Sinopse Suma: O dr. Eric Sweetscent está em apuros. Seu planeta está enredado em uma guerra intergaláctica; sua esposa é letalmente viciada em uma poderosa droga com efeitos colaterais estranhos; e seu novo paciente não é apenas o homem mais importante da Terra, como talvez o mais doente. Em meio a uma crise interplanetária, onde nada é exatamente o que parece, Eric se torna o médico pessoal do secretário geral Gino Molinari, que transformou suas misteriosas doenças em um instrumento político — e Eric já não sabe se seu trabalho é curá-lo ou apenas mantê-lo vivo. Navegando entre o impossível e o inevitável, Philip K. Dick nos apresenta um futuro onde a realidade é uma superfície terrivelmente tênue, multifacetada — e faz com que o leitor repense tudo o que sabe sobre o tempo. (Resenha: Espere Agora pelo Ano Passado – Philip K. Dick)

“A vida é feita de configurações de realidade…”

Opinião: Viagens no tempo, drogas alucinógenas e uma guerra interplanetária se combinam para gerar um romance de ficção científica em que o futuro é apenas mais uma das camadas da nossa realidade, e a política é desvendada em nuances e jogos de poder com fortes doses de crítica social. Em Espere Agora pelo Ano Passado, Philip K. Dick coloca os leitores no centro de uma narrativa complexa, bem diferente de outras obras já conhecidas nossas, e com forte dose de drama existencial.

Espere Agora pelo Ano Passado traz o não tão distante ano de 2055 como palco para um clima de tensão no universo. A Terra é governada pelo secretário-geral da ONU, alguém com ares de ditador fascista, claramente inspirado na figura de Benito Mussolini. Há uma guerra fria em curso com fortes chances de desandar em conflito espacial, com nosso planeta sendo invadido por outros povos. E temos a nossa disposição uma droga capaz de quebrar as barreiras do tempo e fazer com que passado e futuro possam ser acessados e moldados de forma a influenciar os rumos do presente. Parece complicado e realmente é, o que faz desse um dos livros que devem dividir opiniões entre os leitores que vão mergulhar fundo, entender e ficar fascinados, e os que vão simplesmente abandonar a leitura ou se arrastar até o final.

PKD constrói um ambiente futurista de tirar o fôlego com gigantescos aglomerados urbanos em diferentes planetas, tecnologias impensáveis, e uma galeria de personagens bem estruturados e bastante imaginativos, como os reegs, espécie de insetos que convivem tranquilamente conosco. Nesse cenário, sua trama de bastidores políticos e manipulações de poder é tecida em camadas que vão driblando a realidade e nos fazendo questionar sobre onde de fato ela começa e onde se mistura ao artificial, irreal ou ilusório. Em certo aspecto a droga JJ-180, por exemplo, lembra o “soma” de Huxley em Admirável Mundo Novo, que permite uma fuga da realidade.

O protagonista da obra, Eric Sweetscent, traz consigo dramas pessoais, uma conturbada relação com a esposa em um casamento naufragado, e uma angústia com tudo que o rodeia que faz dele alguém fascinante para nos guiar ao desbravar esse mundo. Suas reflexões, quase filosóficas, e a forma como ele se envolve com o poder de forma a atuar para alterar o jogo, ou garantir sua continuidade, nos ajudam a entender melhor não só todas as infindáveis camadas que compõe esse romance, como abrem brechas para especularmos o quanto a biografia do próprio autor se misturou na formação desse personagem.

Espere Agora pelo Ano Passado é uma obra complexa, com uma boa dezena de páginas iniciais bem lenta e um pouco confusas para leitores menos atentos. É um livro difícil de fisgar nossa atenção e curiosidade logo de cara, e somente depois que vamos desvendando todas as engrenagens que compõe a trama é que nos envolvemos de verdade com a história. O problema é que isso demora a acontecer. PKD não facilita nada ao leitor e a atenção deve ser redobrada, o que fez desse um dos livros mais difíceis que já li e que exigiu persistência para mergulhar fundo na narrativa. Aos que, como eu, vencerem essas barreiras, vão encontrar uma trama construída em cima de toda a genialidade que caracterizam o autor.

Avaliação: 3 Estrelas

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O Tempo Desconjuntado

O Autor: Philip K. Dick, também conhecido pelas iniciais PKD, foi um escritor americano de ficção científica que alterou profundamente este gênero literário. Apesar de ter tido pouco reconhecimento em vida, a adaptação de várias das suas novelas ao cinema acabou por tornar a sua obra conhecida de um vasto público, sendo aclamado tanto pelo público como pela crítica e tornando-se um ícone da contracultura.

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Jornalista e aprendiz de serial killer. Assumidamente um bookaholic, é fã do mestre Stephen King e da literatura de horror e terror. Entre os gêneros e autores preferidos estão ficção científica, suspense, romance histórico, John Grisham, Robin Cook, Bernard Cornwell, Isaac Asimov, Philip K. Dick, Saramago, Vargas Llosa, e etc. infinitas…

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