicando através da Amazon. Qual é a maior
CB: Como disse anteriormente, editoras precisam vender. Editoras mais sérias e comprometidas também procuram o perfil certo antes de investirem em um determinado autor. Um profissional preparado, que tenha alguma experiência com o público, escritores com mais de uma obra e uma base razoável de leitores. Desses fatores, o mais complicado ainda é formar a base de leitores, é gerar interesse do mercado — ainda que seja feito por dentro, no underground, oculto das grandes mídias. Quando você tem um grupo de leitores que endossa seu trabalho, fica muito mais fácil acessar as editoras maiores. Existem muitas plataformas; Blogs, Wattpad, Facebook, Amazon, estou certo de que existem muitas outras. O escritor iniciante precisa utilizar essas ferramentas, precisa oferecer um material de qualidade e ser lido. Sobre o horror, creio que seja um filão pouco explorado quando tratamos de autores nacionais. Também tenho uma opinião formada sobre dificuldades & oportunidades. Em um mercado escasso, ou pouco explorado como citei, a chance de alguém mostrar qualidade e chamar a atenção dos leitores é muito maior.
Na introdução do livro “Pesadelos e Paisagens Noturnas”, Stephen King conta que foi um garoto que acreditava em tudo que lhe diziam e que esse acreditar, mesmo em coisas improváveis ou absurdas, contribuiu muito para o resultado de inúmeros de seus contos ou histórias. Qual a sua relação com as histórias que escreve? O senhor acredita, de alguma forma, nas situações que cria?
CB: De uma forma muito especial eu diria que acredito sim. É como se minhas histórias (mesmo as mais absurdas) realmente existissem em algum tempo ou lugar que não compreendo. Quando estou escrevendo esqueço do mundano, e o que se torna realidade é a fantasia que tinge as páginas. Sou um curioso ávido sobre o que existe atrás das cortinas, oculto nos meandros do além-mundo. Sempre gostei de histórias estranhas, talvez de tanto ouvi-las e lê-las eu tenha aprendido a contá-las. Minha relação com as minhas criações é bastante próxima, sou muito atento ao que me cerca e muitas vezes personagens e cenas são distorções da realidade que vivencio.
Como o senhor lida com a tal da inspiração? Qualquer coisa ou situação pode se transformar numa narrativa de horror?
CB: Uma boa história precisa ser contada. Não é uma escolha, é uma necessidade. A inspiração pode surgir de vários gatilhos. Às vezes ela cresce, às vezes ela morre, nas histórias certas a inspiração te domina com maior intensidade. O trabalho de composição não é mais fácil por esse motivo. Escrever é dia a dia, palavra a palavra, como os tijolos em uma construção. O trabalho do escritor é comparecer ao trabalho todo dia, selecionar os tijolos que precisa e erguer a parede, é o que faço com boa parte do meu tempo. Acredito que absolutamente tudo possa gerar uma narrativa de horror. Nós lidamos com o acaso o tempo todo, e ele nem sempre é generoso. É o que torna a vida tão interessante e assustadora, essa instabilidade.
O senhor tem algumas coletâneas de contos, como “Além da Carne” e “Calafrios da Noite”, um estilo narrativo que perdeu um pouco sua força no Brasil. Porque escrever contos? Qual a importância deles no conjunto de sua obra?
CB: Contos são fundamentais. Tendo como ponto de partida que todo escritor é um contador de histórias, os contos são minha principal ferramenta de escrita. Um romance é um compêndio de contos, um após o outro, cenas interligadas por uma ideia principal. Além dessa necessidade, eu amo essa parte do trabalho. Costumo dizer que um conto é sempre sincero, uma história curta nunca engana ninguém. Ou o conto é bom ou não presta, e quando você acerta a mão e arranca um sorriso ou um suspiro de alguém, oh sim, é como ganhar na loteria.
Qual ou quais livros e autores mais exercem influência no seu estilo?
CB: A lista é enorme, leio muito e leio o tempo todo. Eu fico mais confortável em citar quatro autores, meu quarteto fantástico. H. P. Lovecraft, Edgar Allan Poe, Stephen King, Clive Barker. São esses homens talentosos que me influenciam todos os dias — e haverão de fazê-lo por muito tempo.
A DarkSide surge com foco em um nicho bem específico do mercado editorial, traz obras e autores relegados a segundo plano ou mesmo ignorados pelas demais, além de um cuidado na produção dos livros que beira à loucura. Como é fazer parte desse universo?
CB: Fazer parte de uma história de sucesso é sempre maravilhoso. Mas o que a DarkSide tem de tão especial? Além do impressionante perfeccionismo nas edições, ela realmente joga luz onde está escuro. Como um exemplo, cito Clive Barker e mais recentemente Willian Peter Blatty. São autores fantásticos, mas que por algum motivo acabaram subvalorizados em nosso mercado. A DarkSide tem um filtro excelente para o que é interessante, inclusive na captação dos colaboradores da empresa, essa é a especialidade da editora. Considero-me honrado por fazer parte do time, encontrei na DarkSide a minha morada. Os livros são incríveis, todos eles, cada pedacinho deles, sem exceção. Como fã e autor, tenho a obrigação de manter o mesmo padrão — embora não seja fácil, eu não trocaria esse trabalho por nada.
O que os leitores podem esperar de Ultra Carnem?
Pode revelar quais os seus planos futuros? Já há alguma nova história sendo gerada?
CB: Escrevo sem parar, então, sim: tenho algo novo sendo escrito. Enquanto isso, também pretendo me aprofundar em outras mídias; roteiros, cinema, teatro, o que surgir dentro de minhas possibilidades e me despertar interesse. Planejo ficar muito tempo com todos vocês, conhecê-los, ouvir o que têm a dizer sobre esse livro insano que acabou de nascer e dos que ainda ganharão a luz do mundo.
Agradeço imensamente pela oportunidade de falar um pouco sobre o meu trabalho e desejo uma estrada cheia de boas surpresas a todos vocês.