Sinopse Companhia das Letras: Narra a insurreição dos animais de uma granja contra seus donos. Progressivamente, porém, a revolução degenera numa tirania ainda mais opressiva que a dos humanos. Escrita em plena Segunda Guerra Mundial e publicada em 1945 depois de ter sido rejeitada por várias editoras, essa pequena narrativa causou desconforto ao satirizar ferozmente a ditadura stalinista numa época em que os soviéticos ainda eram aliados do Ocidente na luta contra o eixo nazifascista. (Resenha: A Revolução dos Bichos – George Orwell)

“Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais que os outros”

Opinião: Engraçado como uma sátira política escrita em tons de fábula permanece atual e envolvente mesmo mais de setenta anos após sua publicação, levando-se em conta que muito do que se esconde por trás dessa história já ruiu e perdeu seu encantamento no mundo. Isso mostra como a genialidade de George Orwell é capaz de se sobrepor às mudanças da sociedade e se perpetuar ora satirizando de forma a denunciar, ora soando profético ao praticamente prever formas de vigilância e alertar para os perigos por trás dos olhos que tudo veem.

Clássico incontestável do século XX, A Revolução dos Bichos é um desses livros praticamente de leitura obrigatória para qualquer pessoa. Pequeno, de linguagem ágil e envolvente, o livro é para ser lido de uma só vez e tem uma imensa capacidade de mexer com nosso pensamento. Em suma é uma daquelas obras que nos fazem parar para pensar. E não só pensar em toda a sátira ao regime stalinista, mas também a alguns pequenos pontos que poderiam muito bem se aplicar à nossa sociedade contemporânea.

A fábula satírica de A Revolução dos Bichos é transformar uma fazenda num microcosmo do funcionamento do regime soviético. Cansados da exploração perpetrada pelo fazendeiro, os animais, sob a liderança dos porcos, decidem tomar o poder e estabelecer um regime praticamente socialista onde a propriedade passou a ser de todos, e toda a produção seria dividida igualmente. Mas como nem tudo são flores, os porcos vão lentamente assumindo o controle, manipulando informações, e transformando a sociedade igualitária em uma ditadura impiedosa. Por fim, fica difícil aos observadores distinguir diferenças entre homens e porcos.

Publicado em 1945, ano do fim da II Guerra Mundial, A Revolução dos Bichos trazia uma temática ainda complicada de ser assimilada pelas pessoas. O regime ditatorial sangrento de Stálin (no livro representado pelo porco Napoleão) ainda não era classificado assim pelo mundo em geral. Para se ter uma ideia, basta lembrarmos que até poucos anos atrás partidos de esquerda aqui no Brasil ainda se recusavam a reconhecer Stálin como sendo um ditador. Imaginem, portanto, o rebuliço de uma história como essas com a URSS ainda em pleno vapor.

A inteligência da história é de uma singularidade única na literatura. Orwell conseguiu reproduzir perfeitamente o comportamento humano colocando-o no mundo animal. No fundo, o livro não só critica a realidade por trás do regime socialista, como também mostra que as pessoas são facilmente modificadas quanto detém ou acumulam poder. As boas intenções de uma sociedade justa e igualitária perdem facilmente espaço quando a ambição, algo da natureza humana, mostra suas garras.

A fábula da URSS no livro tanto serve para ditaduras modernas e vizinhas nossas, quanto para situações corriqueiras que qualquer país está sujeito a viver. Exemplo? Os animais, no livro, são facilmente manipulados com dados, números e discursos que sempre reforçam a ideia de que tudo está melhor do que no regime anterior. Mesmo com a sensação de que há algo errado, a falta de consciência faz com que os bichos acreditem que não importa o que esteja acontecendo, ainda assim é melhor do que o anterior ou outra solução. É uma alternativa bastante utilizada para, através da manipulação, garantir o perpetuamento no poder.

Infelizmente fadado a estar sempre atual em suas entrelinhas, A Revolução dos Bichos é uma obra para reflexão. Muito pode ser aprendido por meio de sua leitura, inclusive para nos empurrar na conscientização de nosso papel social perante os governos. Afinal, porcos também existem nas democracias, inclusive na brasileira.

Avaliação: 5 Estrelas

 

O Autor: George Orwell Pseudônimo de Eric Arthur Blair, nasceu em 1903, na Índia, onde seu pai trabalhava para o império britânico, e estudou em colégios tradicionais da Inglaterra. Jornalista, crítico e romancista, é um dos mais influentes escritores do século XX, famoso pela publicação dos romances A revolução dos bichos (1945) e 1984 (1949). Morreu de tuberculose em 1950.

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