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Resenha: O Colecionador – John Fowles

Sinopse DarkSide: A história de Frederick Clegg, um homem solitário com um plano para conquistar o grande amor de sua vida. “O Colecionador” também é a história de Miranda Gray, sequestrada por um maníaco que acha que pode obrigá-la a se apaixonar por ele. Dois narradores antagônicos, sequestrador e vítima, brilham no romance de John Fowles. (Resenha: O Colecionador – John Fowles)

Opinião: Outra das obras que funcionam como divisor de águas e dá novos rumos ao suspense psicológico, O Colecionador é um daqueles livros sem meio termo. Com uma narrativa que vai do envolvente ao detalhamento excessivo, ele pode conquistar ou afastar leitores na mesma intensidade. Impossível, porém, terminar sua leitura sem ser afetado por seu desfecho frio, cru, pesado e chocante.

Obra de estreia de John Fowles, O Colecionador é um passeio pela mente de dois personagens distintos e que se antagonizam na história. Vilão e mocinha são desnudados em toda sua essência. Despidos das máscaras e sociais, eles se revelam aos leitores em uma narrativa única na literatura. De um lado, Clegg, o tímido e desajustado que, numa evolução de loucura e psicopatia, busca conquistar à força a garota por quem é apaixonado. De outro, Miranda, a vítima que sofre, mas que é dotada de uma personalidade esnobe, com senso de superioridade e que se vê às voltas com o inusitado de um cativeiro.

Colocando os dois personagens como narradores e levando aos leitores os pontos de vista de cada um sobre as diversas situações que marcam seu convívio, Fowles mergulha no psicológico para produzir um retrato de dois seres humanos com todas as suas qualidades e defeitos, loucuras e devaneios, crueldades e inocências. Embora desde o início fique bem claro quem pertence a qual “lado da força” (bem x mal), os comportamentos e atitudes variam tanto ao sabor dos acontecimentos que a sensação é de que nenhum dos dois personagens é totalmente confiável.

A obsessão de Clegg, que evolui do endeusamento à sua amada ao ódio sem limites, constitui os trechos mais interessantes, envolventes e empolgantes do livro. As sequências finais nos arrebatam de tal forma que é impossível parar a leitura até nos saciarmos com o auge de sua psicopatia. É um dos personagens mais intrigantes e bem construídos da literatura de suspense, e certamente evidencia as maiores qualidades não só do livro, mas também de criação do autor.

Miranda é a jovem inocente, a vítima que vai se revelar através de um diário. Sua leitura nos mostra o conflito de sentimentos e emoções de quem se vê privado da liberdade e nas mãos de um louco que a idolatra. Seu sofrimento não é o da agressão física, mas do emocional, do psicológico. Contudo, ela também se revela uma garota mimada. Algumas de suas observações soam superiores, num nível de divisão de classes e intelecto. Embora esteja nas mãos de Clegg, ela também o despreza por ele não apreciar a literatura, as artes, a cultura em geral.

O embate entre essas duas personalidades é a essência de O Colecionador. Um livro muito mais de personagens do que de história. Essa qualidade também acaba sendo seu calcanhar de Aquiles já que boa parte da narrativa, principalmente a que se concentra no diário de Miranda, é lenta, com passagens pouco envolventes e recordações e lembranças que facilmente afastam a atenção do leitor.

Dotado de raríssima ação, O Colecionador certamente vai frustrar as expectativas de quem espera algo eletrizante ou de quem confundiu a obra como sendo de terror. Há horror aqui sim, mas daquele que mexe com nossa mente, que dispensa recursos sobrenaturais porque tem nas atitudes humanas seu maior combustível. Afinal, os loucos “não são loucos na maior parte do tempo”, e é assim que eles nos surpreendem.

Avaliação: 5 Estrelas

 

O Autor: John Fowles nasceu na Inglaterra em 1926. Foi um escritor e novelista que trabalhou como professor até a publicação de seu primeiro romance, “O Colecionador”, em 1963. Suas obras são consideradas singulares por muitos críticos, pois traçam uma ponte entre a literatura moderna e pós-moderna. O trabalho de Fowles recebeu influência decisiva de Albert Camus e Jean-Paul Sartre. Faleceu em novembro de 2005.

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