Resenha: A Volta do Parafuso – Henry James

Sinopse Nova Fronteira: Um homem que se vê responsável pelos dois sobrinhos órfãos decide deixá-los sob os cuidados de uma jovem governanta, com a condição de que, aconteça o que acontecer, ela não o importune. É numa isolada casa de verão no condado de Essex, na Inglaterra, que a preceptora conhece o menino Miles, recém-chegado do internato para passar as férias escolares, e Flora, sua irmã mais nova. Mas não é apenas com essas crianças estranhamente distantes, belas e silenciosas que a jovem vai se defrontar: nos arredores da propriedade de janelas empoeiradas e torres sombrias, duas figuras espreitam e se aproximam de Miles e Flora, querendo dominá-los pela mente e pela alma. Com imenso pavor, a governanta percebe que o mal que os cerca não assusta as crianças — pelo contrário, elas se deixam atrair. A volta do parafuso, Henry James constrói uma narrativa de tirar o fôlego, que questiona os limites da realidade ao tratar das obsessões mais profundas do ser humano (Resenha: A Volta do Parafuso – Henry James)

Opinião: Clássico da literatura, A Volta do Parafuso (há algumas traduções que colocaram o título como A Outra Volta do Parafuso, mas trata-se do mesmo livro) é um daqueles livros fadados a levantar discussões eternamente. Com isso, vai sobrevivendo gerações e garantindo sempre seu lugar na estante dos grandes livros da história. Tudo isso em uma trama de aproximadamente cento e cinquenta e em um clima claustrofóbico típico das obras da chamada era vitoriana.

Aberto a inúmeras interpretações, A Volta do Parafuso é narrado em primeira pessoa por uma jovem contratada para ser governanta e preceptora de um casal de irmãos em uma mansão isolada, na Inglaterra. Ali, ela percebe que as crianças, e a casa, são rondadas por dois estranhos, Jessel e Peter Quint, antigos funcionários do local. Temos, então, o cenário e os ingredientes para uma história em que as entrelinhas falam mais do que a narração em si e praticamente tudo é muito aberto à sua interpretação enquanto leitor.

Desde o começo, fica claro que existem muitos segredos em torno das crianças e de seus antigos preceptores. Só que embora esse mistério paire no ar a todo momento, nada é dito. Houve um mal nessa casa. Houve um mal com essas crianças. Mas o que foi isso? Abuso sexual? Eles presenciaram algum ato doentio ou violento? Nada é revelado. E isso faz a tensão e o nervosismo crescerem. Ficamos perturbados e agoniados por quase tocar, mas nunca sentir de verdade. E pior. A jovem governante sabe ou desconfia de algo. A senhora que a ajuda, sabe muito mais. As crianças sabem e sabem também que as duas adultas têm ciência de algo errado. E novamente, nada é revelado.

Com um enredo e narrativa muito comuns do período, o que pode causar incômodo e estranheza para os leitores de hoje, A Volta do Parafuso reflete em muito uma época em que certas coisas não eram ditas claramente. Tudo ficava muito subentendido e nas entrelinhas. Henry James seguiu isso à risca, deixando inúmeras migalhas ao longo de um livro cuja tensão só cresce e em que o sentimento de que vai acontecer algo nos deixa angustiados. Exemplos? As crianças, descritas como verdadeiros anjos, têm um comportamento que às vezes soa irreal. Suas falas são adultas demais. Estariam elas possuídas por uma força externa? A jovem governanta (seu nome nunca é mencionado) apresenta uma relação da metade para o fim do livro extremamente ambígua com o garoto Miles. Confesso que alguns dos diálogos deles, em que se referem um ao outro como “minha querida” ou “meu querido”, me colocou pulgas atrás da orelha.

Mais tensa que toda essa narrativa, somente a sequência final, também aberta a interpretações, é capaz de deixar os leitores arrepiados e confusos. Tive um entendimento de que a governanta levou tudo às últimas consequências (quem ler vai me entender), mas sei que é possível ter outras visões para o desfecho. Temos aqui uma trama de repressão sexual, uma boa história de fantasmas ou uma narradora psicótica que é vítima de um surto ao se ver nesse local isolado? Contem-me suas visões e interpretações…

Quanto mais você aperta um parafuso, mais pressão se exerce na superfície de forma que ele se encaixe. Quanto mais voltas você dá no parafuso, mais pressão, portanto, se é exercida… Até o momento em que sua mente pode falhar (ou surtar)…

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O Autor: Henry James romancista americano nascido em Nova Iorque, a 15 de Abril de 1843, naturalizou-se cidadão inglês em 1915. Criador de uma vasta obra (escreveu 20 romances, 112 contos, 12 peças de teatro e alguns artigos de crítica literária), Henry James é uma das grandes figuras literárias de língua inglesa.

Beneficiou de uma educação esmerada, pois o seu pai era um dos mais conhecidos intelectuais americanos. Durante a juventude, Henry James realizou viagens frequentes à Europa, vindo mais tarde a viver em Paris, onde foi correspondente do New York Tribune, e em Inglaterra, país onde viria a morrer em 1916.

Autor de obras-primas como Daisy Miller (1879), Portrait of a Lady (1881), The Bostonians (1886) e The Embassadors (1903), Henry James foi postumamente laureado com graus pelas Universidades de Oxford e Harvard, eleito para o National Institute of Arts and Letters e, em 1950, para a American Academy of Arts and Letters, tendo recebido também a Ordem de Mérito pelo Rei George V.

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Jornalista e aprendiz de serial killer. Assumidamente um bookaholic, é fã do mestre Stephen King e da literatura de horror e terror. Entre os gêneros e autores preferidos estão ficção científica, suspense, romance histórico, John Grisham, Robin Cook, Bernard Cornwell, Isaac Asimov, Philip K. Dick, Saramago, Vargas Llosa, e etc. infinitas…

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