Ícone do site Leitor Compulsivo

Resenha: O Crepúsculo do Mundo – Werner Herzog

Sinopse Todavia: Embrenhados na selva de uma pequena ilha nas Filipinas, o jovem tenente japonês Hiroo Onoda e seus três companheiros de guerrilha “põem-se a caminho pelas décadas que têm pela frente”. Último sobrevivente, e certo de que o fim da guerra não passa de uma mentira do inimigo, Onoda levará quase trinta anos para ser convencido a finalmente se render. O crepúsculo do mundo é uma história de sobrevivência, de honra, de estoicismo e de um indivíduo confrontando, até os limiares da loucura, as forças destrutivas da civilização e da natureza indiferente. Um prato cheio, portanto, para o diretor de cinema Werner Herzog, que aqui confirma ser um prosador de firmeza e poder sugestivo impressionantes. (Resenha: O Crepúsculo do Mundo – Werner Herzog)

Opinião: “… É sua missão manter a ilha ocupada até o retorno do Exército imperial. O senhor defenderá esta área empregando para tanto a guerra de guerrilha, custe o que custar. Terá que tomar todas as decisões por conta própria. Ninguém lhe dará ordens. Está à sua própria mercê.”

Ordem recebida, o jovem tenente japonês Hiroo Onoda parte para a missão de defender a ilha de Lubang, nas Filipinas, na Segunda Guerra Mundial. A partir desse momento, ele não só vai vivenciar os desafios de uma guerra em meio a floresta e todos os seus percalços, como vai entrar para a história como o último a se render, vinte e nove anos depois do fim da guerra.

O Crepúsculo do Mundo, do cineasta alemão Werner Herzog, é um breve relato de menos de cem páginas da saga de Hiroo Onoda em cumprir honradamente a missão que lhe foi confiada. Acompanhado de mais dois soldados, ele vai empreender uma guerra quase pessoal em defesa do território de Lubang. Finda a guerra não só com a saída do Japão, mas também com a capitulação alemã, Onoda não vai se entregar. Convicto de que as notícias do fim da guerra não passam de armações dos inimigos para driblá-los, ele vai permanecer na floresta realizando ataques, pequenos saques, matando civis e seguindo pelas próximas décadas enquanto aguarda o Exército imperial.

Somente em 1974 Onoda vai ser encontrado. Um jovem estudante vai firmar um trato com o tenente de levar até ele o antigo comandante que deu a ordem de defesa da ilha. Só assim, Onoda vai pôr fim à guerra e baixar armas. Parece ficção. E ficção dessas de cinema. Mas é a mais incrível realidade.

O tenente Onoda chegou a viver muitos anos no Brasil criando gado no Mato Grosso do Sul – ele, inclusive, recebeu o título de Cidadão Sul-Matogrossense da Assembleia Legislativa do Estado em 2010. E faleceu em 2014, já morando no Japão.

A guerra de Onoda é peculiar se pensarmos no seu senso de lealdade e comprometimento com a ordem recebida. Poucas pessoas se empenhariam de tal forma e ignorariam tanto a realidade ao redor. A defesa da ilha só teria fim perante o retorno do exército japonês. Em caso de captura pelo inimigo, ele deveria tirar a própria vida. E foi assim que Onoda seguiu ano após ano. Descartando sumariamente qualquer alerta sonoro, panfletos ou mesmo ausência de bombardeios. Tudo para ele era armações dos adversários. E escondido na selva, testemunhou aviões cruzando os céus em direções diferentes… Já eram outras guerras acontecendo na Coreia, no Vietnã… Mas ele se mantinha fiel ao compromisso.

O pequeno relato de O Crepúsculo do Mundo mescla diálogos rápidos com pensamentos e atitudes de Onoda na floresta. Sem se ater a detalhamentos infindáveis, Herzog reconstruiu a saga a partir de muitas entrevistas, inclusive com o próprio Onoda. É um relato surreal de algo impensável capaz de nos deixar perplexos ao encarar as quase três décadas de uma guerra solitária.

Seria Onoda um herói a ser cultuado pela sua bravura e fidelidade excessiva ou teria ares de vilão se pensarmos nas dezenas de filipinos que morreram por seus ataques anos e anos após o fim da guerra? Um personagem dúbio que cabe a história julgar…

Compre na Amazon

O Autor: Werner Herzog, nascido em 1942, é um dos cineastas mais aclamados da atualidade. Dirigiu, entre outros, os filmes Fitzcarraldo (1982) e O homem urso (2005).

Sair da versão mobile